Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

O INSUPERÁVEL NEY SUASSUNA (Final)

Publicado em 9 de novembro de 2023

O então prefeito de Campina Grande, Cássio Cunha Lima, após sua reeleição (2000) eliminou toda a oposição local – vitória esmagadora – alcançando 88% dos votos válidos. Lançou-se imediatamente como candidato ao Governo do Estado. José Maranhão, reeleito em 1998, teria que se licenciar no ano seguinte (2002) para disputar uma das duas vagas para o Senado Federal. Escolheria um nome de sua confiança para sucedê-lo. Seu vice, o “disciplinado” Roberto Paulino, não figurava na lista. Assumiria de “direito” a titularidade do cargo, mas, de “fato”, Maranhão continuaria governando.

Neste interregno, Ney Suassuna tinha se tornado uma grande estrela, cintilante na constelação política nacional. Seu gabinete em Brasília era uma festa. Diariamente lotado de prefeitos, deputados estaduais, federais – de vários Estados – e da Paraíba, só faltava Luís Couto. O saudoso Wilson Braga, era o primeiro a chegar. Wellington Roberto e vários outros, já tomavam o café da manhã no apartamento de Ney, que morava só.

Os tempos eram outros, diferentes dos dias atuais. Emendas Parlamentares individuais, de bancadas ou coletivas, eram recursos contingenciados no OGU – Orçamento Geral da União. O limite estabelecido para cada deputado foi fixado em 1 milhão e 600 mil reais por ano. Hoje, 30 milhões e impositivas.

Centenas de parlamentares, durante seus quatro anos de mandato, com esforço hercúleo, liberavam no máximo 1/3 destes recursos alocados. Mesmo assim, apenas em ocasiões de votações polêmicas, de interesse do governo. Em seu desfavor, tinham ainda que vencer uma burocracia infernal, com regras e normas absurdas, exigidas pelos Ministérios. Ney Suassuna, como trator, “atropelava” todo este “entulho”. Ligação direta com o Palácio do Planalto, liberava as emendas de seus colegas, não só da Paraíba, mas de diversos outros estados.

As bases do Estado da Paraíba, a partir de vereadores, passando pelos prefeitos, parlamentares estaduais/federais lançaram Ney para suceder Maranhão. A iniciativa não foi de Maranhão. Ele foi puxado pela onda. Mas, se limitava a sinalizar gestos, que concordava. A Paraíba dependia também de Ney, para liberar dezenas de convênios com o governo federal. Maranhão mantinha uma postura de oposição ao presidente tucano FHC, apoiado por Cunha Lima. Seu contato com o Planalto era formal.

Quinzenalmente, Ney vinha à Paraíba. A festa começava no Aeroporto João Suassuna, com dezenas de figuras o aguardando. Bispo Júlio Paiva o entrevistava ao vivo, linha direta com a Tambaú FM, ao lado de outros repórteres. Até Didi do jogo do Bicho de Campina Grande, carregando uma obesidade acima dos 100 kg, ia receber Ney no Aeroporto. Estes eventos incomodavam a bajulação palaciana, que explorava a vaidade de Maranhão. Nos dias que Ney permanecia em João Pessoa, só as moscas e pernilongos frequentavam a Granja Santana. Justificável: para entrar na granja, passava-se pela seletiva guarita. Se conseguisse a liberação de entrar, o “chá de cadeira” nunca era inferior a três horas, para receber um “não”, ou promessa futura, às vezes vazias.

Ney, atendia a todos coletivamente. Assuntos que não podiam ser expostos aos presentes, um “cochicho” rápido, num canto de sala, resolvia a demanda. Agia assim no seu gabinete do Senado, Liderança do PMDB, Ministério da Integração Nacional, seu apartamento em Brasília e no Edifício José Primo em João Pessoa. O oposto de Maranhão. Três minutos eram suficientes para o “sim”. Dificilmente um “não”. Saudoso amigo Toinho Cabral foi o primeiro a chamar nossa atenção sobre a candidatura de Ney ao Governo do Estado.

Não confiava em Maranhão, e na sua visão Ney deveria permanecer no Ministério até o final do governo FHC. Era novo, tinha tempo, consolidaria seu nome como a maior liderança política do Estado, e seria governador na oportunidade certa, sem adversários. A leitura de Toinho estava correta.

No dia 03/04/2002, Ney Suassuna renunciou ao Ministério da Integração Nacional, desincompatibilizando-se para disputar o governo do Estado da Paraíba. Maranhão não fez a festa para recebê-lo como seu sucessor. Pelo contrário, começou a distanciar-se. Esquivou-se da mídia, evitando apresentá-lo como seu candidato. O objetivo doravante era “desidrata-lo”. Mudou a rotina da Granja Santana, que ao invés de “barrar”, convidava as lideranças para despacharem com o governador. Ney percebeu que mais uma vez tudo terminaria saindo do seu bolso, e com valores superestimados. Cansou. Era hora de desistir, e salvar seus negócios no mundo empresarial.

Sem mágoas, rancor, experimentando o desconforto dolorido da traição, e a amargura da ingratidão, abdicou de sua postulação. Para Cássio Cunha Lima, foi o milagre esperado, capaz de torná-lo competitivo.

O “se” como conjecturas… “Se” Ney decidisse ser candidato, mesmo sem o apoio e empenho de Maranhão, Cássio não teria sido governador. Wilson Braga e Efraim Morais não abandonariam Ney. Maranhão só foi governador porque Ney elegeu Mariz. Mariz só foi Senador porque Ney foi o suplente, “trem pagador”. Maranhão não voltaria à Câmara em 1994, havia perdido redutos para Cássio. O partido para prestigiá-lo o pôs como vice. Mas, o dinheiro, quem gastou foi Ney, para assumir a vaga de Mariz no Senado.

Ney elegeu Veneziano Vital do Rêgo, prefeito de Campina Grande. Sonho de Argemiro, de seu avô e de seu pai, derrotado duas vezes.

O caixa de Ricardo Coutinho para derrotar Ruy Carneiro, Cássio e Cícero Lucena, saiu da algibeira de Ney Suassuna.

Ney renovou toda a classe política do Estado. Veneziano em Campina Grande, Ricardo Coutinho em João Pessoa, Maranhão – vice de Mariz – governador por oito anos… Sua última conquista (solitária) foi em 2018, quando no dia 19/09/2018, aceitou ser o primeiro suplente de Veneziano Vital do Rêgo, candidato ao Senado Federal. Estava derrotado. Amanhecia o dia na Granja Santana, colado em Ricardo Coutinho, impedindo-o de pedir o voto preferencial para Luís Couto. Veneziano ficava 24 horas na guarita da Granja. Se relaxasse, Ricardo mandava votar em Luís Couto. A partir do dia 19/09/2018, quando Ney se registrou como seu suplente, Veneziano desapareceu da Granja e até dos comícios de Ricardo/João Azevedo. Ney montou sua agenda, e sua rotina se resumia a procurar as lideranças indicadas por ele. Elegeu Veneziano Senador, hoje vice-presidente do Senado Federal.