Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Meu joelho de “atleta”

Publicado em 3 de abril de 2025

Não poderia esperar um diagnóstico mais satisfatório para a minha “articulação sinovial ou tibiofemoral” esquerda. Quase 43 anos “pra lá e pra cá” atrás de um balcão, uma adolescência percorrendo a pé cidades inteiras do Sertão nos finais de semana, uns 30 anos de caminhada ininterrupta, cinco de academia… Conforta ouvir de experiente homem do futebol de que a minha dobradiça desgastada é um joelho de atleta.

Tudo começou quando passei a sentir uma leve dor na parte posterior da perna, a altura da articulação entre a coxa e a panturrilha. Com o tempo e os esforços nos exercícios físicos na academia, a dor foi aumentando e se espalhando por toda perna, estorvando os movimentos do joelho e do tornozelo. “É encurtamento do tendão”, descreveu o experiente professor Márcio, orientando sessões de alongamento.

O aumento das dores e das dificuldades de movimentos me levou a procurar amparo médico. Logo nos testes físicos, a comprovação a olho nu da existência de problemas no tendão e na cartilagem. No exame de Raio X, “calcificação na inserção do tendão da patela”; “calcificação na inserção do tendão calcâneo”.

Nas finalizações da consulta, o médico brincou, falando no “peso dos anos”. Em contato posterior, disse que não é doença, é desgaste. Saindo do consultório, passei pelo Mundo Verde, pois a mulher queria melhorar seu jardim, e me queixei das dores joelheiras a Ronaldo. Ele, na lata, jogou essas flores: é bom sentir dor. É sinal de que a pessoa está viva”.

O ex-jogador e ex-treinador Zé Lima brincou, diagnosticando o desgaste pelo lado esportivo. Há tempo que não conversava com ele, apesar de avistá-lo vez por outra na porta de sua casa, quando vou à academia. Também o tenho visto na Novena do Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Bodocongó, mas sem a oportunidade de uma conversa.

Na terça-feira passada, novena do meio da tarde, essa oportunidade chegou. Após a aspersão da água, avisto o ex-técnico saindo da igreja, no seu andar à Mazzaropi, mas a elegância de sempre, e o encontro já no estacionamento, esperando a carona que o levou. Pergunta como estou, falo do meu joelho comprometido, ele diz sentir o mesmo desde o tempo de jogador.

Como a querer me tirar qualquer esperança de cura, desfila os nomes dos médicos que passou, a partir de Zé Aurino, e garante ainda sofrer as consequências, depois de tantas décadas passadas. E do alto de seus 80 e tantos anos, caprichando na sua reconhecida veia humorística, me joga o consolo: isso é joelho de atleta.