Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Misericórdia, Senhor, misericórdia!
Publicado em 11 de abril de 2022Um mínimo de reflexão neste tempo de Quaresma já é bastante para reconhecermos que a grande maioria dos católicos não é bom católico. Eu mesmo me incluo nessa legião, embora o dia a dia aparente o contrário, pois vou à Missa todos os domingos e retribuo o dízimo; rezo o Terço, faço a oração pessoal e em casal todos os dias e participo de um movimento de casais que busca a espiritualidade conjugal.
Bastou um exame de consciência, após ler um Manual de Confissão recentemente enviado pela filha, para constatar essa realidade. Como somos pecadores! Desviando os olhos no título do manual, logo reconheci ser um católico covarde. Há mais de 10 anos não procurava um padre visando à obrigatoriedade da confissão anual, optando pela comunitária.
Em pelo menos duas vezes devo ter blasfemado contra a Igreja. A primeira, quando li, espantado, no Santuário de Frei Damião em Guarabira, que “mulher que veste calça comprida está nas profundezas do inferno”, frase atribuída ao amável capuchinho, e me indaguei: e o pecado não se moderniza, não?
A outra foi quando ouvi pela primeira vez, numa pregação, que Confissão Comunitária não tem valia e me interroguei: se não vale, por que faz? São interrogações que momentaneamente nos inquietam, mas que, numa reflexão posterior mais aprofundada, compreendemos e temos a serenidade recobrada.
Quando assinava a Liturgia Diária (agora busco no site da CNBB), costumava levar o livrinho à missa e acompanhava a leitura, paralelamente, lendo. Recentemente, fiquei admirado quando uma leiga amiga, em visita de solidariedade, disse, com certa ira gestual, que as pessoas ficam lendo, erroneamente, a liturgia nas celebrações no momento de leituras.
– A Palavra é pra ouvir, recomendou, com autoridade papal. Se a amiga assim falou, deve ter sido orientada num de seus cursos preparatórios de catequista. No tempo que eu conciliava a leitura e a audição da Palavra, buscava um melhor entendimento, pois muitas vezes não escutamos direito por causa da acústica da Igreja ou porque o leitor e o padre falam baixo, não atingindo amplificação necessária.
A Igreja Católica me encanta pela santidade que sugere, pelos mistérios que atiçam nossa imaginação, a exigir de nós atos de fé. Sabemos que ela é santa, mas é feita por pecadores. Certamente pecamos, nós católicos, por desconhecer com profundidade nossa Igreja, e não nos interessamos por esse conhecimento.
Quando publiquei neste espaço “Igual ao padre na Missa”, um evangélico amigo brincou maldosamente postando que “Tudo bem, padre e coroinha: um pleno casal”. Rebati, sem encobrir as transgressões. “Meu amigo, não generalize os fatos”, pedi, motivando um pronto pedido de desculpas.
Resta-nos a compreensão e a consciência de que somos pecadores e a disposição de pecarmos menos, buscando a santidade que nos parece tão distante e inalcançável. E, diante do Senhor, pedir, feito aquela música curtinha do Ato Penitencial: Misericórdia, Senhor, Misericórdia!
GRATIDÃO FILIAL
Na quinta-feira, dia 7, dona Cleonice, minha mãe, chegou aos 82 anos. No grupo familiar do WhatsApp postei a seguinte mensagem:
Assim como me achava um neto ingrato em não chamar Mãe Sinhá de vovó, sofro com a ingratidão de não te chamar mamãe, e somente mãe. Pois, além de duplicar o significado de uma mãe, a pronúncia mamãe soa mais carinho até nas pessoas que falam grosseiramente.
Consola-me saber que os meus gestos e atitudes são um poema de gratidão. Se me dissessem que Nossa Senhora vive, em carne e osso, aqui na terra, não teria dúvida: Ela se chamaria Cleonice.