

Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
No tempo do “boi quente”
Publicado em 18 de abril de 2025Em passado não tão remoto, era bem mais fácil à turma da carne vivenciar os dias da Semana Santa. Pelo menos três dias praticamente todos os profissionais do setor tinham folga, havendo quem trabalhasse apenas um, nesse período. Esse expediente anual começou a mudar com a chegada dos balcões frigoríficos, que possibilitaram a colocação de uma grande variedade de produtos à venda.
Até meados dos anos 90, a carne consumida em Campina Grande era totalmente do “boi quente”, reses abatidas no matadouro público da cidade – há tempo desativado – ou em algum abatedouro clandestino existente. A população não tinha o costume de consumir carne gelada e, portanto, até açougues existentes em alguns bairros trabalhavam com a carne quente.
Em consequência, o abate na Semana Santa ia até a terça-feira. É fato que alguns feirantes insistentes permaneciam no Mercado Central, nos dias seguintes, aventurando atender a um evangélico suspirante ou a um católico infiel.
Isto mesmo: nenhum comerciante aceitava abater na Sexta-feira Santa sua rês escolhida. Os trabalhos no matadouro público retornavam a partir da meia-noite do sábado, causando uma correria desenfreada para o abastecimento instantâneo da feira central e dos poucos açougues de bairro.
Trabalhando no açougue do tio Clóvis, no “Zepa”, ficava ansioso pela chegada da Semana Santa e ter esses dias de folga. Quem não possuía veículo próprio, como eu, à época, não podia viajar; tinha que voltar na sexta-feira e logo nas primeiras horas do sábado estar no estabelecimento esperando a mercadoria chegar. Havia dificuldade de encontrar transporte, no lugar em que estivesse, pois neste dia até os ônibus intermunicipais paravam.
O consumo de “boi quente” começou a diminuir com o surgimento das primeiras lojas de carne com balcões frigoríficos em 1995, possibilitando a exposição e a variedade de produtos à venda, a exemplo do peixe. Hoje, o consumo de carne fria na cidade é uma realidade, e as “boutiques de carnes” abrem diariamente.
Felizmente que respeitando a Sexta-feira Santa.