Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

Nilo (gênio) Tavares e seus filhos geniais Bráulio e Clotilde

Publicado em 26 de fevereiro de 2025

Nilo Tavares, aos 20 anos de idade

Nilo Tavares, que comigo e outros ilustres confrades que já se foram para o andar de cima fundamos o Jornal da Paraíba, era um gênio na arte da escrita e deixou herdeiros iguais ou melhores que ele.

Era um poço de humildade, irmã siamesa dos que costumam carregar genialidade nas veias.

De nada se ufanava, acho que para evitar que nele vissem a grandeza da sua pena…

Nosso time no início do JP era coroado com outros gênios: Robério Maracajá, Josusmá Viana, Ismael Marinho, William Tejo, José Levino, Chico Maria… Dos quais eu sorvi bons néctares!

Mas não é sobre Nilo que quero exaltar hoje neste espaço. Com certeza, meu guru Vanderley de Brito o fará com riqueza de detalhes qualquer dia desses.

Quero tão somente reproduzir um pequeno texto de Bráulio Tavares, fruto brilhante do roçado de Nilo, esse ser que explode talento em tudo o que faz: no Teatro, na Literatura, na Poesia, no Cordel…

Não tenho o direito de manter só comigo essa joia mais do que rara. Meu leitor haverá de agradecer.

Vejamos o que escreveu o rebento de Nilo:

Minha irmã Clotilde Tavares é escritora hiperativa e medica aposentada. Se bem que medico nunca se aposenta, principalmente se tiver família. Vai num aniversario e logo encosta um sobrinho: “Tia, aproveitei e trouxe meus exames pra senhora dar uma olhada…”

No presente caso, o consulente fui eu, porque ultimamente estava me dando uma bobeira preocupante, tipo parar diante da estante, numa prateleira especifica, mão erguida, gesto parado no ar, e uma pergunta: “O que foi mesmo que eu vim buscar?”. As desistências da memória.

Liguei pra ela, que mora em Natal (RN).

— Acho que estou com Alzheimer – anunciei, porque sou da escola jornalística “conclusões primeiro, explicações depois”.

Ela escutou os sintomas, e mandou “na lata”:
— Tenho boas e más notícias. A boa é que não é Alzheimer. A má é que é velhice, e não tem cura. Quando chegar na cozinha e não se lembrar do que foi fazer, beba água. (…)
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E aproveito para, antes que Vanderley se dedique a escrever sobre a importante história de Nilo, reproduzir essa pérola que a filha dele, Clotilde, publicou no seu portal “Arte, Cultura, Informação & Humor” em 09 de agosto de 2009, um Dia dos Pais, sobre o amado pai.

Vamos lá:

“MEU PAI” – Por Clotilde Tavares | 9 de agosto de 2009
Tenho muito orgulho do meu pai. Houve uma época de rebeldia na minha juventude em que eu detestava ser conhecida como “a filha de Nilo Tavares”, na Campina Grande meio provinciana da década de 1960. Mas isso passou. Adulta, sempre me orgulhei disso, principalmente em um dia em que ele, em Natal, cidade em que eu morava e onde pouca gente o conhecia, me disse cheio de orgulho: “Eu adoro quando me chamam ‘o pai de Clotilde’”.
Abaixo, uma notícia e fotos dele e de sua vida, neste Dia dos Pais. Este texto já foi publicado no meu livro Coração Parahybano e n’A União.
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Jornalista, poeta, boêmio, Nilo Tavares nasceu em 1913, em Maceió, Alagoas, e veio ainda muito pequeno para Recife, com os pais, o jornalista e poeta Fernandes Tavares e Clotilde Pereira Tavares, do lar, mas também dada a fazer versos e tocar violão. Seus outros irmãos, todos dedicados às letras, eram Stélio, Nabuco e Cláudio, e as mulheres Amelina, Cândida e Luísa. Uma das coisas de que eu mais gostava, ainda adolescente, era ouvir o relato das aventuras dele quando rapaz jovem, em Recife, aprontando palhaçadas nos bairros da Torre e Madalena, onde morou. Através do meu pai vinha toda aquela vida das décadas de 1930 e 1940, da boemia, da poesia, dos encontros no bar Savoy, das histórias da revolução de 1930.

