Emir Gurjão

Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.

Manipulação da Percepção da Verdade: – Tentando Limpar a Barra em Jampa

Publicado em 22 de outubro de 2024

A manipulação da percepção da verdade é um fenômeno amplamente observado em diversos contextos políticos, sociais e midiáticos. Em Jampa, um caso recente envolvendo um candidato à reeleição ilustra como a repetição de uma narrativa, mesmo que sem base factual, pode influenciar a opinião pública e distorcer a realidade.

O Caso:
O candidato à reeleição enfrenta uma série de escândalos graves. Sua esposa foi presa, dois vereadores de sua base política estão usando tornozeleira eletrônica, sua filha, que era secretária de saúde, foi indiciada, e um de seus assessores foi preso. Diante dessas evidências, ao invés de assumir responsabilidades ou prestar contas à sociedade, o candidato optou por uma estratégia de defesa comum: a alegação de perseguição política.

Ele afirma estar sendo alvo de uma conspiração para desacreditá-lo, alegando que as prisões são injustas e fazem parte de uma campanha organizada contra ele. Mesmo que as provas dos crimes sejam contundentes, o candidato insiste em construir essa narrativa de vítima para desviar o foco das acusações e preservar sua imagem pública.

O Poder da Repetição:
Este caso ilustra perfeitamente como a manipulação da percepção pode funcionar. A estratégia do candidato se apoia no fenômeno conhecido como “ilusão da verdade”, onde a familiaridade com uma informação, ainda que falsa, faz com que ela pareça mais verdadeira. Quanto mais vezes as pessoas são expostas a essa narrativa, mais provável é que acreditem nela.

Exemplo Prático:
Manchete inicial: “Candidato à reeleição sofre perseguição política após acusações infundadas.”

Mesmo que a alegação de perseguição política não seja verdadeira, a primeira vez que uma pessoa lê essa manchete, ela pode ficar cética. No entanto, essa exposição inicial já planta a semente da dúvida e aumenta a chance de a pessoa começar a considerar a possibilidade de que o candidato esteja realmente sendo perseguido.

Repetição da mensagem: Nas semanas seguintes, a mesma narrativa é repetida por meio de entrevistas, programas de TV, redes sociais, e até em conversas informais. O candidato e seus aliados continuam a propagar a ideia de que as prisões e indiciamentos são resultado de uma campanha de perseguição.

Mesmo com evidências claras de corrupção e crimes envolvendo pessoas próximas ao candidato, a repetição contínua da narrativa de “perseguição política” faz com que, gradualmente, parte do eleitorado passe a acreditar na versão apresentada pelo candidato. A familiaridade com a mensagem torna essa ideia mais convincente do que os próprios fatos.

O Efeito da Ilusão da Verdade:
Esse fenômeno ocorre porque o cérebro humano tende a associar familiaridade com veracidade. Quando uma informação é repetida diversas vezes, ela se torna familiar, e o cérebro, por reflexo, começa a aceitá-la como verdade, mesmo que inicialmente tenha sido considerada falsa ou questionável.

A repetição contínua de uma ideia, seja ela verdadeira ou não, tem o poder de moldar a percepção pública. Isso é o que possibilita que uma mentira ou distorção, quando divulgada repetidamente, se torne uma “verdade” para muitos, especialmente para aqueles que não buscam informações mais confiáveis ou não se aprofundam nos fatos.

Conclusão:
O caso do candidato em Jampa é um exemplo claro de como a manipulação da percepção pode ocorrer, mesmo diante de evidências factuais contrárias. Ao repetir incansavelmente a narrativa de perseguição política, ele tenta criar uma ilusão da verdade, moldando a opinião pública a seu favor. Essa estratégia é comum em situações em que a realidade é desfavorável, e mostra como a comunicação e a mídia podem ser usadas para influenciar a crença das pessoas, mesmo quando os fatos indicam o contrário. A repetição, nesse sentido, é uma ferramenta poderosa para quem busca moldar a realidade a partir da percepção pública.