Emir Gurjão

Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.

Gustavo Lima e Lula, candidaturas “outsiders”

Publicado em 5 de janeiro de 2025

Após ler o artigo de Rui Leitão (12/06/2024) sobre a possível candidatura de Gusttavo Lima à Presidência, lembrei-me do início da trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como o cantor sertanejo é visto como “outsider”, Lula também foi encarado dessa forma em sua primeira corrida presidencial.

Nas décadas de 1970 e 1980, Lula atuou como líder sindical, sem experiência administrativa. Sua voz peculiar (entre fanha e rouca), barba grande e estereótipo de “cachaceiro” quebrou padrões, enquanto a falta de um dedo na mão remetia a um operário que muitos julgavam “pouco sério” para a carga máxima da Nação.

Em vez de se filiar a um partido tradicional, Lula fundou o PT (Partido dos Trabalhadores), gesto feito como rebeldia e inexperiência. Os sindicatos onde militavam estavam envolvidos em escândalos de corrupção, e seus discursos de greve e ocupação de terras, somados ao confronto com empresas, o alocavam na extrema esquerda — algo que alarmava quem temia uma guinada de perigo econômico e ideológico.

Foi justamente esse caráter antiestablishment que mobilizou parcela importante da população, convertendo a campanha em um show midiático. Alguns diziam que o país estaria “à beira do abismo” se um “despreparado radical” vencesse. Hoje, vemos semelhanças em outras figuras do entretenimento e empreendedorismo que despontam na política como outsiders (é uma pessoa que não faz parte do sistema político tradicional) .

Apesar das controvérsias sobre seus governos, não se negou que Lula representasse uma ruptura. Cada contexto histórico é único, mas o fato de estranhos alcançarem posições de poder não é raro. Por isso, ao ouvirmos críticas a Gusttavo Lima, vale lembrar que Lula era tachado de “populista” e “calculista” — e que muitas dessas percepções mudam com o tempo e o exercício do mandato.

A lição que fica é não julgar apenas pelas aparências ou por estereótipos, mas avaliar propostas e conduta. A democracia amadurece quando a sociedade debate, questiona e decide nas urnas os rumores que deseja.

Escrito por Emir Candeia Gurjão, as 06:17 horas do dia 06 de Dezembro de 2024