Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

José Lopes de Almeida (3)

Publicado em 7 de outubro de 2024

A volatilidade religiosa de meu pai me assustou na minha infância feliz e na minha adolescência de saudade, além de me surpreender no adulto que me tornei, já pai de três filhos. Não foi fácil para minha mãe tão carola, e muito estranho para mim, ver Zé Patrício frequentar, repentinamente, cultos de matrizes africanas. Ele, que nos levava à missa aos domingos e a acompanhava às terças-feiras na novena em Bodocongó.

Ainda bem que nunca forçou a companhia de Dona Cleonice nessas andanças e não a impediu que continuasse na sua prática católica, nem falou em levar os filhos. Também, todos pequenos… Eu, o mais velho, tinha entre seis, oito anos. Se bem que, na insistência de uma dor em um dos meus braços, apelou ao líder do terreiro. Não lembro o ritual e se tomei alguma coisa. Recordo que a dor foi curada.

Sofrimento familiar sentimos, mesmo, quando ele resolveu morar em Patos e lá se tornou evangélico. Um crente, na linguagem da época, exageradamente radical. Logo empatou todos em casa de ir à missa. Até mãe, que, doravante, começou a frequentar a Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Belo Horizonte, às escondidas. No dia em que ele descobriu, agiu duramente. Felizmente sem violência física. Só Deus e ela sabem como reagiu, mas conseguiu a libertação.

Eu, na determinação de meus 12 anos, igualmente decidi celebrar a Eucaristia de forma escusa. Recordo, rindo, daquele domingo quando estava na calçada da Catedral de Patos esperando, descontraído, iniciar a celebração e avistei, vindo na calçada, o pastor da igreja que papai frequentava.

Não sabia nem que existia Nossa Senhora do Pilar, mas hoje, lembrando desse acontecimento inesperado, estou certo de que ela me protegeu naquele instante. Pois dei um pulo tão rápido para trás e me escondi no pilar do templo, até o sacerdote protestante passar.

Hoje, fico me perguntando como papai permitiu, no exercício de sua radicalidade religiosa, que dois dos três filhos nascidos em maternidade patoense fossem batizados com nomes de invocação mariana: Maria do Carmo e Maria da Guia.

José Lopes de Almeida tinha uma volatidade impressionante. Quando pequeno, eu costumava ajudar minha mãe nos afazeres domésticos. Ele me reclamava. A cirurgia cardíaca aos 45 anos causou-lhe mudanças radicais na vida, entre elas, tornar-se vegetariano, ele mesmo preparando e limpando tudo. Se antes brigava comigo, temendo uma traição minha à natureza que me fez macho, doravante passou a cuidar de suas próprias refeições.

Não era para eu estranhar a vocação de papai às mutações. Se tivesse observado essa tendência, não teria me surpreendido tanto (e como me surpreendeu!) quando ele chegou em nossa casa, que funcionava também como comércio, no final da manhã daquele domingo. Perguntei-lhe de onde vinha. Veio, atendendo a convite meu, após as reformas feitas. “Venho da missa”, respondeu.