João escorrega no guia da TV ‘escondendo’ família do vice Lucas de integrar oligarquia criminosa na Paraíba
Publicado em 7 de setembro de 2022O governador João Azevedo (PSB), que é candidato à reeleição, pagou inominável ‘mico’ no guia eleitoral da TV de hoje (07), data alusiva ao bicentenário da Independência do Brasil.
Repetindo discurso no desfile cívico-militar do último sábado em João Pessoa, o Chefe de Estado paraibano ressaltou que “esse é um momento extremamente relevante para todos nós” e reafirmou que “a Independência deve ser celebrada por cada brasileiro”. Mas, fez um acréscimo desnecessário e incondizente com a realidade paraibana – de que a Paraíba além de estar independente, tinha também se libertado de algumas famílias, em alusão às oligarquias políticas que a seu ver comandavam o Estado há décadas.
O objetivo do texto que João leu no teleprompter era, obviamente, destinado a mostrar ao eleitor que oligarquias como a dos Cunha Lima ou dos Regos – adversárias a ele na atual campanha – já fazem parte do passado.
Aguinaldo Veloso, avô de Daniela e de Aguinaldinho; bisavô de Lucas Ribeiro
Mas, ao posar como único ator político distante da “praga” familiar que se sucede no comando da gestão pública estadual, João Azevedo acabou por deixar em maus lençóis as outras famílias oligárquicas que estão lhe emprestando apoio: os Paulinos, de Guarabira; os Maias, do deputado Gervásio Maia; e principalmente os Ribeiros do seu vice, Lucas, cujo bisavô – o célebre usineiro Aguinaldo Veloso – comandava além da sua própria oligarquia, aquelas do perigoso Grupo da Várzea, que foram, em diferentes períodos históricos, se reorganizando e criando formas de permanência em um lugar de privilégio e poder no cenário político paraibano, mesmo tendo sido implicadas em diversos crimes cometidos contra camponeses paraibanos.
Durante a Ditadura Militar de 1964, os partidos políticos do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partidos do período da repressão, eram representados pelos nomes dos herdeiros das mesmas famílias políticas que vinham se reproduzindo no controle e dominação das instâncias de poder na Paraíba nos períodos anteriores.
Margarida Maria Alves, assassinada a mando do Grupo da Várzea, discursando em comício sindical
A força política das oligarquias que integravam o Grupo da Várzea, sob comando do bisavô de Lucas, é bom lembrar que foi construída por meio da tessitura de alianças entre famílias poderosas. As redes de relações estabelecidas entre essas famílias foram, ao longo do tempo, constituindo-se em uma das características do fazer político na Paraíba e o poder familiar foi absorvido e legitimado como parte do interesse público no Estado, possibilitando que uma mesma família controlasse politicamente um município por décadas, através de seus descendentes.
O capital simbólico vinculado ao nome da família perpassa gerações. Mudam-se os nomes, permanecem os sobrenomes, o que se comprova com a manutenção do patronímico nos herdeiros. Mantém-se o sobrenome e perpetua-se a influência política.
Parte da trajetória política da família Velloso Borges, integrante do Grupo da Várzea, definida como uma família política por José Marciano Monteiro, professor da Universidade Federal de Campina Grande e autor de ‘A Política como Negócio de Família’, mostra que o patriarca Aguinaldo Velloso Borges, implicado nos assassinatos de duas das mais expressivas lideranças camponesas na Paraíba – João Pedro Teixeira em 1962 e Margarida Maria Alves em 1983 – era proprietário da Usina Tanques em Alagoa Grande e construiu uma extensa rede de relações políticas a partir do entroncamento com outras famílias poderosas, resultando em uma influência que o projetava da escala local para a esfera federal.
Deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) e senadora Daniella Ribeiro (PP), netos de Aguinaldo Velloso Borges e base de apoio de João Azevedo
Entre as famílias entrecasadas com os Velloso Borges, destacam-se as famílias Ribeiro Coutinho, Maroja, Ribeiro e Gusmão. Todas estas são tradicionais oligarquias vinculadas à indústria açucareira, à pecuária e/ou ao algodão.
