Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

O casal mais atraente

Publicado em 6 de setembro de 2024

Não seria hipérbole afirmar que eles formam o casal que mais atrai os olhares de quem cruza esta via de poucas centenas de metros. Pela beleza símile, pela harmonia em cada gesto, em toda ação, em qualquer reação, e pela cumplicidade de seus atos nos momentos que permanecem em frente da casa. Pela singularidade da cor da pele, ímã que alicia todos os transeuntes, independente de sexo, tamanho e faixa etária.

Tor apareceu na rua exibindo certidão que lhe assegura adoção doméstica; Diana veio depois, bem depois, decerto embevecida pela beleza lhe condizente do parceiro. Esta, residente de pouco tempo na via transversal chegou à calçada na companhia disposta a lhe assumir; aquele, antes, aparecera na empresa familiar em Queimadas, expondo no corpo sofrido as marcas do abandono e de quem tem a rua como morada.

Desde então, são vistos sempre juntinhos, na calçada, como de costume, em cidades pequenas do interior. No início, enquanto Diana não aparecia, Tor permanecia solitário no leito da rua, o corpo virado para o lado domiciliar dela, o olhar fixo, sem disfarçar a ansiedade, mas certo de que ela iria surgir, toda faceira, na esquina.

Agora, conforme a modernidade relacional dos tempos, Diana passa dias na casa de Tor. De lá, quando escapam, se expõem na calçada, atentos ao movimento da rua, girando a cabeça em direção a qualquer som captado pela sensibilidade de seus ouvidos. É quando avançam – ele tranquilo, ela bem ousada – contra carros e contra motos. Se outro pet aparecer, ao sinal dela, partem para cima, como que a interpretar a máxima do futebol de que a melhor defesa é o ataque.

Sim, Tor e Diana formam um casal de cães. Se não forem dálmatas, são arraçados dessa linhagem oriunda da região histórica da Dalmácia, na Croácia. Teoricamente, conceberam duas gerações, a última de nove filhotes. Esta, garantem as línguas irreverentes da minha rua, não é dele. Cheguei a conhecer duas dessas crias, elas livram a mãe da culpa.