Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
O dia em que os filhos capinaram meu bigode
Publicado em 9 de agosto de 2024Se todo filho seguisse Jesus no seu ensinamento de “fazer a vontade do Pai, que está nos Céus”, fazendo também a vontade do pai, que está na terra, o mundo seria bem melhor. Isso em observação às palavras de Cristo no Capítulo 11, versículos de 11 a 13 do Evangelho de Lucas: “Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos filhos…”.
A realidade dos dias de hoje é que o pai faz mais a vontade do filho do que o filho a vontade do pai. Não que eu seja opositor inflexível à satisfação do talante filial. Concordo até, desde que seja consumado nos limites necessários e dentro das condições e necessidades paternas.
“O que um pai não faz por um filho?”, pergunta que se escuta muito nas conversas familiares ou entre amigos. Pelo menos em duas oportunidades eu fiz a vontade dos filhos e não me arrependi. Quando resolvi praticar academia, depois de anos de resistência aos apelos filiais, e quando suspeitei, de repente, de que eles teriam a vontade implícita de me ver sem bigode.
Passei 27 anos usando bigode. Desses, uns cinco ou mais querendo tirá-lo. Fiz várias tentativas, mas, cadê coragem? Espumava-o, colocava o aparelho na posição de raspagem e na hora de movê-lo, a mão afrouxava. Quando eu fiz 50 anos, disse para mim mesmo, é agora. Acovardei-me.
Dois anos depois, no Dia dos Pais, após trabalhar duramente até meio-dia, fui tomar banho e fazer a barba. O desejo de me ver sem bigode aflorou. Novamente todo processo, o aparelho na posição, a lâmina pronta para a capinação superior labial. Acovardei-me de novo. Ah, quando me lembrei que meus filhos nunca me viram sem bigode, após incontáveis minutos diante do espelho, o golpe da inoxidável foi inexorável. Em segundos, perdi o charme e o respeito.