Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

LOROTA BOA

Publicado em 5 de abril de 2023

O prefeito Bruno Cunha Lima saiu vitorioso nesse embate onde a Câmara Municipal, por maioria, lhe deu aval para pegar R$ 300 milhões emprestados e, se tiver a competência que até agora ainda não mostrou, ‘dourar a pílula’ da sua ainda incipiente gestão.

Restam-lhe pouco mais de um ano e oito meses para fazer isso, mas o histórico de letargia do seu trabalho não sinaliza que possa, nesse diminuto lastro temporal, fazer alguma revolução.  

A passos de tartaruga, Bruno capengantemente se insere na nossa história como o pior prefeito das últimas décadas, troféu realmente deplorável para tão jovem político ostentar. E a preço de hoje, ouvindo-se os cochichos das esquinas – no centro e na periferia – só por milagre ele poderia renovar o mandato.

E em sendo assim, essa montanha de dinheiro que ele vai pegar nos próximos dias, efetivamente, no todo não lhe salvará a pele… Mas, para quem hoje já não dispõe mais do fermentado cofre do Cartório do saudoso avô para suprir as suas imediatices milionárias, pelo menos serve de alento, de conforto, de “ombro amigo” para eventuais necessidades que fatalmente surgirão doravante. Mesmo porque sedentos construtores e empresários-amigos prontos para abocanhar licitações é o que não falta agora nos arredores do Palácio do Bispo. E, como se diz no obscuro meio político, não é de hoje que “uma mão lava a outra”…

Eu, que continuo um profundo desconhecedor de números, principalmente os financeiros, tanto é verdade que a duras custas nesses meus vividos longos 70 anos só consigo mesmo arrumar o da feira para evitar que a prole passe maus bocados, fiz questão de não entrar no mérito da necessidade ou não do prefeito ir assim tão desesperadamente atrás dessa oportuna grana.

Assim como me valho de empréstimos a cada vez que no contracheque aparece uma margem consignável positiva, entendo que Bruno fez correto ao aceitar os $ 300 milhões por conta de ter – como ele se orgulha em propagar – colocado a prefeitura em ponto de bala no tocante à capacidade de endividamento.

É certo também que o tal empréstimo municipal não pode ser comparado a um consignadozinho que o coitado do barnabé se obriga aqui ou acolá a fazer, porque o faz sabendo que o contracheque do fim do mês virá menor, diferente do que vai acontecer com Bruno Cunha Lima, que não vai botar a mão no bolso (o cofre da PMCG) para pagar nenhuma parcela de tudo isso que vai pegar.

E esse é um ponto importante a ser mostrado à opinião pública, coisa que os ilustres vereadores que votaram contra não fizeram.

Vamos lá, então!

O orçamento da Prefeitura Municipal de Campina Grande para este ano da graça de 2023 é de R$ 1.673.890.000,00, o que vale dizer que o empréstimo representa quase uma sexta parte desse valor. Sabendo-se que R$ 1.434.265.000,00 desse orçamento é verba “carimbada” da administração direta (Pessoal, Educação, Saúde, Obras etc.), significa dizer que o aporte ocasional desses R$ 300 milhões é maior do que os R$ 239.625.000,00 que não são “carimbados” na peça orçamentária.

Outra coisa: essa “sobra”, pelo menos na lei orçamentária, em tese se destinaria ao IPSEM, à STTP, à AMDE e à URBEMA, o que os entendidos em orçamento público bem sabem que na realidade não é assim que funciona. A STTP, por exemplo, nada em rios de dinheiro com a bem azeitada indústria de multas que implantou e que funciona com espetacular competência em Campina Grande.

Mais uma outra coisa importante: ano passado, a Câmara deu aval para Bruno captar R$ 80 milhões, que também dizia ser para OBRAS ESTRUTURANTES, muitas delas agora inseridas na justificativa que levou aos vereadores para obter licença de pegar mais R$ 300 milhões.

A isso eu dou um nome simples: LOROTA! Que o prefeito fez os seus dignos vereadores da base de sustentação – e outros três oposicionistas – engolirem sem água, só no cuspe!

Mas, louve-se pelo menos a capacidade de convencimento de Bruno, anos-luz de distância da capacidade de entendimento dos vereadores que sentam com ele à mesma mesa.

Eu mesmo ouvi ontem o jovem e – algo raro na equipe – competente secretário de Finanças do Município revelar à dinâmica Valéria Assunção, nos microfones da CBN local, que a prefeitura terá uma carência de 60 meses para começar a pagar a operação.

Isso mesmo: cinco anos. Como Bruno só tem de mandato pouco mais de 18 meses, é óbvio que não está nem aí para o que vier… E o próximo prefeito, que números de hoje avaliam não será mais ele,  também não tem porque se preocupar.

Passada essa tão generosa carência, aí sim a prefeitura vai começar a desembolsar numerário para honrar o compromisso assumido por BCL e terá para isso – sabe-se lá quem estará prefeito na época – mais uma década, ou 120 meses.

Repito: eu, que não entendo de números, mas não sou leigo total no assunto, posso apostar que os R$ 300 milhões de agora vão estar bem mais do que R$ 1 bilhão na hora de se calcular o valor das parcelas, quiçá não superem os valores totais do orçamento anual da prefeitura.

Paro por aqui, lembrando a música do cancioneiro popular: a da “lorota boa”.