Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

Meu grito pelos degolados da Borborema

Publicado em 27 de janeiro de 2025

Ao longo dessas mais de cinco décadas atuando na mídia paraibana já vi centenas de demissões de confrades amigos, muitos dos quais obviamente tomados de surpresa pelo fato errôneo de acreditarem que a empresa onde atuavam seria eterna e agradecida ‘ad-infinitum’ por quem supostamente tanto se dedicou ao crescimento dela, dando o melhor do seu suor para o sucesso da mesma.

Alguns foram desligados por fechamento da empresa, casos dos empregados nos jornais impressos que, à exceção de A UNIÃO, viram-se obrigados a cerrar as portas. Outros por desincompatibilização com dirigentes e/ou linhas editoriais às quais não seguiam. Uns outros por capengarem na competência.
E por aí vai…

Eu, por exemplo, sofri algumas demissões traiçoeiras e também – sou humano!!! – me amargurei. Com o tempo, que a cada virada do dia faz crescer a minha maturidade profissional, acabei por entender que o bom jornalista não fica no olho da rua. E quem folhear minha Carteira do Trabalho vai constatar que entre demissão e nova admissão, nunca fiquei mais do que dois ou três dias sem trabalho.

Essa reflexão me vem à tona hoje quando mais uma leva de demissões atinge o nosso meio, aqui em Campina Grande e lá na Capital, após a negociação que envolve a TV e rádio Borborema (em Campina, “matando” o sinal da CBN); e a TV Manaíra, em João Pessoa, retransmissora do sinal da Rede TV, mais a rádio O Norte, que opera como Manaíra FM.

O problema de hoje é que o mercado de mídia, cada dia mais carente de oportunidades, anda escasso para abrigar todos os demitidos. Os mais novos, de menor idade, mais rapidamente absorverão o impacto da degola, por ‘N’ razões: a maioria deles, formada por solteiros (as), são sonhadores e, por isso mesmo, aventureiros que não relutarão ante a possibilidade de mudança de domicilio. Mas, tem gente demitida que já passa da meia idade, com família grande e horizonte pequeno por aqui para alimentar os sonhos de prosperidade, no chão que tanto colaborou para solidificar.
É doloroso!

O futuro dono das empresas exige do vendedor “zerar” o quadro funcional, sem o que o negócio não será fechado. E é quando o coitado do trabalhador que tanto deu de si para formar os impérios vai ver que tanto um quanto o outro não tem coração! Que aquele patrão “gente fina” é na verdade um Judas da mais cruel espécie. Que os dois – comprador e vendedor – realmente não valem o que o gato da esquina enterra…

Haverá quem me conteste ser isso lei da vida, do mercado. Que não há nada de novo. Que isso acontece diuturnamente Brasil afora…

Óbvio que sei disso, mas não me conformo em assistir passivamente lideranças (SIC!?) sindicais e informais da categoria ficarem de boca fechada e, pior ainda, nunca sequer serem chamadas a conversar com vendedor e comprador antes da consumação das degolas, ficando claríssimo que os patrões da mídia nunca estiveram – e assim continuam – nem aí para sindicato de jornalistas e de radialistas, e muito menos para a API, a ACI e demais associações congêneres no Estado.

Vou me ater nesse comentário a apenas um dos degolados em Campina Grande, e apenas para dar o exemplo do tamanho da desgraça que atinge o seio familiar de cada um dos atingidos pela crueldade.

A ilustre confreira que encabeça a lista da TV Borborema deveria estar no final da fila… Lá no chamado “rabo da gata”, acaso não houvesse nenhuma possibilidade de acordo entre as partes do negócio.

Seria mesmo sonhar muito alto numa hora dessas querer que o patronato trate o “material” humano como peça de ouro, e nunca como “material” descartável, essa sucata a caminho da lixeira mais podre, sem direito nem mesmo a reciclagem como melhor sorte tem as latinhas de cerveja amassadas no Parque do Povo.

Ela, a querida e competentíssima amiga Ivoneide Henrique do Nascimento Pereira, que na mídia e adjacências Campina Grande conhece e aplaude apenas como NEIDE NASCIMENTO, por mim estaria fora da ‘linha de corte’, tamanha foi a sua contribuição, ao longo de 24 anos, para não deixar que a TV Borborema caísse no limbo, mesmo exercendo o seu mister alguns dias sem mínimas condições de trabalho, sem atualizações técnicas e sem pessoal qualificadamente atualizado com as novas tecnologias.

O mínimo que o vendedor poderia ter feito era recomendar ao comprador a sua permanência na empresa; ela e mais outros do mesmo quilate que caíram no alçapão traiçoeiro…

Neide graduou-se pela Faculdade de Comunicação da UEPB, habilitou-se em jornalismo e arregaçou as mangas para dar o seu melhor. Nos 24 anos de TV Borborema, foi Repórter, Apresentadora de Telejornalismo, Chefe de Reportagem, Editora-Chefe e Produtora dos programas locais.

Foi ela quem criou o programa de maior referência e audiência da TV campinense, o Momento Junino, uma das locomotivas d’O Maior São João do Mundo.
Sei que Neide não vai mendigar sua volta ao emprego. Na condição hoje de assessora de imprensa na Coordenadoria da Mulher da Prefeitura de Campina Grande, o pão de cada dia continua garantido na sua mesa, mas a ausência dela na TV não será ela que mais vai sentir. É Campina Grande e toda região do Agreste paraibano que acostumou-se a ver brilhar o seu inoxidável talento na tela todos os dias e cuja falta maior um dia os novos donos da TV Borborema haverão de lamentar.

Esse é o meu grito de revolta, isolado!

Um grito de apoio à inteligência campinense, mas principalmente um grito de alerta aos dirigentes sindicais e institucionais da nossa desprezada categoria e também para determinados empresários que se infiltraram na mídia para alargarem os seus já abarrotados cofres sugando o sangue de gente como Neide Nascimento, vitoriosa na vida pela dedicação ao que faz, pela competência ímpar e pelo arraigado amor telúrico à terra-mãe, que não a deixa fugir para as praias de Tambaú e Cabo Branco aonde fica mais fácil, como determinados patrões, degradar a Rainha da Borborema.

Importante lembrar que minha estimada amiga também é graduada nas dificuldades da vida e por isso nunca delas reclamou. Anos atrás me confidenciou que farinha com colorau era uma das suas principais refeições, senão a única lá no sertão de São Gonçalo onde a matriarca vendia produtos da Avon para custear os estudos dela em Campina Grande.

E deixar dito, por último, que a tecnologia pode avançar, mas não há nada mais humano que olhar nos olhos e passar uma mensagem de respeito, amor e interesse em resolver o problema dos outros. Com seu trabalho na TV, por 24 anos, Neide pode se orgulhar em dizer que continua fazendo parte dessa geração de ouro da nossa Televisão.

Quero vê-la qualquer dia desses de novo lá nos estudios da pioneira TV que Assis Chateaubriand presenteou Campina Grande.