Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

MEMÓRIA: COMPARATIVOS DA HISTÓRIA

Publicado em 18 de dezembro de 2024

Se “a palavra é de prata, o silêncio é de outro” (adágio popular).

As arbitrariedades do STF, ora comandadas pelo ministro Alexandre de Moraes – um narciso diante do espelho – fanfarrão embevecido com suas próprias bravatas, logo serão superadas por outro presunçoso, concorrente direto, o “noviço” ministro Flávio Dino. O poder é finito, transitório, e seus protagonistas, maravilhados pelo domínio exercido através do uso da força, nunca percebem que são meros elementos manipulados por grupos ou interesses oportunistas da “bipolaridade” política. Os poucos que hoje aplaudem o STF, elogiam e glorificam seus “heróis sazonais”, frutos de um infeliz momento que vive o país, serão os mesmos do amanhã que os levarão ao cadafalso da história, condenando-os como verdugos desumanos, déspotas, traidores do povo e da pátria, a serviço da corrupção sistêmica implantada no país.

Em 1930, Júlio Prestes venceu as eleições presidenciais do Brasil obtendo mais de um milhão e duzentos mil votos (59,3%) contra Getúlio Vargas – que pôs todo o Uruguai para votar no Brasil – conseguindo apenas pouco mais de 700 mil sufrágios. Contra Júlio Prestes, só três, dos vinte Estados e do Distrito Federal (Rio de Janeiro), Rio Grande do Sul, Minas Gerais e a pequena Paraíba, formaram a chapa de oposição. Uma vitória numericamente impossível.

Após a derrota, Getúlio silenciou. Recolheu-se ao seu Rancho em São Borja (RS), não concedeu entrevistas e estimulou a expansão do boato de fraude eleitoral. Como? O voto era aberto. Só votavam homens brancos, acima de 21 anos e alfabetizados. Formava-se uma fila, e numa mesa, com um Juiz sentado no centro, tinha ao seu lado (direito ou esquerdo) um representante dos dois partidos: Liberal e Republicano. O voto era a assinatura do eleitor no livro do partido. O resultado se constatava antes da apuração, pelo tamanho das filas.

Convencido por Osvaldo Aranha, seu mentor e conselheiro, Vargas veio a Porto Alegre quatro meses depois para fazer um pronunciamento no Automóvel Clube do Rio Grande do Sul (06/08/1930), reconhecendo a vitória de Prestes, e desejando-lhes sucesso. Eis que surge um fato trágico imprevisto.

Assassinaram o seu vice, presidente da Parahyba, João Pessoa. Osvaldo Aranha cancelou o evento e mudou o discurso.

Mataram João Pessoa porque ele tinha provas da fraude eleitoral. O boato incendiou os Quartéis. A Brigada Militar Gaúcha se prontificou para marchar sobre o Rio de Janeiro. Teve a adesão de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, São Paulo e até do próprio Rio de Janeiro. E as provas? Não foram questionadas. A imprensa apoiava Vargas. A motivação tinha característica passional. Mas, o tema não foi abordado. O silêncio foi de “ouro”. Se José Américo tivesse revelado a verdade dos fatos, em uma entrevista, elencando os motivos que culminaram no homicídio, não teria ocorrido a revolução e Getúlio teria encerrado sua carreira política. Mas, a insurgência transformou Vargas em vítima e o pôs no poder.

Criaram uma Junta Governativa, Getúlio como presidente. José Américo foi nomeado para o principal ministério, o da Viação e Obras Públicas. O “pivô” do golpe, guardou seu segredo. Em 1933, após a Revolução Constitucionalista, quando a Polícia de São Paulo enfrentou o Exército Brasileiro e foi derrotada, Getúlio para pacificar o país convocou eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte. O voto passou a ser secreto, permitindo às “sufragistas” (mulheres) e pretos votarem. O pleito teve a maior abstenção da história. Os constituintes eleitos reelegeram “indiretamente” Vargas para um mandato até 1938. José Américo era o candidato à sua sucessão. Entretanto, em 1937, foi decretado o Estado Novo, fechamento do Congresso, Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais e nomearam interventores militares em todos os municípios do país. A ferrenha ditadura perdurou por oito anos.

No dia 22/02/1945 a popularidade de Vargas era festejada em todo o país. Porém, foi surpreendido pelo ministro José Américo de Almeida, que quebrou seu silêncio. Concedeu uma entrevista ao repórter Carlos Lacerda, do Jornal Correio da Manhã, e falou o suficiente para derrubar o governo silenciosamente, em questão de horas e sem contestação da mídia. O temor da sequência desta entrevista, mostrando quem era quem, promessa de Lacerda, fez com que os militares, políticos e elites econômicas, temendo revelação de suas cravelhas, juntarem-se e por unanimidade botarem Vargas na rua. Foi a maior renovação da classe política do país. O Brasil deu uma guinada de 360º. Os grandes escândalos, sepultados José Américo num cemitério clandestino da história, ficaram no passado. A maioria dos corruptos, como sempre, escapou. Outros mergulharam e afogaram-se, desprezados pelo povo, e pela nova sociedade que aspirava cidadania com liberdades: democracia.

Não se pode prever quando. Mas, um dia, em um ano, uma década ou um século, a verdadeira história das eleições de 2022 virá à tona. Culpados serão julgados e suas biografias serão encarceradas pela história, envergonhando seus descendentes e toda uma corja, capitaneada pela grande mídia, cúmplice de um crime que ainda tenta exterminar o verdadeiro Estado de Direito Democrático, hoje preso e amordaçado.