Inteligência artificial concilia conhecimento humano e tecnológico em sala de aula

Publicado em 30 de março de 2023

A inteligência artificial (IA) influencia o dia a dia de diversas áreas como saúde, indústria, direito e, claro, a educação. A possibilidade de usar a tecnologia como ferramenta de apoio proporciona diversos benefícios em sala de aula para aluno e professor. Ferramentas que se assemelham à inteligência humana podem automatizar processos burocráticos, aprimorar a aprendizagem do estudante e propor melhorias que o docente sozinho não consegue se desdobrar para executar.

Em sala de aula, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Social da Indústria (SESI) usam plataformas de IA como uma aliada ao aprendizado em sala de aula, permitindo antever quando um aluno entrará em situação de reprovação ou, ainda, ajudar a fazer um match entre o aluno em busca uma oportunidade no mercado e uma empresa com vagas abertas.

Correções de redação descomplicadas

E se a pilha de redações para corrigir, ao invés de ocupar tanto tempo do professor, fosse resolvida por uma inteligência artificial? A Letrus é um programa de apoio à correção e ao aprimoramento das redações dos estudantes. Começou a ser implementada em 2022 nas escolas do SESI de 21 estados e o Distrito Federal. De lá pra cá, a ferramenta corrigiu 447.279 de mais de 100 mil alunos!

Por ser uma tecnologia, o professor de redação e língua portuguesa Carlos Raniery, da Escola SESI João Ubaldo Ribeiro, em Luís Eduardo Magalhães (BA), tinha receio quanto à qualidade da correção dos textos. Logo o medo foi substituído pela percepção de benefício ao conhecer o histórico da plataforma e observar o uso por parte dos alunos. Mais que uma ferramenta, “a Letrus é minha maior parceira nas aulas de redação”, avalia.

O professor Carlos Raniery ao lado de alunos do 3º ano durante a Oficina de Redação da escola

Ele conta que, pela agilidade e pela qualidade, a inteligência artificial permite que ele foque no planejamento das aulas e no acompanhamento dos alunos. A união da tecnologia com a redação foi um acerto, contribuindo para o desenvolvimento da escrita nos estudantes. “Melhora a qualidade da aula, da correção, do envolvimento e do entrosamento dos alunos com a prática escrita.  Essa relação foi totalmente fortalecida para perceber que a Letrus é o estagiário de correção mais eficiente do mundo”, brinca.

Como funciona a plataforma Letrus

Em sala de aula, a Letrus não só corrige as redações, como colhe materiais, seleciona novas propostas de redações e compreende o desenvolvimento de competências. A IA avalia textos dissertativos e usa os mesmos critérios adotados pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para as turmas do Ensino Fundamental, os textos são avaliados com base em aspectos ortográficos, gramaticais, coesão e coerência, desenvolvimento da proposta, entre outros.

Os estudantes escrevem os textos diretamente na ferramenta e recebem revisões imediatas, com correções e orientações individualizadas. O professor recebe gráficos com as evoluções da turma e de cada aluno. A ideia é diminuir a quantidade de páginas que os professores têm para corrigir. Assim, eles priorizam estratégias para melhorar os aspectos apontados pela Letrus.

Com a inteligência artificial, a média geral da Rede SESI evoluiu 11,3%, considerando os resultados do Enem 2021. Enquanto a média do Brasil está em 634 pontos, a do SESI atingiu 664 de 1000 pontos.

“Além de facilitar a vida do professor, a gente está incentivando o aluno a melhorar e sair preparado para o Enem e para o mercado de trabalho, com o aperfeiçoamento da escrita. A gente tenta inovar para ajudar os dois”, ressalta Claudia Silva, analista de Desenvolvimento Industrial do SESI. “Prezamos muito pela tecnologia para atrair os estudantes.”  


Melhor prevenir do que remediar

Inspirado nos programas de prevenção de desastres, o SESI tem em funcionamento, desde julho de 2022, em Alagoas, o programa de predição de reprovação. Imagine uma barragem cheia de alarmes. Em caso de alguma ocorrência, alertas são enviados para a defesa civil e a população é evacuada. O sistema evoluiu para áreas como saúde e educação e, hoje, esse mesmo conceito é utilizado para prevenir a reprovação de alunos.

O gatilho para os alertas vem com notas e comportamentos, como desobediência em sala de aula. Se um estudante vai mal em uma avaliação, por exemplo, esse alerta é emitido. A IA investiga o que está acontecendo, lê todo o histórico de notas e consegue remediar antes de o desastre real ocorrer: a reprovação.

