Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

O “Amigão” precisa de dois gramados

Publicado em 26 de fevereiro de 2025

Acompanhei à distância, na minha adolescência sertaneja, o movimento encetado em Campina Grande pela construção de um estádio de futebol de grande porte e que, certamente, resultou na edificação de dois. Além do “Amigão”, aqui, o “Almeidão” na Capital. Era moda, na época, inaugurar estádios no Nordeste: ao menos sete foram inaugurados na região entre 1969 e 1975.

O movimento local chegou ao auge em 73, após encampado pela imprensa especializada e com o engajamento de profissionais como o narrador Joselito Lucena. Há quem recorde que o tema ganhara a rua antes e fora mote de campanha do ex-jogador Zé Luiz a vereador em 72.

Morando em Patos, para onde me mudara em 71, ouvia, quando conseguia sintonizar, a Rádio Borborema, ou nas férias de julho aqui, a vinheta da campanha, que mexia com os torcedores e começou a inquietar os governantes. “Campina Grande precisa de um estádio”, ecoava, na voz potente de Geraldo Batista pelo Compartimento da Borborema. Era de arrepiar.

O prefeito Evaldo Cruz abraçou a ideia e encomendou a maquete ao arquiteto que projetou o “Mineirão”, em Belo Horizonte. Conta-se que o governador Ernani Sátyro, em visita a Campina Grande, viu a maquete, gostou, e resolveu construir as duas praças esportivas. A prefeitura doou o terreno.

Eu me encontrava no fiteiro de Foguete, em Patos, quando tive a alegria de assistir, via TV, o anúncio oficial de que Campina Grande ganharia um novo estádio de futebol em pouco mais de um ano. Natural de Esperança, Foguete fora jogador, atuou pelo Esporte local e acabou permanecendo na cidade.

Com localização estratégica na esquina das ruas Solon de Lucena e Bossuet Wanderley, o fiteiro de Foguete vizinhava com o caldo de cana de Pedro Correia – juiz de futebol e comentarista de arbitragem. Era, por isso mesmo, ponto de encontro dos desportistas patoenses.

Naquela noite, assistíamos ao jornal da Rede Tupi de Televisão, retransmitido pela TV Rádio Clube de Recife, único sinal de televisão a chegar à região, na época, e que no bloco esportivo contava com os comentários de Ruy Porto. “Agora há pouco recebi um telefonema de Campina Grande, na Paraíba, confirmando que o Governo do Estado vai construir um estádio com capacidade para 45 mil torcedores”, destacou o comentarista.

Quase uma dezena de pessoas viam, de pé, o noticiário, entre elas o radialista Edileuso Franco. “Gastaram tantos Cruzeiros (o valor exato não me recordo) de telefonema para o Rio de Janeiro somente pra dar essa notícia”, pilheriou o narrador da Rádio Espinharas, contendo minha alegria.

O estádio completa cinco décadas no próximo dia oito e sequer foi concluído. No projeto, atrás das traves teria arquibancada. Não mais vejo necessidade de conclusão, a não ser por estética. Pelo número de jogos semanais realizados em seu campo, o “Amigão” precisa, mesmo, é de dois gramados…