Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
LULA SORRATEIRAMENTE COMEÇA A ANDAR NO PAÍS ABRAÇADO COM A DIREITA.
Publicado em 8 de fevereiro de 2024O aviso de Zé Dirceu, através de uma entrevista concedida ao Jornal Espanhol El País – após a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 – não foram declarações para consolar as esquerdas derrotadas, sob seu comando. Ele antecipou com convicção todos os acontecimentos que se desenrolaram a partir daquele momento. “Nós perdemos uma eleição, mas vamos tomar o poder”. O que de fato vem acontecendo, sem luta, revolução, e pouco a pouco quebrando a resistência da direita.
O grande temor de Zé Dirceu – segundo o ex-ministro do STF Marco Aurélio de Mello – era saber como reagiriam as Forças Armadas.
Guerrilheiros são inimigos número um dos militares. Criminosos impiedosos, que usam o terror para amedrontar a sociedade, quebram regras e garantias legais, matam civis inocentes que discordam de sua ideologia… E não existe ex-guerrilheiro. “Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”. Dirceu temia manifestações de vários generais da reserva, e suas posições. Não prestariam continência a um ex-presidiário condenado por corrupção.
Marco Aurélio destaca ainda em seu livro de memórias a interlocução feita junto aos generais (da ativa) comandantes das Regiões Militares, e membros do EMFA – Estado Maior das Forças Armadas. Por quem? Um, ou alguns membros da Suprema Corte? Ele não cita. Mas, a pergunta era: “Se Lula voltar ao poder, haverá intervenção dos Quartéis?” A resposta foi “não. Respeitaremos o que for decidido pela Justiça”. Juntando recortes dos fatos, com paciência, começa-se a montar o quebra-cabeça. E com o tempo, surgirá a imagem ou paisagem, escondida nas pequenas peças invisíveis por estarem espalhadas. Após encaixadas, estampará a imagem da verdade. O ontem passou, e o tempo não retrocede para corrigir erros, e punir culpados.
Lula foi diplomado antes da data estabelecida na Constituição. A pressa era instalar a Comissão de Transição. Bolsonaro exoneraria todos os seus Comandantes Militares, e nomearia os indicados pela Comissão, escolhidos pelo novo presidente diplomado pelo TSE. O povo foi às ruas. Ficaram em frente aos quartéis, lotaram as Igrejas, ocuparam as redes sociais… Tudo o que pediam era a transparência do resultado das urnas, gravadas no Código Fonte. O TSE/STF negou peremptoriamente. O Brasil voltava a ser uma republiqueta, travestida de democracia – modelo Latino-Americano dos anos sessenta – eternizada pelas conspirações, com governos transitórios, desrespeitando a vontade da maioria, manifestada através do voto.
Lula foi o único presidente “eleito” na história do Brasil, que ficou sitiado. Acuado no Palácio do Planalto e do Alvorada. Não frequentava restaurantes, ambientes públicos e onde era avistado, gritavam “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”. Sem poder andar no seu próprio país, começou a viajar. Vinte e uma viagens internacionais, sem trazer nada de concreto. Solenidades para assinarem protocolos de intenções sobre futuros projetos. Dirceu inventou, e coordenou à distância o 08/01, convidou até um fotógrafo da Agência Reuters para documentar a sabotagem. A CPMI que havia sido criada para desvendar o “Incêndio do Reichstag”, dispensou esta testemunha chave.
O papel do Consórcio Midiático, trabalhando em duas frentes, plantando Fake News contra Bolsonaro – acusando-o até de importunar uma Baleia no litoral paulista – e criminalizando os inocentes manifestantes, idosos crianças evangélicos, encarcerando-os como terroristas que atentavam contra o Estado de Direito Democrático, não obteve êxito. Após um ano, perceberam que se perderam em suas próprias narrativas. Não tinham como operar o milagre de Lula ser ovacionado.
Mudaram a estratégia. Lula se dispôs a se abraçar com a direita. O PT e esquerda que se explodam. Nomeou ferrenhos adversários para a Esplanada dos Ministérios, como membros do União Brasil, Republicanos… E prestigiou o PP, desprezando sua legenda.
Concordou e apoiou o aumento estratosférico nos valores das emendas parlamentares, acima do sonhado pelo parlamento. Mesmo assim, não conseguia o apoio do povão. “Se Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé”.
Sem o menor pudor, destemido de críticas pelo seu gesto obsceno, Lula foi a São Paulo e abraçou Tarcísio de Freitas. Prometeu 8,0 bilhões de reais para projetos de obras. Antes já havia destinado recursos a Ratinho Júnior do Paraná. De lá, partiu para Minas Gerais, escorou sua cabeça no ombro de Romeu Zema, garantindo que negociaria o rombo histórico do Estado, eterno devedor do Tesouro Nacional. Para fechar a agenda, Cláudio de Castro, governador do Rio de Janeiro, pôs tapete vermelho para recebê-lo. Convênios bilionários foram assinados. Não criticou Bolsonaro em nenhum momento. Agiu como se a história tivesse começado agora. Nada de PT, “golpe branco eleitoreiro”, sem conspiração que o pôs no poder; atos de força do TSE/STF e ignorando a perseguição insana aos legalistas conservadores. A direita e o antipetismo tomaram uma pancada na cabeça. Tontos, ainda não perceberam que Lula escolheu ficar ao lado, para não ser apupado, escrachado ou vaiado pelo povão.