Amaro Pinto
Advogado, Cronista, Articulista paraibano. Fascinado, humilde e curioso aprendiz do Direito, Literatura, Teologia e Filosofia. Avante – sempre – porque somente DEUS é grande.
O FLUIR DA IMPERMANÊNCIA.
Publicado em 5 de abril de 2024Iria enveredar meu porfiar de linhas no lombo dos abjetos arrivistas – mas em breve a eles volverei – logo e a tempo certo.
A impermanência é um desses fenômenos naturais que se contrapõem em nossa existência, traduzindo sentimentos díspares e também siameses, porque ainda não aprendemos, com o decorrer dos milênios, que nada somos, apenas estamos e o minuto seguinte pertence ao Criador, na ensinança perfeita de Paulo, Apóstolo de Cristo, em uma de suas divinais Epístolas.
Nascemos com um destino certo, cujo final até agora é o mesmo a todos nós, a morte – a qual, por sua vez ao valer e levar a humanidade à roda grande, deve ser boa, do contrário somente os que vivem nos faustos do poder transitório viveriam para sempre deitados nos banquetes, bacanais e banhos de uísque azul – enquanto nós outros seguiríamos carregados em urnas simples ao silencio invencível do sepulcro.
No entanto, antes que lá cheguemos, tudo aqui vai mudando a cada segundo, as coisas, circunstâncias e momentos se transmudam sem que sequer percebamos, a realidade se transformando em tudo que nos faz viver e ser viventes, pessoas entram e saem de nossas vidas, algumas levadas pela magrela de foice na mão, outras porque não fazem sentido em vivenciar conosco, amores, saudade, bens incorpóreos e materiais, amores findos e nascentes, parentes que se afastam, ou deles nos afastamos, estradas, becos e
caminhos que vamos alternando e mudando no fluir inexorável de que nada é definitivo – exceto a certeza do fim – até agora.
Isso é a impermanência.
Penso que sem ela seríamos fantoches de si mesmos, ceguetas de uma finitude que os olhos teimosos e tementes – alguns apavorados até – teimam em não querer deslindar, cujo véu sobre eles posto leva à escuridão da Caverna.
Aliás, há um dos princípios fabulosos dos Alquimistas asseverando que “Ver bem não é ver tudo – mas ver o que os outros não veem” – e isso é uma daquelas verdades indisputáveis que nem a inexorabilidade da Dialética conseguem contrapor – razão da fortaleza de seu conceito fundamental e imanente.
Freud, Baruch Espinosa, Einstein – até Agostinho se debruçaram amiúde e de modo profundo sobre a impermanência, e todos, com a sapiência que lhes é mãe – concluíram, tal como Saramago, mais recentemente – que a mudança da natureza das coisas é essencial não somente como forma de assegurar a sobrevivência humana, sobretudo como catapulta a que possamos enfrentar (e vencer) os vezos do cotidiano e superá-los, seja com fé em Deus, em si mesmo, na Lua, em Maomé, Antônio Conselheiro, Santo Daime ou num toco de pau, enfim, em algo que nos faça impelir a fortalecer-nos em nossas fraquezas e seguir em frente, vencendo os obstáculos do caminho com perseverança e determinação.
De outro lado, importante saber que a impermanência não somente traz situações ou estados, digamos, desagradáveis; ao invés – as mais das vezes são luzes que norteiam o caminhar, nos livrando da nocividade de platelmintos e sicofantas que pululam em derredor do viver, de seres sanguessugas, verdadeiros vampiros de energias puras – daí porque iniciei por referir-me aos arrivistas, aos quais, como dito, voltarei e com força total, porquanto causam-me asco e repugnância de regurgitar metragens intestinais.
Portanto, vamos nos desapegar e ter a consciência de nossa inerente fragilidade humana, o futuro a Deus pertence e buscar que, no dizer de Orígenes “a vida é uma longa lição de humildade” – sem, no entanto, sejamos subservientes, capachos, servis, aúlicos, sicários e ….Arrivistas.
E viva a impermanência.
Gratidão.
Avante porque somente Deus é grande.
Amaro Pinto, 06 de abril de 2024.