Apesar de ser sempre citado como forte liderança política reacionária da oligarquia paraibana, Aguinaldo não concorreu muitas vezes a cargos eletivos. Conforme pesquisa no site do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE/PB), verifica-se que ele foi eleito prefeito de Pilar em 1947 e Deputado Estadual em 1950, 1962 e 1966, tendo ficado como suplente de Deputado Estadual no pleito eleitoral de 1958, suplência essa que lhe rendeu imunidade parlamentar por meio de escandalosa e orquestrada manobra para que não respondesse pelo assassinato de João Pedro Teixeira.
Mesmo não saindo diretamente candidato, o usineiro, por intermédio de uma extensa rede política familiar e de laços personalísticos de amizade, exerceu, ao longo de toda a sua vida, um domínio muito forte na Paraíba. De acordo com José Avelar Freire, na obra ‘Alagoa Grande: sua história, de 1625 a 2000’, Aguinaldo Velloso Borges era a liderança política de maior prestígio com o Governo Federal durante a Ditadura Militar.
Depois do governador João Agripino Filho (avô do aliado de João, Gervásio Maia), Aguinaldo bisavô de Lucas Ribeiro era na Paraíba quem mais prestígio tinha com os militares, quer no Estado, quer em Brasília; e esse prestígio durou até o seu falecimento em 1990.
Como só teve filhas, Aguinaldo construiu sua rede política por meio da inserção de seus genros na carreira. Conforme Margot Matwychuck, uma estratégia de casamento típica das famílias sem filhos homens que possam conduzir a reprodução da linhagem política enquanto “herdeiro político” é buscar, nos genros, habilidades específicas para conduzir os empreendimentos da família ou representar a família na arena política.
De fato, os casamentos de suas filhas agregaram poder econômico e força política à família, que, atualmente, continua a ocupar cargos eletivos na Paraíba. O caso de uma de suas filhas, Virgínia Maria Peixoto Velloso Borges, é bastante elucidativo. Tanto ela quanto o marido Enivaldo e dois de seus filhos, Aguinaldo e Daniella Ribeiro, mais agora o neto Lucas, lançaram-se na vida política no Estado.
Marido de Virginia, Enivaldo Ribeiro é descendente de uma tradicional oligarquia paraibana vinculada à produção de algodão e cana-de-açúcar. Sua avó paterna, Ermelinda Ribeiro, era irmã do Coronel Salvino Figueiredo, pai de Argemiro Figueiredo e Vicentina Figueiredo, e possuía grande influência política na Paraíba. Vicentina casou-se com o major Veneziano Vital do Rêgo (avós, portanto, do atual senador e candidato opositor de João, Veneziano Vital do Rêgo Segundo Neto e do Ministro do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo Filho), agregando ainda mais força política à família.
A força política e econômica do grupo familiar perpassa gerações, projetando-se nos netos de Aguinaldo Velloso Borges, que são Daniella Ribeiro e Aguinaldo Velloso Borges Ribeiro, e agora no bisneto Lucas que a assessoria de João excluiu, por desinformação, dos grupos oligárquicos estaduais.
Daniella Ribeiro ocupou cargos de deputada estadual e vereadora. Aguinaldo Ribeiro foi, seguidas vezes, eleito deputado estadual e federal. O reconhecimento do poder político da família evidenciou-se, também, por meio da nomeação de Aguinaldo Velloso Borges Ribeiro para assumir o Ministério das Cidades no primeiro mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff, a qual, em visita ao Estado da Paraíba em 2013, foi almoçar na granja da família Velloso Borges Ribeiro.
Em âmbito local, Virgínia Maria Peixoto Velloso Borges foi eleita para a prefeitura do município de Pilar-PB e o seu marido, Enivaldo Ribeiro, já assumiu cargos de prefeito e vice-prefeito em Campina Grande, deputado estadual e federal.
A rede política de Aguinaldo ia além de seus parentes próximos, incluindo amigos junto aos quais o usineiro tinha prestígio e respeito e que, por isso mesmo, foram decisivos para a proteção que recebeu ao longo de toda a sua vida, morrendo sem ter sido levado à Justiça pelos assassinatos de João Pedro Teixeira e Margarida Maria Alves, dos quais foi apontado como mandante.
Fonte: Da Redação