Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

O fim da mesmice… E o resto é palha!

Publicado em 8 de junho de 2023

Eu sempre evitei ir ao Parque do Povo nos dias de abertura e de encerramento d’O Maior São João do Mundo. A exceção se dava nos anos em que estive exercendo mandato de Vereador da cidade e naqueles quando a nossa empresa editou a Folha Junina.

Motivo: fugir da multidão que acorre ao local nesses dias.

Prefiro, ainda agora, visitar a arena do nosso São João em meios de semana e em começo das noites, que dá para andar mais à vontade e apreciar em plenitude a beleza do grandioso festejo que neste ano comemora sua quadragésima edição.

Mas essa resistência foi quebrada na noite de abertura deste ano, ante a insistência da madame e do netinho número 12, nossa mais nova revelação de forrozeiro nato.

Fui, sim senhor, ver o primeiro dia d’O Maior São João do Mundo 2023!

Deram-me a garantia de voltar para casa no mais tardar às oito da noite, mas a promessa não foi concretizada; e quando me estirei na cama já era o dia dois da festa.

O bom de tudo é que eu não me arrependi…

Óbvio que o esqueleto já meio ajambrado desses meus bem vividos 70 anos não se atreveu a rodopiar nas palhoças aonde o forró genuinamente pé-de-serra ainda teima em resistir, o que não chega a ser nenhuma novidade, uma vez que eu NUNCA aprendi a dançar – nem forró, nem valsa, nem tango, nem nada!

Voltei feliz, orgulhoso e agradecido.

Feliz, por ser filho de Campina Grande e continuar apaixonadíssimo por ela, apesar do tratamento que recebo – de enteado!

Orgulhoso, porque nossa gente – meus irmãos – é ‘tampa’ de verdade!

E agradecido, por ter e ver um prefeito jovem ousar pra lá da conta e reinventar a festa, rejuvenescendo-a e atualizando-a sem dar ouvidos aos quiproquós, mexericos, queixas insossas e outras picuinhas bem comuns da época e que nada constroem!

Conheço a festa desde o seu nascedouro, ainda nos ‘coqueiros de Zé Rodrigues’, o pai de Glória Cunha Lima. Dos tempos em que voltava para casa com lama e barro da canela pra cima, mas maneiro, alegre e muito satisfeito.

E fiz também a minha parte para a solidez e crescimento d’O Maior São João do Mundo. Aliás, eu, Mica, Shaolin, Narriman Rozendo e Mendonça, Socorro Palitó, Marcelo Marcos, Toinho Ratoeira e mais uma meia dúzia de abnegados profissionais que integravam a nossa equipe na edição da Folha Junina, o jornal oficial do evento que criamos e fizemos circular por quatro anos consecutivos propagando o nome do nosso São João mundo afora, pois os turistas levavam a folha na bagagem para não esquecerem a grandiosidade do nosso arrasta-pé.

E não somente por isso, posso falar sobre a festa com a autoridade de poucos!

O Maior São João do Mundo passou por imensas adversidades, mas sua chama nunca apagou. Teve até o São João do candeeiro, quando a crise energética impedia o uso da eletricidade sem controle e os nossos criativos barraqueiros se viraram nos trinta, inovando com o típico instrumento nordestino para não deixar às escuras o forró e a satisfação de nativos e visitantes.

Mas, a festa ano após ano vinha se mantendo a mesma coisa, apegada às varas de cercas, às lonas de caminhão para cobertura das barracas, aos palhoções ornamentados com tijolos manuais, barro e madeira, às bandeirolas de plástico e a uma velhacaria de material e de costumes que os “entendidos” vendiam como ‘tradição nordestina”.

O resultado era sempre aquilo que a gente se obrigava a ver: um Parque do Povo opaco e sem criatividade… Faltando brilho, cores vivas e um lay-out futurista que pudesse acompanhar o crescer das gerações!

E foi exatamente isso o que os meus olhos encontraram no São João deste ano: o fim irremediável do mau gosto e da mesmice! Aliás, com um atraso injustificável, até porque turista nenhum vem aqui só para conhecer panela de barro, pote d’água, penico de ágata, cerca de varas, chapéus de palha ou de couro, candeeiros, arupembas; também não chega só para comer buchada de bode, picado de porco, pamonha e canjica.

Quem vem de São Paulo e Rio de Janeiro, da Europa ou Estados Unidos, do Sul e do Norte, quer ver isso sim, mas não em dose cavalar… O visitante que vem aqui gastar seus reais, dólares ou euros também quer luxo e conforto, que é isso que ele encontra mundo afora nas grandes festas – desde a tourada em Madri ao Oktoberfest em Blumenau…

O tempo do visitante é curto e, para ver – e saborear – coisas genuinamente regionais temos a Casa de Cumpade e a Casa de Mãe, o Sítio São João, a Vila Forró, o ‘mei’ do mato de Galante, Manoel da Carne de Sol, a ainda desorganizada feira central. Porque o Parque do Povo precisa, como ‘carro-chefe’, ser o point do turismo, o chama de tudo, o ponto nobre onde a festa aparece mais viva e duradoura.

Por isso, não tem que ficar parada no tempo que nem poste de ferro enferrujando na beira da estação esperando a Maria Fumaça que não vem mais.

Precisou que o prefeito Bruno Cunha Lima tirasse a ‘remela’ dos olhos e fosse buscar meninos do Ceará, como fez para o projeto da nova futura feira central, para com eles dar roupagem nova ao epicentro d’O Maior São João do Mundo, retirando de lá o mofo e o breu que não condizem com o tempo de agora do evento.

Luzes de led no lugar das de mercúrio que mais amarelavam do que clareavam a área; aço inox e alumínio como esquadrias substituindo varas, caibros e linhas de maçaranduba; telhas ecológicas onde estavam as pesadas, de barro; e tudo o mais de material que o modernismo, em nome inclusive da segurança, autoriza edificar.

O repaginamento do parque, com olhos da boa arquitetura e do melhor bom gosto, tem agradado gregos e troianos, ou seja, os de casa e os de fora. Só quem critica a beleza monumental deste ano da festa é míope, cego total, ou inimigo gratuito do alcaide. De adolescente a ancião, pobre ou rico, não ouvi ainda ninguém de bom juízo falando mal da decoração nem do planejamento que rearranjou o espaço.

Aquilo lá está mais do que magnífico. De encher os olhos de todo mundo, de realmente mais ainda orgulhar a todos nós, filhos de Campina Grande.

O novo olhar da equipe da Arte Produções merece parabéns e mil encômios, não me interessando discorrer sobre valores nem sobre compromissos firmados entre Poder Público e iniciativa privada. A mim, e acredito que a todo campinense que briga por esta terra, o que importa é aplaudir o novo São João que ressurge das cinzas de uma fogueira de madeira podre que vinha sendo mal acesa e mal gerida.

E o resto, lembrando o querido Biu do Violão, é palha.