Segundo o especialista em Desenvolvimento Industrial do Observatório Nacional da Indústria Daniel Lopes, as escolas SESI têm uma taxa de reprovação inferior às instituições da rede particular ou pública. Ainda assim, “todo aluno que for possível salvar da reprovação vale a pena”.

Se a IA antecipa quais alunos estão em risco, o corpo pedagógico consegue desenhar intervenções com um trimestre ou dois de antecedência da eventual reprovação.

E esse é o principal motivo de investimento na plataforma. A escola tira o professor de trabalhos administrativos e, de acordo com Lopes, isso se converte numa economia de tempo de 20% a 40%. Assim eles chegam no objetivo para melhorar a experiência do aluno e otimizar o docente: “Você tem esse professor dedicado a fazer um plano de aula e fazer intervenções bem-sucedidas em sala de aula”.

IA fornece uma visão abrangente do desempenho do aluno

A IA é capaz de incorporar o controle de frequência, o desempenho do estudante, notas e comportamentos. Além disso, utiliza avaliações anteriores e atuais para prever se o aluno irá bem ou mal nas disciplinas com base no que ele aprendeu.


“Se um aluno tem um componente de dificuldade de aprendizagem e comportamental, eu consigo sugerir intervenções que trabalhem o lado comportamental, não só uma dimensão de aprendizagem, mas algo mais lúdico e terapêutico”, ressalta Daniel. “Trabalhar não só um lado instrucional, mas de desenvolver um aluno por completo.” 


Com a primeira versão em teste, sendo aplicada em Alagoas, a expectativa é expandir a IA para outros dois Departamentos Regionais do SESI, em 2023.

Em busca do match perfeito

Já pensou ter um Tinder, o famoso aplicativo de relacionamentos, só que voltado para o emprego? Ou acessar uma plataforma que indicasse qual curso superior combina mais com o seu perfil? E, professor, imagina poder prever a evasão de estudantes ou ainda promover uma aprendizagem adaptativa adiantando conteúdos que o aluno precisa aprender? Essas são algumas das inteligências artificiais desenvolvidas nas escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) na maioria dos estados brasileiros.

Para Felipe Morgado, superintendente de Educação Profissional e Superior do SENAI, essas ações existem para dar suporte a três áreas: a escola, as empresas e os alunos.


“Primeiro, é a possibilidade de ajudar as pessoas a terem um sucesso na vida e na carreira, porque você consegue identificar as características e isso faz com que elas consigam um maior resultado. Segundo, as empresas conseguem ter um profissional mais qualificado”, avalia. “Por último, as pessoas podem aprender mais e deixarem de desistir de um curso. A pessoa vai aprender mais, estudar o que gosta e ter mais chances no mercado.”  

Se liga e confira as plataformas abaixo:

Profissão ideal

Na plataforma Mundo SENAI, o usuário pode ter uma orientação de carreira, de curso e qual a área tem mais a ver com as suas características socioemocionais. São mais de 94 características. Assim, é feito um encontro entre o estudante e as profissões a partir do que mais combina com a pessoa.

Tinder do emprego

Ainda no Mundo SENAI, agora a IA encontra vagas de emprego aderentes ao perfil do profissional. O Contrate-me tem uma ferramenta de inteligência artificial que analisa os candidatos e seleciona o perfil mais indicado para a empresa. O match é feito a partir das características socioemocionais, técnicas e do currículo do candidato. Em 2022, a plataforma preencheu mais de 12 mil vagas. Tanto o estudante, quanto a empresa podem se cadastrar.

Evitar o abandono escolar

Em sala de aula, uma inteligência artificial analisa 80 fatores do aluno e o classifica com alto, médio ou baixo risco de evasão a partir de características como frequência, carga horária, notas, pagamento e estado civil, por exemplo. Segundo Felipe Morgado, a ferramenta atua “para evitar que esse estudante desista. Não esperar o aluno sair ou pedir transferência ou trancamento para que a gente o acompanhe mais de perto”.

Aprender e adaptar

Por fim, existe ainda uma plataforma de aprendizagem adaptativa que sugere materiais de acordo com as informações que o aluno vê durante o curso. Ela identifica o que ele já sabe e o que tem que estudar. Não só um ganho de tempo, mas uma oportunidade de aprender mais. É uma ferramenta voltada para os cursos técnicos em Automação, Mecatrônica, Sistemas para Automação, Internet das Coisas e Mecânica no SENAI.

Para o futuro, o SENAI planeja um projeto com a Google para ofertar cursos acerca das competências que faltam nos profissionais. A IA deve ajudar a identificar quais são as formações que o SENAI precisa lançar e quais são as competências que o mercado de trabalho está exigindo no Brasil e no mundo. A previsão é que a plataforma seja lançada até o final do ano.

Fonte: Assessoria