MOACI CARNEIRO: ÚLTIMA TRINCHEIRA DA EDUCAÇÃO
Publicado em 16 de março de 2024Ontem (15/03/2024), o professor Moaci Carneiro esteve em Campina Grande para lançar a 25ª edição de seu livro, LDB FÁCIL – best-seller que já vendeu mais de um milhão de exemplares, desde sua primeira edição – compêndio que traz em seu conteúdo conjunto de leis, regras, estratégias destinadas ao ensino fundamental/médio, leitura obrigatória para os docentes e roteiro com temas inesgotáveis para alicerçar teses de Mestrados e Doutorados na área da educação.
Sua primeira edição, idéia aprovada, incentivada, festejada pelo saudoso baluarte defensor da qualidade do ensino brasileiro, senador Darcy Ribeiro, foi reconhecida como a “bússola” que guiaria a educação do País, nos mares revoltos e tempestuosos das confusas mudanças e desacertos concebidas pelo MEC (anos 90, última década do século XX). Período de grandes conflitos nos meios acadêmicos, formados por grupos, divididos em conceitos, enraizados nas dezenas de “Conselhos”, que buscam sedimentar-se na divergência, descartando seu verdadeiro papel que é a construção dos caminhos da “convergência”, planificá-lo, unificá-lo e expandi-lo.
Moaci Carneiro proferiu uma palestra majestosa, brilhante e pedagógica – sem utilizar a vaidosa linguagem sofisticada comumente usada nos meios acadêmicos – diagnosticando, e ao mesmo tempo dissecando o “gargalo” da educação brasileira. Argumentos fundamentados em dados de pesquisas e estudos sobre o tema, discorrido habilmente num formato de comunicação compreensível e de fácil assimilação.
Na ocasião, sentimo-nos abatidos por uma tristeza profunda, saudosista, que nos remeteu a um passado não tão distante. Lembramos da grandeza, espírito públicos e generosidade do saudoso Reitor da UFPB, Cel. Guillardo Martins. No momento mais tenso dos governos militares, vendo seu próprio filho liderar as manifestações “Abaixo a Ditadura”, o idealista Cel. Guillardo ouviu jovens e sonhadores da antiga Escola Politécnica de Campina Grande, e o Reitor da recém fundada URNE, Edvaldo do Ó. Dividiu geograficamente a UFPB. Todos os cursos da área das Engenharias seriam sediados em Campina Grande. Alçou Lynaldo Cavalcanti – então Reitor da URNE – para o cobiçado posto do MEC, o DAU – Departamento de Assuntos Acadêmicos Universitários. O jovem Lynaldo na época era a segunda maior autoridade, abaixo do Ministro da Educação. Guillardo Martins posicionou Campina Grande na vanguarda do novo formato da futura educação brasileira. Ao deixar a UFPB, assumiu a FIOCRUZ.
A visão futurista de Campina Grande deu a oportunidade de Irineu Cabral criar a EMBRAPA, hoje maior orgulho do País. Lynaldo Cavalcanti, além de ter promovido a expansão universitária, foi o fundador e primeiro presidente do CNPQ. Criou em Campina Grande o primeiro Parque Tecnológico do Brasil. José Silvino Sobrinho fundou com apoio de seus colegas professores, a ATECEL. Trouxe o primeiro computador para o Nordeste. Esteve nos Estados Unidos e Japão, onde foi adquirir know-how sobre “Estradas e Mobilidade Urbana”. Avançou com a ATECEL, e convenceu Guillardo Martins a trazer Eliar Vavacle, Tcheco da “cortina de ferro” que dividia o mundo.
O Brasil não tinha relações diplomáticas com a URSS. Vavacle veio como clandestino, esteve escondido em Campina Grande, apoiado por Cel. Guillardo Martins, para estudar as bacias hidrográficas da Paraíba e transformar a ATECEL num dos melhores laboratórios de estudos de solo. Professor Moaci Carneiro, foi o “caçula” desta geração, onde Burity – governou o Estado por duas vezes – era Chefe de Gabinete do Reitor Lynaldo Cavalcanti. O Brasil tem hoje apenas dois cursos superiores na área de Meteorologia. Um em Campinas (SP) e outro em Campina Grande (PB). Mesmo sucateado, foi um projeto exitoso de Lynaldo Cavalcanti.
Moaci Carneiro dedicou toda sua vida à Educação. Em sua palestra, expôs que estamos “atolados” na estrutura política/casuística/ideológica/partidária. Dados estarrecedores, como por exemplo, 38% dos atuais Secretários de Educação dos Estados não entendem nada de educação. Nos municípios, alcança-se o alarmante índice de 78%. Exibiu números como, por exemplo, os Estados Unidos, que destina 6% do seu orçamento para Educação. O mesmo percentual do Brasil. O problema deixa de ser recursos. Trata-se de má gestão. Somos os últimos, em todas as avaliações de organismos internacionais. Milhões de analfabetos, outras dezenas de milhões de analfabetos funcionais, e o mais triste: a falência do ensino, e o surgimento de Cursinhos Preparatórios para o ENEM, e até provas da OAB. Reflexão: o que ensinam nas escolas?
Encerrando o quadro de desilusão, registramos as ausências. Não se fez presente o Secretário da Educação do Município. Nenhum Diretor das Escolas Municipais. Onde estavam os vereadores e deputados que empunham a bandeira da Educação? Lá não apareceram. Leve-se em conta a ausência dos Reitores e professores das inúmeras Universidades privadas de Campina Grande. Memória curta: Campina só permaneceu grande, graças a geração Lynaldo, Edvaldo, Silvino, Garrincha e o seu caçula Moaci Carneiro. Nosso destino, após a construção das grandes rodovias, nos levando a perder a posição de “Polo Abastecedor”, seria o mesmo de Itabaiana, no século XIX. Quem salvou a cidade economicamente foi sua transformação em Polo Educacional e de Saúde. Estagnamos no tempo, por abdicarmos da nossa vocação de “vanguarda”.
Fonte: Da Redação