Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Malta discriminatória

Publicado em 6 de março de 2023

Meio século passado é que me atentei ao fato de ter sido coadjuvante em uma discriminação contra a mulher, se a história fosse levada às telas. O ano, 1971. Dezembro do ano anterior, a família se mudara de Campina Grande por imposição paterna e morou três meses em Malta, de onde a fé de minha mãe a fez se aproximar da cidade natal pouquíssimos 32 Km.

Com 12 anos de idade, e ainda com resquícios do menino enxerido que fui em terras serranas, fomos estudar naquela escola cuja lateral margeia a BR 230 e o pórtico frenteia a mesma rua da cadeia pública de Malta. Lá, em um mês de aulas, dois fatos se tornaram inesquecíveis para mim.

Logo no primeiro dia, aconteceram os jogos de futebol na hora do recreio, dos quais nunca participei, mas ficava à beira do campo assistindo e levantando a perna, involuntariamente, como se jogando estivesse. “Ele dá um ‘chorinho’ vendo o jogo”, comentou um colega ao outro, incitando a timidez que o trauma da mudança começara a impactar.

Na continuidade das aulas, Rivane, certamente a menina mais bonita da escola, começou a dar em cima de mim. “Um cara feio como eu”, pensei sobre o interesse da moça, até um pouco mais alta do que eu, talvez de idade mais avançada. Iniciamos um namoro de criança, sem maldade nenhuma, ao ponto de ela ficar em frente da nossa casa brincando com minha irmã.

Não obstante a infantilidade do namoro, o colégio tomou conhecimento e o estranhamento do interesse da moça por mim foi desvendado. “Estás namorando Rivane? Namora, não. Ela não é mais moça, não”, segredou-me um colega, junto com outros dois. Ainda lembro, com certa rancidez, o outro reforçando o preconceito com palavras chulas.

Não dei ouvidos aos comentários, continuei namorando a menina e não avancei na intimidade. Apesar de menino enxerido, a mente era mais infantil ainda; também não houve tempo para o florar das sensações, pois em um mês a família se mudou e permaneceu em Patos por seis anos.

Como eu percorria o sertão vendendo os produtos produzidos e comercializados por papai e de 15 em 15 dias fazia a praça de Malta, em pelo menos três oportunidades cheguei a me encontrar com Rivane na calçada de sua casa. Aí, não a procurei mais. Também não tive mais notícias nesses passados 52 anos.

Antes de rememorar em linhas essa história, tive a curiosidade de reencontrá-la nas redes sociais, sem qualquer vontade de contactá-la. No perfil, confirma estar casada; na foto, além do visual jovem, uma blusa tomara que caia desnudando do busto para cima endossa que continua uma mulher avançada.