Nilo e sua amada esposa Dona Cleuza Quirino

Papai tinha apenas o curso primário. Era autodidata em tudo o que fazia e isso para ele era motivo de orgulho. Desde jovem fez todo tipo de coisa: foi gráfico, escreveu para jornais, fez versos de encomenda e finalmente, como secretário da Prefeitura de Angelim, Pernambuco, conheceu Cleuza Santa Cruz Quirino, minha mãe, com quem casou em 1941. Vieram para Campina Grande em 1946, onde ele trabalhou como tipógrafo na Livraria Pedrosa, e depois redator das Rádios Borborema e Cariri e posteriormente do Diário da Borborema. Ocupou a cadeira número 27 do Clube Literário de Campina Grande, cadeira cujo patrono era Emílio de Menezes, militou intensamente nos meios esportivos locais, não apenas como comentarista esportivo de rádio e jornal, mas também como admirador e eventual membro de diretoria do Paulistano Esporte Clube e Treze Futebol Clube.

Nilo no seu gabjnete de trabalho, em 1930

Por três vezes candidatou-se à Câmara de Vereadores, não tendo sido eleito: em 1951 pelo PSB, em 1963 e em 1968 pelo MDB. Na terceira tentativa, aproveitando as pichações de “vote nulo”, mandou pichar um “i” por cima do “u”, ficando “Vote Nilo”. Foi quando teve mais votos. No final da década de 1950 tornou-se secretário executivo da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, onde permaneceu vários anos, até ser convidado para secretário da recém-criada Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) da Universidade Federal da Paraíba, tendo permanecido nesta função até 1970. Depois foi chefe de gabinete do Reitor Antonio Lucena, na Universidade Regional do Nordeste (URNe), atual UEPB, e permaneceu nesta posição durante três reitorados sucessivos da Universidade: Antonio Lucena, Luís Almeida e José Figueiredo.

Já doente, ao lado do seu amigo Pedrosa (o da Livraria)

Aposentou-se por invalidez em 1980, após sofrer um AVC. Aí, dedicou-se ao seu passatempo predileto, o charadismo, tendo sido um dos membros mais ativos da TERNOR (Tertúlia Nordestina). Publicou em edição independente as coletâneas de versos intituladas “Minha Vizinha Ivete” e “Sonetos de Natal e Outros Poemas”. Em 25 de março de 1983 assumiu a cadeira número 25 da Academia de Letras de Campina Grande, cadeira cujo patrono era o compositor Rosil Cavalcanti. Fez parte de numerosas associações, entre elas o Rotary Club de Campina Grande e Associação Campinense de Imprensa.

Quando Mamãe faleceu, em dezembro de 1997, levei-o para minha casa em Natal. Durante quase um ano e meio, até sua morte em maio de 1999, desfrutei do privilégio de tê-lo junto a mim, já velhinho, esclerosado, esquecido das coisas. Seus súbitos lampejos de consciência, que por vezes perduravam alguns dias, lhe faziam recitar sonetos e mais sonetos e contar histórias antigas. Eu entrava no quarto à noite pé ante pé para ver se ele estava bem e o encontrava sussurrando. “O que é, Papai? Está falando o quê?” “Estou recitando”, dizia ele.

Com a filha Clotilde no colo

Às vezes me confundia com sua própria mãe, de quem herdei o nome e alguma parecença física. Eu dizia: “Não, papai, eu sou Clotilde, sua filha.” E ele respondia: “Não! Clotilde, a minha filha, é uma meninazinha lourinha, bem bonitinha, que quando eu chego em casa ela põe as mãozinhas na cintura e dança contente dizendo: Papai chegou, papai chegou!”

Pois é essa meninazinha lourinha que lhe manda hoje um beijo, Papai. Um beijo grande, cheio de luz, de tanta luz quanto a luz das estrelas entre as quais o sr. hoje habita, e que devem estar todas ao seu redor, enquanto o sr. recita seus poetas preferidos: Olavo Bilac, Castro Alves, Emílio de Menezes, Carlos Penna Filho. Feliz Dias dos Pais.