Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
O EMPRÉSTIMO DE BRUNO
Publicado em 3 de abril de 2023De repente, todos os holofotes da mídia local e estadual despejaram suas luzes sobre a Casa Félix Araújo – Câmara Municipal de Campina Grande – onde o povo começou a enxergar seus atuais representantes. Figuras opacas e sombrias, sem brilhos, que “vampirescamente” ora compõem a mais “escura” de todas as legislaturas da sua história. O motivo do alarde? Pedido de autorização do prefeito Bruno Cunha Lima ao Poder Legislativo, para contrair um empréstimo no valor de 52 milhões de dólares.
O prefeito Bruno Cunha Lima, durante três anos ininterruptos, não experimentou o “xarope amargo” de uma oposição barulhenta com cobranças às vezes até abusivas, pautas bombas e insistentes pedidos de investigações sobre sua gestão. Lidou sem grandes preocupações com algumas exigências soltas ou perdidas, fora do alcance da tela do radar da população e formadores de opinião. Mesmo atravessando uma eleição para governo, presidente e parlamento, voou até agora em céu de Brigadeiro.
É difícil saber a medida exata, ou a dosagem necessária, sobre o equilíbrio entre as críticas (indispensáveis) que provocam reações do elogio alucinante. Governar sem oposição é confortável. Entretanto, para se manter no meio político é imperioso despertar paixões. Como bem avultou o genial Nelson Rodrigues “toda unanimidade é burra”. Tivemos um exemplo histórico desta assertiva: Ivan Bichara Sobreira.
Dr. Ivan Bichara tinha sido deputado estadual no início da década dos anos cinquenta. Homem culto, bom, honrado e distante da mesquinhez político/partidária. Desde o início dos anos sessenta residia no Rio de Janeiro. Era Secretário da Associação Comercial, casado com a sobrinha preferida do ex-ministro José Américo de Almeida. Teve seu nome indicado para suceder Ernany Sátiro, a pedido do General Reynaldo Almeida, Comandante do 1º Exército, e Militar mais respeitado daquele momento.
Filho do ministro José Américo, General Reynaldo foi indicado pelas Forças Armadas para suceder Médici. Declinou do convite e indicou seu amigo Orlando Geisel, que não aceitou, por se considerar já velho para a tarefa. Mas, sugeriu seu irmão Ernesto, que apesar de não ter o “perfil consensual” obteve o apoio e empenho do General Reynaldo – orientado por seu pai – costurou nos bastidores, entre os comandantes das três forças e o EMFA, o nome de Ernesto.
Durante os quatro anos da gestão Ivan Bichara Sobreira ele não conseguiu suplantar o colossal programa de obras e ações deixadas por Ernany Sátiro. Era distinguido como um vulto distante, uma pessoa simples e acessível, poupado de críticas, convivendo pacificamente com uma oposição silenciosa.
Não fez grandes obras, porque durante seu governo foi obrigado a pagar todas as contas deixadas pelo antecessor, sem nunca ter “resmungado” da herança maldita recebida. Um argumento que, se usado, justificaria seu baixo desempenho. Licenciou-se, foi disputar o Senado, e para surpresa da Paraíba perdeu para as sublegendas do MDB. Foi mais sufragado que Humberto Lucena. Mas, os votos de Ari Ribeiro (52 mil) no entorno de Campina Grande, e João Bosco Braga Barreto (mais 30 mil), levaram-no à derrota. Acontecimento incomum na história política do País, e até então da Paraíba.
Alguém despertou Bruno – para não repetir o erro do Dr. Ivan Bichara – fazendo-lhes enxergar que sua gestão tem se resumido em pagar as contas deixadas por Romero Rodrigues, o compromisso de manter a velha equipe militante, e concluir as obras por ele iniciadas. Subliminarmente, para a população Romero é um prefeito em férias. Não existem “siameses” na vida pública. Só um ambicioso programa para transformar a cidade num canteiro de obras até 03/10/2024 é capaz de reverter este quadro de expectativas. Uma ação que ensejará Bruno a granjear notoriedade, produzir um discurso com argumentos que convença o povo da imperativa necessidade de seu continuísmo, tornando-se indispensável para a continuidade do desenvolvimento da cidade. O empréstimo divide opiniões, e cria um discurso de sobrevivência para a oposição.