Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

LULA ARRISCOU MEDIR SUA POPULARIDADE E FOI VAIADO NO ENCONTRO COM PREFEITOS

Publicado em 22 de maio de 2024

Com um público de 11 mil pessoas – inscritos através do site da CNM – estima-se que 95% dos 5.565 prefeitos do Brasil estiveram ontem (21/05/2024) em Brasília, participando da XXV edição da Marcha dos Prefeitos, evento organizada pela Confederação Nacional dos Municípios, realizado anualmente, iniciado em 1998.

Como se tratava de um ato solene, o presidente Lula resolveu participar do seu principal momento, ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin e do Chefe da Casa Civil, ex-governador da Bahia Rui Costa. Deve ter imaginado – e talvez até sido aconselhado – a testar ou “desmistificar” a sua indiscutível rejeição, que ele se recusa aceitar.

Entretanto, o ambiente seleto o favorecia. Lá estava o Nordeste – segundo institutos de pesquisas – seu maior reduto, marcando presença cerrada. O público era composto de autoridades municipais (Prefeitos, vice e Secretários). Não haveria debate político, e ele aproveitaria o ensejo para “faturar popularidade”, anunciando que pelo menos neste ano de 2024 os municípios com população de até 120 mil habitantes estariam fora da reoneração da folha de pagamentos.

Lula esqueceu – talvez lapso de memória – que ele, além de vetar a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia, barrou a inclusão dos municípios. Ajuizou ação no STF, e com decisão liminar monocrática desmoralizou o Congresso Nacional. Não há registros na história de vaias em solenidades deste nível. Prefeitos apupando, gritando palavras de ordem, como: “Lula ladrão seu lugar é na prisão”! Nem o mais radical bolsonarista esperava tamanha reação, motim, ou atitude de revolta.

Houve poucos aplausos, e ainda tentaram ensaiar “Lula Lá…”. Mas, o coro dos insurgentes foi bem maior e bagunçou por completo o recinto. O presidente da CNM, Paulo Ziuloski, interviu. Pediu calma, silêncio e exigiu respeito aos convidados. Destacou que naquela ocasião não cabia manifestações de esquerda, direita ou centro. O constrangimento não foi só do presidente da CNM. Mas, ficou perceptível o desconforto de Lula, Alckmin, Rui Costa e demais membros da equipe do governo, que não subiram no estrado, onde assentaram-se as autoridades, que em tese, seriam homenageadas.

No encontro do ano passado (2023) Lula, temeroso, escalou o vice Alckmin como seu representante. Não foi vaiado. Todos ouviram seu discurso por completo, num profundo silêncio, sem intervenções eventuais de aplausos. Contiveram a insatisfação. Sua postura mansa, sempre respeitosa com o povo, e suas explanações didáticas, foram merecedoras da tolerância dos presentes. Se ontem Lula o tivesse escalado mais uma vez, temos certeza que não teria sido vaiado. As vaias têm destino certo e remetem-se às eleições de 2022. Os alvos são os culpados de sempre: Lula, Ministros do STF/TSE.

Estamos num ano eleitoral, restando 139 dias para o primeiro turno. Não vimos (pela TV) nenhuma mobilização dos presentes, na busca de se aproximar do Presidente, para fazer uma selfie e postar nas suas redes sociais, exibindo prestígio para conquistar eleitores. Provavelmente, alguns xiitas do PT o fizeram. Municípios onde a legenda ainda tem candidato em nível de disputa.

Lula leu seu discurso tenso, e com rapidez, temendo a volta do coro. No final, deixou recado de descontentamento: “o que mais precisa hoje o Brasil é de civilidade”. Deve ter constatado definitivamente que o PT – não as esquerdas – agoniza. Vive os estertores de seus últimos momentos de existência, como legenda. Não terá fôlego para alcançar a disputa de 2026, mesmo com apoio do “Establishment”.