

Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
O CERCO SOBRE CÍCERO LUCENA
Publicado em 16 de novembro de 2023Uma ampla frente de oposição – dividida – está avançando e cercando o território dominado pelo prefeito Cícero Lucena, defendido por um exército numericamente inferior, composto de veteranos, cansados combatentes (lideranças políticas desgastadas) despidos de entusiasmo, afetados pela “fadiga de guerra”.
Nas pesquisas postadas pelos portais de notícias, o prefeito aparece com índices nunca superiores a 33%, tamanho exato da máquina pública. Sua vitória apertada em segundo turno (2020) deveu-se ao recolhimento de Ruy Carneiro – bem avaliado nas classes A, B e C – e o elemento surpresa (apoio) do governador João Azevedo, que aproveitou o ensejo para se afastar em definitivo de seu padrinho político Ricardo Coutinho. Repetiu-se o fenômeno da “criatura” se voltar contra o seu “criador”, episódio absolutamente previsível e recorrente no meio político.
Um pequeno gesto, ou aceno de Ruy Carneiro em 2020, na direção de Nilvan Ferreira, teria derrotado Cícero. Entretanto, calejado nas disputas pela PMJP, Ruy enxergou exatamente 2024. Se apoiasse Nilvan, o mesmo seria candidato à reeleição, na onda bolsonarista, movimento crescente e forte em 2020. Conhecedor dos limites de Cícero, Ruy previu o fato, que ora está acontecendo. Por que Cícero não fumou o cachimbo da paz com Ruy? Foram tão amigos num passado recente! Vaidade de ambos ou falta de um mediador?
Blogs e portais de notícias registram diariamente movimentações intensas do prefeito da Capital inaugurando obras de pavimentação de ruas, desenvolvendo programas avançados nas áreas da saúde e educação; recebendo recursos vultuosos de emendas parlamentares, mas esquecendo de buscar soluções para o principal problema do crescimento desordenado da Capital: mobilidade urbana, transportes públicos de qualidade e vias expressas para locomoção automotiva.
O eleitor “qualificado” de Cícero e Ruy habita na Orla, Bancários, Tambauzinho… Por mais que o prefeito invista na periferia “favelada”, nativos desta área se identificam mais com Nilvan Ferreira. Interagem com sua comunicação – originada na Rádio – e seus reclamos veementes, como porta-voz das demandas daqueles que se sentem eternas vítimas do poder público. Esquecidos, abandonados e só lembrados na fervorosa fé professada pela “Salve Rainha” de Nilvan, que os insere como degredados filhos de Eva.
Cícero Lucena teve tempo suficiente para mudar sua postura. Atrair lideranças emergentes, criar canais de diálogos com opositores derrotados; mostrar ao povo (humildemente) sua busca pela união de todos, em nome do bem maior, o eleitor; acolher sugestões de seus ferrenhos opositores, e governar com eles. O altruísmo é construtivo conciliador, oposto do egoísmo, divisor e parturiente de mágoas e rancores.
Cícero nada aprendeu com seu mestre, Ronaldo Cunha Lima. Venceu as eleições municipais de Campina Grande (1982) e seu maior adversário na Câmara Municipal tornou-se líder do seu governo no parlamento mirim campinense. Quando derrotou Wilson Braga (1990), contava com apenas 10 dos 36 deputados estaduais. No final de seu mandato, o quadro estava invertido.
Os números revelam possibilidades de Cícero Lucena alcançar o segundo turno. Mas, quem o apoiará a partir de então? Repetirá 2016? Chegou ao segundo turno, e não conseguiu uma única adesão para fortalecê-lo no embate final da disputa? O mapa eleitoral das urnas – segundo turno de 2022 — mostrou claramente o seu limite, e do governador João Azevedo: 29,7% dos votos válidos na Capital.