Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
NEY SUASSUNA ASSUME A PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA DE LETRAS DO RIO DE JANEIRO
Publicado em 26 de dezembro de 2024A admissão do paraibano Ney Suassuna na Academia de Letras do Rio de Janeiro foi um gesto de reconhecimento dos seus valores intelectuais, já identificado como membro da seleta Academia de Belas Artes do Brasil – a mais antiga da América Latina – fundada por D. João VI. Originalmente, “Academia” foi uma escola criada por Platão no ano 387 a.c. nos jardins consagrados ao herói ateniense Academo.
O local inicialmente destinado ao culto das musas foi se transformando aos poucos num centro de Filosofia, berço das artes (pinturas e esculturas), literatura e história. Ao longo do tempo, instituições análogas se propagaram pelo velho mundo, movidas pelo desígnio de interagirem e transferirem conhecimentos, revelarem talento, imortalizando o homem através de suas obras, e em seu tempo.
No último 22/12/2024 Ney Suassuna assumiu a presidência da Academia de Letras do Rio de Janeiro. Um núcleo formado por escritores, fundado em 1926, pré-centenário. Ney, Paraibano com mais de quarenta livros publicados, uma vasta coletânea que tem passado despercebida pela Academia Paraibana de Literatura. Lapso imperdoável, para quem escreveu “Saga Suassuna” e “Suassunas – genealogia de uma estirpe sertaneja”. Trabalho de fôlego, que levou alguns anos e demandou numa grande pesquisa, cruzando o Atlântico, indo ao encontro das raízes de uma família “quatrocentona” que veio para o Nordeste – não apenas para colonizar as terras férteis litorâneas exploradas pelo plantio da cana-de-açúcar – mas, se radicar nos distantes grotões dos sertões da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
Como poeta, Ney publicou “Ousadia”, obra esgotada e provavelmente desconhecida pelos “Acadêmicos Paraibanos”. Economista, Professor, Educador e fundador de redes de Colégios com métodos avançados, posicionando-se entre os melhores do país, Ney criou Faculdades, escolas no mundo Árabe, e nos Estados Unidos. Sua abrangente personalidade, excêntrica e multidisciplinar, só foi enxergada na Paraíba pela classe política tradicional e oportunista. Desde 1982, todos os líderes da época, com projeção nacional – até recentemente – em algum momento se socorreram de suas algibeiras para se elegerem.
Fica difícil separar dos meios o pior: O “Político” ou o “Acadêmico?” Talvez se nivelem na prática de métodos obscuros, em circunstâncias distintas. A tão respeitada Academia Brasileira de Literatura tem figuras “imortais” completamente desconhecidas do público leitor brasileiro. E outros, como o jornalista Merval Pereira, que com apenas um livro publicado sobre uma campanha eleitoral, foi agraciado com uma de suas cadeiras. Alguns ex-presidentes da república – quando estiveram no poder – tiveram assentos garantidos na ABL, como José Sarney, Fernando Henrique Cardoso. Juscelino Kubistchek tentou no ano e período errado (1975) quando estava cassado. Faleceu tragicamente no ano seguinte (1976).
Jânio Quadros, autor do melhor Dicionário da Língua Portuguesa, vários poemas, belas poesias, sugeriu concorrer. Mas, escolheram outro “dicionarista”: Aurélio Buarque de Holanda. A escolha despida de critérios de alguns dos recentes membros causaram-nos perplexidade. Gilberto Gil, cantor e intérprete, autor de poucas músicas do seu modesto repertório. Fernanda Montenegro, grande atriz que só leu e interpretou no palco textos que outros escreveram (?).
Que contribuição Gil e Fernanda deram à literatura?
Paradoxalmente, foram imperdoavelmente esquecidos Graciliano Ramos, Gilberto Freyre; Carlos Drummond de Andrade; Vinícius de Moraes; o também genial paraibano Paulo Pontes – autor da Ópera do Malandro e A Grande Família – renovador do Teatro de vanguarda; Érico Veríssimo e o sofrido Mário Quintana, que ainda o deixaram concorrer, mas faltou-lhe dinheiro para viajar e visitar pessoalmente cada membro, pedindo o voto. Morreu como hóspede convidado do hotel de propriedade do jogador Falcão, que leu a notícia nos jornais gaúchos de seu despejo de uma velha pensão, onde morou por mais de trinta anos. Não dispunha de dinheiro para pagar dois anos de débito em atraso.
Fica registrado nosso alerta destinado a Academia Paraibana de Literatura. Enxerguem a “prata da casa”. Ney como imortal, hoje brilha no berço cultural do país, Rio de Janeiro.