Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
O DESENCANTO DE FERNANDO HADDAD
Publicado em 18 de abril de 2024Nos últimos três meses, o ministro Fernando Haddad não tem escondido sua tristeza, sinais de cansaço, insatisfação e desencanto, diante dos desafios que lhes impõe a pasta que assumiu no governo Lula III. A percepção de impotência para realizar seu trabalho e lidar com a ignorância econômica do seu partido (PT), conter a gula insaciável do Congresso Nacional, endossar um discurso desconexo e eleitoreiro do seu presidente – além das intromissões descabidas do Poder Judiciário – são motivos suficientes para “pegar o boné” e passar a “batata quente” para outro. Porém, desistir agora sugere incompetência. Ficar, é tentar salvar um barco com avarias até a praia.
Fernando Haddad é um bom caráter. Um dos últimos “moicanos” do PT socialista/trabalhista, criado há 40 anos. Ainda permanece na legenda, como o diabo está no credo. Não é agressivo, invasivo, e busca o diálogo sabendo que tem que fazer concessões, para encontrar um caminho que permita a convergência. Um milagre! Como atender e satisfazer os interesses das esquerdas socialistas, e da direita liberal?
Obteve êxitos – demonstrando humildade de aprendiz – dialogando. Conseguiu aprovar em 2023, no Congresso Nacional, medidas enxergadas como “pecaminosas” pelo “globalismo”. Aumentar impostos e taxações sobre o grande capital foi seu maior triunfo. Com talento e sensibilidade, conseguiu enxergar a força do “monetarismo”, sistema único e universal, rígido e transparente. Não existem meios de enganá-lo com promessas, desculpas ou índices domésticos fictícios “fabricados”. Os maiores e melhores economistas do mundo estão nos grandes conglomerados do grande capital transnacional. Nenhum Prêmio Nobel da Economia é, ou foi, ministro de finanças de nenhum País do primeiro mundo. São empregados dos grandes financistas.
Em suas últimas declarações – passaram despercebidas – Haddad desabafou: “Há dez anos o Brasil não tem superávit primário”. Em outras palavras, não conseguiu gastar menos do que arrecada”. Quando fala em dez anos, chega ao governo Dilma Rousseff. Parou de atacar o Banco Central quando identificou que o erro não está na instituição. Mas, em um governo que – fazendo analogia a um cidadão comum – usa o cheque especial sem a menor garantia que terá uma renda extra para cobri-lo. Paga juros altos, e chegará o momento de ultrapassar o limite. O Banco cortará o crédito.
No último dia 16/04/2024, na “Reunião Anual da Primavera” realizada pelo FMI, Haddad fez um discurso “mea-culpa” quando a instituição que controla a moeda do mundo (dólar) mostrou-lhes que suas instituições “domésticas” estavam o enganando. O Brasil em 2024 terá um déficit de 0,6%, em 2025 e 2026 permanecerá negativo. Só em 2027 poderá apresentar um superávit primário de 0,25%. Com uma ressalva: se o ministro conseguir manter sua política de austeridade, o Congresso aumentar a segurança jurídica e consolidar a segurança política.
Tardiamente, hoje Haddad reconhece que o seu maior erro foi admitir a PEC DA TRANSIÇÃO. Contrair um débito de 230 bilhões de reais sem ter a menor perspectiva de cobrir este rombo. E o Congresso, irresponsável e ávido por dinheiro, derrubou a Lei do Teto de Gastos. O problema não era seu. Tirou proveitos da operação. Sabia que estavam errados. Mas, não seriam culpados pelos danos.
Quem responderia? Lula, que é o Presidente. E Lula transferiria a culpa para quem? Ministério da Fazenda, que por sua vez “satanizaria” o Banco Central. Fernando Haddad não tem o perfil de mentiroso contumaz. Hoje, aceita a realidade imutável dos fatos.
Tornou-se um inimigo do seu partido, contrariando o Presidente e sua equipe da gastança. Sabe que o Congresso será salvo pelo efeito “teflon”. Impermeável, a gastança e estes desmandos jamais “grudarão” no Parlamento. E quanto ao Brasil, o crescimento será “vegetativo”. Algo semelhante a indexação do salário mínimo. Quando tem um aumento de 5% ou 6%, dia seguinte todos os preços são reajustados nesta ordem. A alternativa de reduzir o Estado e cortar gastos, para um governo populista, é uma decisão absolutamente inaceitável. Lamentavelmente, lá se foram mais quatro anos perdidos.