Emir Gurjão
Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.
Medalha Oswaldo Cruz concedida a Janja: a escrotagem do partido
Publicado em 6 de setembro de 2024A concessão da Medalha de Mérito Oswaldo Cruz, uma das mais prestigiosas honrarias relacionadas à saúde pública no Brasil, deve, por princípio, ser um reconhecimento de méritos excepcionais e serviços relevantes à sociedade. Entretanto, quando essa distinção é entregue de maneira questionável, como no caso de sua outorga à esposa do presidente Lula, surge uma inevitável percepção de favorecimento político e banalização de um prêmio que carrega o nome de uma das maiores figuras da ciência brasileira.
Oswaldo Cruz, ícone no combate às epidemias e na promoção da saúde pública, dedicou sua vida ao país, enfrentando resistências e moldando o sistema de saúde nacional. Quando uma honraria associada a seu nome é entregue a alguém cuja trajetória pública não é amplamente reconhecida, e cujos serviços à saúde dos brasileiros não são evidentes para o público, a honraria perde parte de seu significado e prestígio. A insinuação de que essa medalha foi concedida como um gesto de bajulação política, mais voltada ao benefício pessoal e à valorização de figuras próximas ao poder, fere os princípios de mérito e comprometimento com o bem comum que deveriam nortear tais decisões.
Esse tipo de concessão expõe um dos maiores problemas do sistema político brasileiro: o uso de mecanismos institucionais e de reconhecimento público para alimentar um ciclo de privilégios entre aqueles que orbitam o poder. É um acinte que mina a confiança nas instituições e desrespeita aqueles que, de fato, dedicam suas vidas à melhoria da saúde pública, muitas vezes sem reconhecimento, trabalhando em condições adversas e enfrentando desafios reais.
Ao entregar uma honraria tão importante sem que haja justificativas convincentes de impacto na saúde pública, o governo não apenas desvaloriza a própria medalha, como também desrespeita o legado de Oswaldo Cruz. Esse tipo de atitude reforça a ideia de que as distinções institucionais no Brasil são facilmente manipuláveis e estão à disposição de interesses pessoais, um reflexo lamentável da realidade política que coloca em segundo plano o verdadeiro mérito e a contribuição ao país.
Este episódio é um retrato de um país onde honrarias são usadas como moeda de troca, esvaziando o valor simbólico de instituições e figuras históricas que realmente transformaram o Brasil. A banalização dessas premiações é um insulto àqueles que, silenciosamente, trabalham em prol de uma sociedade mais saudável e justa, e representa um retrocesso no respeito às instituições e à meritocracia. É um sinal claro da desconexão entre os governantes e os valores de excelência e serviço público que deveriam nortear as ações de um governo comprometido com o futuro do país.