Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

O AUSCHWITZ DE BRASÍLIA 

Publicado em 10 de janeiro de 2023

As cenas gravadas em vídeos – circulando desde ontem à noite na internet – são imagens chocantes do terror brutal e desumano praticadas pela Polícia do DF, cumprindo ordens do Interventor Federal, nomeado pelo presidente Lula, indicado pelo Ministro da Justiça Flávio Dino. Idosos, pais de famílias, crianças; donas de casa todos algemados e transportados para o Ginásio de Esportes da PF-DF, depois que o QG do Exército acatou uma decisão do Ministro Alexandre de Morais para desocupar a área onde estavam acampados pacificamente manifestantes de todo o Brasil.

Me veio à memória o clássico do cinema “A Lista de Schindler”, dirigido pelo genial cineasta Steven Spielberg, mostrando as “evacuações” dos judeus transportados em trens para o complexo de Campos de Concentração de Auschwitz (Polônia). Idosos, mulheres, crianças…Todos jogados indiscriminadamente em vagões de transportes de gado ou cargas, com o máximo de vítimas possível. Aliás, mesmo com toda crueldade os carrascos nazistas não algemavam seus capturados.

Às 23:30 de ontem (09/01/2023) uma senhora de 77 anos faleceu. Nos áudios e vídeos enviados pelos detentos ficou caracterizado – em tese – que a causa mortis foi hipoglicemia. Estava sem se alimentar desde o momento da detenção (início da tarde) e o mais grave, com sede, pois no local não forneceram água, mesmo com clamores e gritos das vítimas da arbitrariedade, que padeciam de sede. É inconcebível uma terrorista de 77 anos. Isto é tortura e crime. Quem irá responder por este assassinato? O Ministro da Defesa, o Interventor, o Ministro do TSE agindo fora do período eleitoral, ou o Presidente da República por responsabilidade direta do seu ato, quando decretou Intervenção e transferiu poderes para sádicos despreparados?

Onde estava a Comissão dos Direitos Humanos, o Ministro ou Ministra desta pasta no atual governo, que não foi ao local constatar se estava ocorrendo práticas de abusos? Estavam todos ao lado de Lula, visitando os estragos feitos pelos verdadeiros terroristas infiltrados na manifestação. Mandar prender mais de três mil pessoas, desarmadas e sem oferecer resistência? Por que não determinaram apenas que se retirassem do local? Isto é terror. Nem Fidel, no distante 1º de Janeiro de 1959, prendeu tantos, quando suas tropas ocuparam Havana. Jovens advogados hoje pela manhã (10/01/2023) ficaram pasmos quando viram crianças de 03 a 10 anos presas.

Assistindo ontem a CNN, programa WWW com William Waack, percebemos que a equipe – fora da pauta – convidou o ex-ministro Raul Jungmann, que comandou a pasta da Reforma Agrária e Segurança Pública nos governos petistas, e foi Ministro da Defesa do governo Michel Temer. Seu depoimento calou toda a bancada que o entrevistava. Sem rodeios, disse ser impossível uma invasão aos Palácios do Planalto, Alvorada e Jaburu. No subsolo dos três, existe uma guarda permanente com 40 homens treinados e armados até os dentes. Têm comunicação permanente com o QG, e autoridade para pedir reforço até batalhões.

A sede do QG do Exército está a 5,0 km da Praça dos Três Poderes. Alguns disparos de advertência, balas de borracha, gás lacrimogêneo, tinham dispersado os poucos invasores do Palácio do Planalto. A maioria estava no Congresso e no STF. Jungmann sugeriu uma investigação profunda, concordou que os atos foram de terroristas preparados e chegou a insinuar que sem colaboração da segurança do Palácio, nenhum deles teria cruzado a porta principal.

Após o relato, Caio Junqueira deixou escapar um comentário, diante do que acabara de ouvir: “o governo Lula acabou em oito dias”. Seus colegas de bancada, com espanto, o indagaram “como e por que”. Tergiversando ele alegou a pauta e agenda que saíra do planejado depois do evento do domingo.