Jubileu de prata do Shopping de Campina Grande: um presente de Ney Suassuna

Publicado em 22 de julho de 2024

No final dos anos setenta (século XX), chegando atrasado na história, o Brasil começou a viver a “febre” dos Shopping Center. Formato renovador, que sucedeu as grandes lojas de departamentos, como a Mesbla, Casas da Banha, Lojas Brasileira, Americanas… O pioneiro do nordeste, Iguatemi, foi instalado em Salvador (BA), construído pelo grupo empresarial pernambucano Paes Mendonça.

Shopping Center é um investimento milionário, de alto risco. Empreendedores da área contratam empresas de consultoria especializadas, com know-how neste nicho de mercado, para avaliar a viabilidade econômica. Realizam estudos minuciosos, orientados por pesquisas, averiguando diversos tópicos, em distintos aspectos, desde o poder aquisitivo da população, até seu comportamento sociocultural, para identificar a compatibilidade do empreendimento com o perfil do consumidor.

Campina Grande – 400 mil habitantes – não preenchia os requisitos exigidos para instalação de um Shopping Center.

O então senador Ney Suassuna, na época, acabara de conter a expansão das favelas na cidade, destinando 16 milhões de reais – valores hoje corrigidos, que correspondem a 160 milhões – recursos para urbanizar o Pedregal. Imaginem o que seria Bodocongó com o avanço das invasões? Uma “Rocinha” do Rio de Janeiro. Drogas, promiscuidade infanto-juvenil, criminalidade banalizada, se assentariam nestas ocupações clandestinas, que se expandiriam por outros bairros da cidade. Ney evitou que Campina vivesse as mesmas agruras dos habitantes das regiões metropolitanas de João Pessoa, Natal, Recife, Maceió, cidades sitiadas por cinturões de favelas.

Entusiasta, esbanjando otimismo para posicionar a Paraíba – em especial Campina Grande – sempre na vanguarda, prometeu trazer um Shopping Center para a Rainha da Borborema.

Campina tinha que se tornar cada vez mais Grande. Céticos, seus adversários políticos, faziam chacota da promessa. Em maio de 1998, numa solenidade simples – boicotada pela mídia e classe política local – com presença de poucos, Ney fez um discurso no terreno e pôs uma pedra fundamental, simbolizando o início da obra, a ser concluída em um ano.

Em 29/04/1999, há 25 anos, o Shopping Center de Campina Grande foi inaugurado. Um mês antes do prazo estabelecido. As maiores cidades do interior nordestino, que competiam com Campina Grande, ficaram para atrás. Caruaru, Feira de Santana, Petrolina… Inclusive capitais, como Aracaju (SE), São Luís (MA) e Teresina (PI). As dificuldades foram imensas. Ney procurou um campinense, filho de Newton Rique, comandante da rede Iguatemi, que de início não topou. Desconhecendo a palavra “impossível”, foi em frente, juntou-se a dois judeus capitalistas, convencendo o filho de Newton a entrar no quarteto e viabilizarem a empreitada. Entretanto, Ney era o caucionante. Se fracassasse, responderia pelo prejuízo, com seus bens patrimoniais.

O Shopping esteve no vermelho (prejuízos) por quatro anos. Ney bancou a aventura. Quando atingiu seu ponto de equilíbrio, seus sócios compraram sua parte.

O amigo Alfredo Lucas, médico campinense que concluiu seu curso no Rio de Janeiro e por lá trabalhou após colar grau, nos relatou que em certa ocasião foi almoçar com sua esposa no Copacabana Palace Hotel. Lá, avistou Newton Rique. Dirigiu-se à sua mesa, e o cumprimentou como um campinense. Após ouvir e sentir um certo desdém de Newton, por suas origens, desabafou: “você é um dos filhos mais ingratos de Campina Grande, que deu tudo a sua família: prestígio, fortuna e fama. Em troca, vocês corresponderam com o abandono”. Desmerecem o meu respeito e admiração. Após o desabafo, Alfredinho retirou-se do ambiente.

Inversamente a Ney, foram negadas todas as oportunidades na Paraíba. Decidiu ir para o Rio de Janeiro. Venceu economicamente e conquistou o respeito da Cidade Maravilhosa. Mas, não esqueceu Campina Grande, nem a “pequenina Paraíba”. Gastou muito de seu patrimônio pessoal com a classe política para mudar o Estado, modernizá-lo, e resgatar seus valores históricos. Não é justo que esqueçam sua luta. Distante da orla, o Shopping de Campina Grande hoje é também um espaço de lazer e socialização.

Fonte: Da Redação (Por Júnior Gurgel)