Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
JOGO COMBINADO
Publicado em 15 de dezembro de 2023O Palácio do Planalto se absteve de festejar como “vitória” as sabatinas e aprovações simultâneas no plenário do Senado Federal, dos seus indicados para a PGR – Paulo Gonet – e STF, ministro da justiça Flávio Dino.
O radical ministro Flávio Dino – abraçado até pelo senador Sérgio Moro – pintou seu autorretrato surpreendendo quase todos os senadores. Bem assessorado, o ex-vice-presidente senador Mourão revelou discretamente sua performance “carreirista”. Distinguiu o seu notório saber jurídico (doze anos Juiz Federal), mas nas entrelinhas “grifou” sem verbalizar que a política para Flávio Dino foi um meio ou o caminho escolhido para realizar seu verdadeiro sonho: ser Ministro do STF.
Na sua indagação, Mourão se limitou a ler uma PEC com conteúdo que limita a indicação do Presidente da República para Ministros do STF em apenas cinco. As demais vagas seriam duas da Câmara dos Deputados, duas do Senado Federal e duas das Cortes Superiores de Justiça. Exige elaboração de uma lista tríplice, onde os candidatos ao cargo teriam o endosso da OAB, STF, STJ, Associações de Magistrados, Ministério Público e Conselhos Universitários. A PEC fixa o mandato dos ministros do STF em 11 anos.
Ao concluir a leitura, o senador Mourão destacou: autor, o deputado federal Flávio Dino. O sabatinado riu e acrescentou: o senador esqueceu apenas o ano, 2009. E ainda está aí… A PEC era a estrada que Dino construía para chegar ao STF.
Ao longo de suas respostas – réplicas e tréplicas – Dino destacou que conhecia o Juiz Federal Sérgio Moro, a quem pediu voto e foi atendido, quando disputou a presidência da Associação de Juízes Federais do Brasil, eleito para o biênio 2000/2002. Indagado sobre o aborto, foi enfático: este tema não é do STF, pertence ao Congresso Nacional. E as decisões “Monocráticas”? Confessou ser absolutamente contra. O Senado votou recentemente uma PEC, extinguindo as decisões monocráticas.
Na sua peregrinação pelo Senado, pedindo votos, Dino assumiu compromissos. Se vai honrá-los ou não, saberemos no futuro. Mas, o fato do seu arqui-inimigo, ex-presidente José Sarney, ter sido seu cabo eleitoral, fica patente que ele é um homem do “sistema”. E o comunismo pregado abertamente por Dino? Oportunismo. No ano de 2010, foi candidato a governador do Maranhão e derrotado por Roseana Sarney. Bem que procurou a legenda e apoio do PT. Lula negou. Devia seus dois mandatos a Sarney, que sepultou o Mensalão, e garantiu sua reeleição. Sua única opção foi o PCdoB.
Voltou a disputar novamente em 2014. O candidato era Edson Lobão Filho. Seu pai, Ministro Edson Lobão, no passado adversário ferrenho de Sarney. Mas, como todo adversário de Sarney um dia se torna seu aliado, estiveram juntos em 2014 para enfrentar Dino. O desgaste do início da Lava-Jato, cuja origem foi prender o reincidente doleiro Alberto Youssef, comprando por dois milhões de dólares um precatório do Estado do Maranhão – final do mandato de Roseana – deu a Dino o discurso que “metralhou” o PT/MDB. E quem era o Juiz que prendeu Youssef? Sérgio Moro. A Petrobras era vinculada ao Ministério das Minas e Energia, tendo à frente Edison Lobão, que imediatamente renunciou. Todavia, não escapou de ser citado em inúmeras delações.
Após sua reeleição em 2018, derrotando Roseana, Dino viu o estrago sofrido pelas esquerdas, e principalmente seu partido PCdoB, que praticamente se dissolveu. Trocou de legenda em 2021, e foi abrigar-se no PSB. Como a presidente do PT Gleisi Hoffmann não tem memória curta, ainda lembrava do antipetismo de Dino em 2014, e seus discursos inflamados contra a corrupção, Dino não contou com apoio de nenhum petista “raiz” para ser indicado ao Ministério da Justiça. Tomou no grito.
O ex-ministro Delfin Neto, referindo-se a Ministros do STF, cunhou uma frase: “eles não tem passado, só têm futuro…” Dino prometeu abandonar a política, partidos e militância. Ótimo para Sarney. Vestirá a Toga, e incorporará a “liturgia do cargo”. O PT não comemorou. Venceu o “sistema”, com total apoio da Direita.