Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Mãe, amor que descende

Publicado em 8 de maio de 2024

A condição de primogênito de uma prole de 13 filhos, dos quais 11 foram criados, ensinou-me o que é ser família e a respeitar e valorizar extremamente uma mãe, sem desmerecer ou desconhecer o amor e as virtudes de um pai. O amor de mãe é tão imenso, tão intenso, que ela não se contenta em ser mãe só do filho. Enquanto viver, vai querer ser a mãe de toda geração que lhe sucede, na escala de sua descendência.

Dia desses, o escritor Rui Castro lamentava em sua coluna no UOL que apenas a música leva a mãe em conta. “A literatura, o teatro e o cinema não parecem ter as mães em alta conta. A música popular, sim”, desconfia, citando um rosário de músicas em homenagem às mães. Ouso discordar do premiado escritor: tinha. As músicas citadas são de décadas distantes, a maioria dos anos 60.

Conheço apenas uma composição musical dedicada à mãe, neste século – Minha mãe -, autoria de Flávio Leandro, gravada por ele em 2003, também ouvida na voz de Flávio José.

Se o compositor pernambucano é exceção, isso não quer dizer que os filhos nascidos nesse período não preservem o amor materno. Eles têm amor às mães, sim, mas perderam o respeito e a sensibilidade. Essa escassez de letras e versos idolatrando as nossas genitoras corresponde justamente a esse desrespeito e essa insensibilidade filiais tão em moda nos tempos atuais.

Dona Cleonice, minha mãe, me teve aos 18 anos; aos 34, gerou o 13º, passando a cuidar, doravante, de 11, pois perdera dois para a mortalidade infantil da década de 60. Há 22 anos, o caçula tomou o seu destino eterno. O consolo maior dela foi o filho que ele deixara com seis anos e que, adulto, presenteou-lhe com uma bisneta.

Antes de ser avó, ela pensava que o amor pelos netos não igualaria ao que sente pelos filhos. Enganou-se. Com os bisnetos, também não imaginava manter essa paridade sentimental. É felicíssima por mais esse engano.

Uma mãe, portanto, não é mãe somente de quem ela gestou. Enquanto permanecer viva, é mãe de duas, três, quem sabe quatro gerações. Não se contenta em amar só o filho; também ama o filho do filho e o neto do filho…