Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

NEY SUASSUNA E A GRANDE RENOVAÇÃO POLÍTICA DE 2004

Publicado em 4 de outubro de 2024

Exatamente há vinte anos (04/04/2004) a Paraíba foi sacudida por um “tsunami eleitoral” inesperado, atingindo toda a classe política, com danos irreparáveis na biografia de muitos, que tiveram suas trajetórias destruídas para sempre.

Em João Pessoa, o candidato a prefeito Ruy Carneiro tinha sua eleição no primeiro turno inquestionável. Deputado estadual licenciado, chefe de gabinete do então prefeito Cícero Lucena – poder de caneta para construir sua vitória – apoiado pelo governador Cássio Cunha Lima, com maioria esmagadora da Câmara Municipal, somado ao empenho expressivo de muitos membros com assento na Casa Epitácio Pessoa.

Seu principal adversário era o deputado federal Avenzoar Arruda, PT histórico, apoiado pelo presidente Lula, que surfava numa onda gigante de popularidade, vivendo seu melhor momento e em “Lua de Mel” com o Nordeste (Bolsa Renda). Ricardo Coutinho era visto como uma terceira via (aventureira), candidatura criada no último instante – vésperas das convenções – por Nadja Palitot, que havia tomado o PSB do ex-deputado Gilvan Freire. Faltava a Ricardo “padrinhos” para sua postulação.

Já em Campina Grande, até às convenções o saudoso Rômulo Gouveia não enxergava adversários. Uma conspiração “tucana” puxou o tapete da prefeita Cozete Barbosa (PT) – 120 dias antes das eleições – com uma renúncia coletiva dos “cabeças da gestão”. Paralisou toda a administração. Amiga de Lula, que além de atender seu telefone não era necessário marcar audiência para ser recebida, Duda Mendonça foi escalado para coordenar sua campanha, assegurando-lhes uma vitória tranquila.

O quadro era preocupante apenas para o então senador Ney Suassuna (PMDB), que ficaria sem bases em João Pessoa e Campina Grande para sua disputa em 2006. Era tudo que Maranhão desejava. Eleito senador em 2002, seu mandato terminaria em 2010. Tinha tempo para reestruturar o partido, que em 2004 não teria candidatos majoritários nos dois principais colégios eleitorais do Estado.

Ney lançou o vereador Veneziano Vital do Rêgo (PMDB) em Campina Grande e declarou seu apoio a Ricardo Coutinho (João Pessoa) na condição do MDB indicar o vice. Aceitou a sugestão de Maranhão, e o saudoso deputado federal Manoel Júnior foi o companheiro de chapa do socialista. Os improvisos tiveram seus imbróglios. Nenhuma liderança politica campinense aceitava ser vice de Veneziano. Todos ponderavam que o “cabeludo” seria espremido, entre a briga tucano x PT. Vésperas das convenções, o ex-deputado José Luíz Júnior, sem mandato, atendeu ao apelo de Ney e emprestou seu nome provisoriamente até surgir outro. Tinha decidido deixar a vida pública.

Sem redes sociais na época, a mídia controlada pelo Palácio da Redenção (Cássio), PMJP (Cícero Lucena) e PMCG – parte com Cozete – as pesquisas nunca apontaram Veneziano e Ricardo no segundo turno. Mas, o “olhometro” das mobilizações revelava o contrário. Ney se agigantou. Abominou a palavra “não”. Prevalecia o “sim”, sem discutir “quanto custa”. Bancou individualmente a estrutura completa dos seus dois “afilhados”. No dia 01/10/2004, setenta e duas horas antes da votação, o amigo Antônio Augusto Arroxelas – cozinha da casa de Cícero Lucena – nos afirmou que faltavam apenas uns “pequenos ajustes” para uma maioria de 10 mil votos.

Noite de 04/10/2024, rádio e TV anunciavam: em João Pessoa, Ricardo Coutinho vence a eleição em primeiro turno, com 215.649 (64,45%) dos votos. Ruy Carneiro (80,82%) 103.108 e Avenzoar Arruda 11.003 (3,29%). A surpresa foi para quem não esteve nas ruas observando as manifestações. Não esperavam tamanho revés.

E em Campina Grande? O vereador Veneziano Vital do Rêgo desembarcou no segundo turno com 82.917 (42,26%) dos votos, atrás de Rômulo Gouveia 89.730 (45,73%), deixando a prefeita Cozete Barbosa com 18.917 (9,58%). Até hoje, PSDB e PT procuram os “culpados”. Cegos, subestimaram e não enxergaram a obstinação de Ney.