Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

Na morte de Alexandre Tabajara, flui maior a saudade de Asfóra

Publicado em 14 de janeiro de 2025

A morte do amigo Alexandre Tabajara, semana passada, evocou em minha lembrança alguns momentos da convivência que tive com Raymundo Asfóra, notadamente os últimos quatro anos que antecederam a sua partida.

Asfóra era extremamente seletivo na escolha dos amigos, o que não excluía – acho que por conta da vida política – ter que “aturar” algumas pessoas que ainda hoje dizem que foram “do peito” do tribuno.

Amigos de verdade foram poucos e eu até posso, com eventuais esquecimentos, aqui enfileirar alguns nomes além de Tabajara: Otávio Leite Sobrinho; Cícero Gutenberg Rodenbusch; “Til” do Cartório; Ivaldo Moraes; Lindenberg Martins de Oliveira; o pai de Lindenberg, Manoel (o da Carne de Sol); o poeta João Mendes; Marcelo Marcos da Silva; Moacir Thiê; Evaldo Cavalcante Cruz; Antonio Gomes e sua esposa Assima; Sêmio Timeni; Paulo Coutinho; Ata Hamadan; Edvaldo do Ó; José Luiz Júnior; Orlando Almeida; Joseph Noujaim Habib (Consul do Líbano) e Dona Aida, padrinhos do filho Thanner; Orlando Tejo; Ivandro Cunha Lima, Aluízio Afonso Campos; Ernany Sátyro, João Agripino Maia; Delosmar Mendonça, Antonio Campos…

Ele tinha de fato um círculo limitado de AMIGOS, ao qual costumava reverenciar em mesa de bar, na recepção quase diária (noturna) da casa na Granja Uirapuru, e confidenciar suas alegrias, tristezas e anseios. A esse grupo muito restrito também dividia os problemas do cotidiano.

Uma frase dele ainda ecoa em minha mente:

– “Quando eu tenho dez problemas, vou dormir! Quando acordo só tem um para resolver”.
Era fato!

Nunca pedia para ninguém resolver seus pepinos, mas também não os escondia dessa turma.

Rodenbusch, feito general de campo, resolvia meia dúzia. E os que não podia dar jeito abria a boca para os ouvidos atentos dos demais… Lindenberg cuidava de outros dois, “Til” do Cartório dava jeito nas pendencias judiciais, Edvaldo do Ó sempre apressado limpava o resto… E lá depois do meio dia quando acordava para ver o Sol, um ou dois telefonemas dele matava o que ficou pendente.

Claro que isso representava a amizade bem alicerçada que Asfóra mantinha com os que queria bem. E tanto fazia ser Alexandre Tabajara quanto Ivandro Cunha Lima ou João Agripino… Não havia distinção entre o grupo, nem graduação para mais ou para menos. Estávamos todos no pódium da sua alma de homem bom.

Uma noite, lá em Brasília, o até então todo poderoso homem das Finanças do Governo do Estado, Otacílio Silveira, que não me conhecia, deu-me uma reprimenda no meio da rua quando parei o carro de Asfóra para os dois descerem à porta de um restaurante na Asa Sul. Avisou que eu jamais seria seu motorista, porque era inconcebível que um profissional do volante, conduzindo autoridades, não soubesse que tinha de estacionar o veículo já com a frente voltada para a saída, isso para facilitar fugas em situações de risco.

Asfóra sorriu, puxou Silveira pelo braço e entraram na casa de pasto… Estacionado o carro, entrei no restaurante e fui para a mesa dos dois, para visível espanto do incrédulo Otacílio.

– “Marcos Marinho, não ligue para Otacílio não, ele é assim mesmo cheio de nó pelas costas… Esse aqui, Otacílio, nunca foi motorista na vida, mas dirige mil vezes melhor do que eu e tenho certeza de que também melhor do que o teu lá de João Pessoa. É meu amigo, meu braço direito aqui em Brasília e é Chefe do meu Gabinete… Sabe aquele processo que não andava no Ministério da Fazenda e nós destravamos? Foi Marcos Marinho quem conseguiu, visse? E aqui a gente faz assim: uma hora ele dirige pra mim, outra hora eu dirijo pra ele e a gente vai levando”, disse sem arrodeios.

Otacílio ficou do tamanho de uma formiga, até que Asfóra descontraiu, chamou o garçom, pediu três doses de Teachers e foi logo avisando ao secretário que a minha conta era ele quem iria pagar.

Esse era o inigualável Asfóra amigo dos seus amigos, que agora a saudade de Alexandre Tabajara me faz lembrar.
Quanto a Otacílio, daí por diante quando ligava para o gabinete me tratava como ‘DOUTOR MARINHO”!