Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Memorial de bares
Publicado em 29 de outubro de 2024Há sempre um bar, talvez dois, certamente três, quem sabe vários, na memória etílica de um ébrio. Até mesmo aquele bar que ele não conheceu, nunca frequentou e que está na sua memória afetiva apenas por ouvir falar. Há um bar desconhecido na minha mente de saudade. Pode acreditar.
Lendo Tião Lucena, uma das minhas leituras iniciais do dia, falando sobre a posse do juiz Wolfran da Cunha Ramos como desembargador do Tribunal de Justiça, me veio um sabor brejeiro à boca e a lembrança forte de um bar que não conheci.
“Por incrível que pareça, o que me tornou mais aproximado a doutor Miguel foi a cachaça Rainha, da qual gostávamos e não fazíamos segredo. Ele e doutor Cananéia costumavam degustar o precioso maná de Bananeiras tirando o gosto com laranja. Abria-se a laranja em quatro pedaços e cada pedaço servia para amenizar o sabor da dose de Rainha”, destila Tião. Dá ou não dá para “aguardentar” a boca?
Este parágrafo do filho de Princesa (não sou filho de princesa, mas gosto de Rainha) em seu blog, me fez lembrar de Severino Marinho Leite (Marinho Branco), o trezeano que tinha todos os jogos da equipe catalogados em seu arquivo, e de nossos encontros dominicais em “Toinho da Cabeça de Galo”. Seu Marinho, um amigo que fiz na mesa desse bar que não fechava as portas, foi meu amigo de todos os lugares e condiscípulo de leitura.
Embora hoje tenha como melhor bar a minha casa, várias casas do ramo povoam a minha memória afetiva de saudade etílica. Começo de quando estudante do Estadual da Prata e tinha no caminho, por trás do Teatro Severino Cabral, a Nossa Cervejaria. Lá, vez por outra aliviava as tensões de 12 horas de trabalho com uma, duas cervejas, antes das aulas.
Outro que habita minha memória é o “2002”, cervejaria às margens do Açude Velho, onde hoje é o Museu dos Três Pandeiros. Nela, encontrava Socorro para amenizar a solidão e, depois, aliviar minhas necessidades de homem recém-formado.
Não, não tenho como tirar da memória a pizzaria de Cláudio, que, diante de minha assiduidade, começou a assar o churrasco exclusivo para mim. A Bonna Pizza era meu ponto certo das noites de sábado, no Jardim 40, com a mulher e os filhos. Eu mesmo servia minhas doses e me comportava de um jeito que confundia os clientes. Os recém-chegados pensavam ser eu o proprietário.
Igualmente não há como esquecer o Bodão Bar, ambiente onde eu tinha a mesma liberdade, endossada por uma amizade enraizada desde os tempos de menino.
Nos encontros dominicais com Seu Marinho em “Toinho da Cabeça de Galo”, vez por outras ele falava de um bar que marcou época em Campina Grande das antigas e que tinha na laranja a especialidade da casa como tira-gosto. A cachaça e a laranja, servidos no balcão. Não lembro o nome desse bar. É um dos bares que está na minha memória afetiva de etílico controlado.
Com a ressalva de que nunca o frequentei e sequer passei em sua frente.