Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Fé e afetividade

Publicado em 15 de fevereiro de 2024

A reação de uma criança pequena à sonoridade musical na missa dominical me fez refletir sobre a fé e a afetividade. No silêncio dessa meditação, fico a me perguntar se a fé nos leva à afetividade ou se a afetividade nos conduz à fé. São tão intrínsecas, que a palavra de uma contém a sílaba da outra, convergência que parece interpretar São Tiago quando nos diz que a “fé sem obras é morta”, e nos alerta, psicologicamente, que a fé deve estar permanentemente em atividade.

Recentemente, eu e Margarida vivenciamos, à distância, uma reação do neto de um ano e oito meses que transitou entre a fé e a afetividade, e emocionou a todos nós.

Margarida costuma ir todas as tardes, de segunda à sexta, ajudar a filha Morgana a cuidar dos filhos Miguel e José, de apenas quatros meses. A matilha que o Petgal hospeda exigiu dedicação exclusiva nesse período momesco, motivando-a a ficar uma semana sem ver as crianças. Nos cuidados com os netos, ela é muito criativa: canta, dança, inventa brincadeiras, conta histórias e estórias.

Eu mesmo, sem qualquer habilidade vocal, improviso para Miguel algumas músicas. Em consonância com o nome, costumo cantarolar para ele versos daquela composição de Assisão, sucesso do Trio Nordestino do tempo de Lindu. “Que ‘forrózinho’ bom/Parece cair do céu/Lá em Serra Talhada/Na Fazenda São Miguel”. Ele se desmancha em sorrisos. A avó transita entre clássicos infantis e hinos sacros, a exemplo de cânticos sobre Nossa Senhora.

Na missa deste domingo de carnaval, Morgana, com as antenas captando as mensagens eucarísticas e os olhos atentos nos cuidados filiais, se emociona ao se surpreender com Miguel mudando a fisionomia e lentamente caindo em choro ao ouvir o hino de Nossa Senhora que a avó cantarola para ele. E ainda falando, no seu sotaque infantil: “vovó, vovó, vovó”.

Na confusão que me vi entre a fé e a afetividade, concluo que o menino já constrói sua memória afetiva, baseada nos encantos da fé.