Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Morre Pedro Taboca, nasce o mito Pedro Cancha 

Publicado em 2 de maio de 2023

A cancha com que Pedro exibia suas roupas extravagantes pelas ruas centrais e até em shoppings de Campina Grande absorveu o cognome pelo qual os Souto Guimarães são conhecidos no bairro de Santa Cruz, área antes Cruzeiro. Para seus moradores mais antigos, incluindo meus familiares, nunca deixou de ser o Pedro Taboca.

Vivi minha infância na Av. Almirante Barroso ouvindo falas sobre as excentricidades de Pedro e sua disposição ao inusitado, a exemplo de ser o primeiro ser masculino, e único, a usar saia em plena Rua Maciel Pinheiro. Foi pioneiro naquelas paragens a pôr em prática o Teste de Cooper, percorrendo quilômetros na busca incessante do condicionamento físico

Aliás, toda família de Pedro tinha tendências ao inusitado, ao lado folclórico. Zé Taboca, um irmão seu, costumava andar por onde fosse com um martelo na mão, inclusive entrando em ônibus. Lembro de Zé fabricando foguetões no período junino, herança paterna, certamente vindo daí o apelido familiar.

Outro mano seu, cujo nome não recordo, até antes da pandemia andava pela Feira Central respondendo com rima às provocações dos feirantes. Pedro superou a todos, merecendo ter, por um período, suas imagens excêntricas em painéis publicitários espalhados pela cidade.

Até enquanto minha mãe empreendeu como costureira, parte das roupas de Pedro Taboca, digo Cancha, foi feita por ela. O divertido de tudo era a prova. Saía a desfilar pela longa sala da casa, indo até à cozinha. “Aquele povo do shopping não sabe o que é desfilar”, alertava, iniciando o desfile, nos anos iniciais em que o espaço local foi inaugurado.

Pedro Taboca foi tema de um trabalho, não publicado, no tempo em que eu cursava Comunicação Social. Lembro da vez em que ele vinha descendo a calçada da Floriano Peixoto, próximo ao teatro, e Rômulo Azevedo, ainda na TV Borborema, orientou, fora da pauta, o cinegrafista a filmá-lo, fazendo uma matéria que foi ao ar no jornal da noite.

A opção pela extravagância, pela boemia sóbria e pela solidão fez de Pedro um homem alegre e feliz. E muito querido pela vizinhança, pois alegrava a todos. Com seu cantar seresteiro e seus discursos improvisados.

O folclórico tipo das roupas enfeitadas e exageradamente apertadas se foi no sábado, 29 de abril. Morre o homem Pedro Taboca, nasce o mito Pedro Cancha.

MEMORIAL 

A passagem de Pedro Cancha repercutiu na colônia paraibana em São Paulo. Jussara, prima minha e nascida e criada em São Bernardo, diante da repercussão da notícia, me contactou cheia de curiosidades. Enviei-lhe a reportagem “Achamos na Paraíba”, da Record, para que ela conhecesse a figura. “Interessante!”. “Merece mesmo um memorial”, completou.