Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

Evitando o Alzheimer…

Publicado em 26 de julho de 2025

Não tenho, e nem espero mais ter, um milhão de amigos como propõe a divina música cantada pelo rei Roberto Carlos.
Ao longo dessas mais de sete décadas de vida cultivei muitos amigos, é bem verdade. A maioria já se foi por deliberação do Pai e poucos ainda moram aqui no lado esquerdo do peito.

Como diz o dicionário, amizade significa “sentimento de afeição, simpatia, apreço e estima recíprocos entre pessoas”. Quem vive uma amizade de verdade sabe, no entanto, que ela vai muito além das palavras – se traduz em gestos e em cuidado.
Sem esses dois componentes, inexiste amigo, restando apenas “conhecidos”.

O filósofo Aristóteles dizia: “A amizade é uma alma que habita dois corpos; um coração que habita duas almas”, indicando uma dimensão mais profunda desse relacionamento: a virtude, que implica no crescimento de uma parte e de outra. Assim, amigos verdadeiros crescem à medida que vivem a amizade.

Ela nasce, muitas vezes, dos pequenos momentos – de uma conversa despretensiosa, de uma ajuda no momento certo ou simplesmente da afinidade que surge entre indivíduos sem qualquer explicação. E cresce alimentada pela empatia, pela escuta e pela presença, seja nos dias leves ou nas fases mais difíceis.

Ter um amigo é saber que não se está sozinho no mundo. É ter alguém que acolhe sem julgamentos, que celebra suas conquistas como se fossem suas e que oferece o ombro quando as coisas apertam. Amizade é partilha – de risos, de silêncios, de histórias e de vida.

No ambiente de trabalho, na escola, na vizinhança ou em qualquer outro espaço, a amizade transforma relações, fortalece vínculos e faz o cotidiano mais leve e mais humano.

Mais do que afinidade ou sorte, a amizade verdadeira se constrói com o tempo. Não se trata apenas da quantidade de horas passadas lado a lado, mas da qualidade desses encontros: uma conversa no fim do expediente, uma pausa para o café, o apoio silencioso nos dias difíceis, as risadas em momentos improváveis. Por isso, investir tempo na amizade é como regar uma planta: exige presença, constância e cuidado.

É sabido que a maioria das amizades se forma devido à proximidade circunstancial – como escola, trabalho ou atividades compartilhadas – mais do que por escolha puramente pessoal. À medida que os contextos de vida mudam (novo trabalho, mudança de cidade, etc.), o círculo amigo também se altera.

Também é certo que quanto mais coisas duas pessoas têm em comum, mais duradoura tende a ser a amizade. Falar o mesmo idioma, ter trajetórias profissionais semelhantes, ter o mesmo senso de humor, ter crescido na mesma região, compartilhar hobbies, ter visões de mundo semelhantes e gostar dos mesmos estilos musicais, são “ligas” que sustentam as amizades.

Amizades que sobrevivem apesar da distância ou das mudanças na vida são aquelas em que ambos fazem um esforço consciente, demonstram empatia e dedicam tempo para manter a conexão viva. Ou seja, as amizades muitas vezes nascem da conveniência e da oportunidade (trabalho, bairro, hobbies). Para durar no longo prazo, elas exigem esforço intencional, experiências compartilhadas e afinidade.

Estudos mostram que chegar à marca dos 7 anos é um forte indicativo de que a amizade é resistente, já que vínculos que duram esse tempo dificilmente se rompem sem uma razão muito forte.

Dizem que quem tem amigos é mais feliz e pode viver mais, e manter relações de amizade ajuda a proteger o cérebro de doenças que costumam aparecer na velhice.

Como diz uma música de Renato Teixeira, “a amizade sincera é um santo remédio, um abrigo seguro.” Ou seja, uma verdadeira amizade pode significar: saúde, alegria, conforto. Algumas pessoas/ como canta Roberto Carlos, querem ter “um milhão de amigos”. Já outros, preferem manter os poucos e bons. Todos nós – ou quase todos, entretanto – concordamos que estar perto dos amigos faz a vida ser mais completa.

E embora tal afirmação pareça apenas mais uma frase de efeito formada pelo senso comum, trata-se de uma informação cientificamente comprovada.

Pesquisas apontam que a amizade é capaz de nos fazer mais felizes do que ter um bom emprego, ser feliz na carreira ou até mesmo conseguir a tão almejada segurança financeira.

Pesquisei que um estudo realizado na Universidade de Harvard investigou, durante 75 anos, qual o segredo da felicidade. O estudo envolveu mais de 700 pessoas divididas em dois grupos, formados por estudantes de Harvard e moradores das cidades vizinhas a Boston. Além das pessoas selecionadas, as famílias dos participantes também foram monitoradas em entrevistas realizadas a cada dois anos, exames médicos e experiências de interação com outras pessoas.

Em entrevistas sobre o tema, o psiquiatra e psicanalista Robert Waldinger – que é autor do livro “Uma vida boa” e também um dos diretores do estudo de Harvard – afirma que teve acesso a dados sobre a verdadeira felicidade e a sensação de satisfação. No trecho “Do que é feita uma vida boa?”, ele lançou a pergunta “Se você hoje fosse investir no seu melhor ‘eu’ futuro, no que você colocaria seu tempo e energia”? A resposta não tem nada a ver com dinheiro, carreira ou status, mas sim com as relações pessoais.

Dentre as pessoas avaliadas no estudo, quem criou laços com outras pessoas viveu mais – e viveu melhor. O afeto compartilhado é o maior sucesso que alguém pode ter. Investir em amigos, família e amores é o melhor que você pode fazer por si mesmo (depois, é claro, de investir em si mesmo no próprio bem-estar).

Laços de amizade ajudam a dominar novas habilidades sociais, resultando em uma comunicação clara, desenvolvimento de identidade e maior suporte para o autoconhecimento.

Embora atualmente as amizades estejam cada vez mais saindo do mundo real e entrando para o mundo virtual, o valor da amizade é o mesmo: evidências científicas mostram que conviver e socializar ativam áreas do cérebro que causam sensações de prazer e bem-estar, por meio da liberação de neurotransmissores como dopamina, o hormônio da felicidade, e a oxitocina, apelidada de hormônio do amor.

Além disso, manter relações sociais proveitosas e duradouras, além de uma vida social ativa, ajudam a proteger o cérebro de doenças que costumam aparecer na velhice, como a demência.

Os laços de amizade apresentam impacto benéfico no bem-estar e na saúde, contribuindo para a longevidade. Estudos afirmam que a amizade pode aumentar em 50% as chances de uma vida longa e mais saudável.

Pesquisadores da Universidade de Chicago, nos EUA, constataram que pessoas com forte apoio social dos amigos têm um risco reduzido de muitos problemas como depressão, hipertensão e até ajuda a regular o Índice de Massa Corporal.

Amigos partilham de experiências e garantem o aprendizado, por isso, a convivência e a troca nas relações permitem o desenvolvimento de sentimentos positivos, o que é crucial para o amadurecimento.

Uma amizade verdadeira pode ajudar no fortalecimento do cérebro quando se fala de sinais de envelhecimento, contribuindo para a prevenção de doenças como o Alzheimer.

E você, AMIGO leitor, já deve estar se inquirindo sobre as razões de eu estar agora ruminando este tema. Medo do avanço da velhice? Saudades dos que partiram? Medo dos novos?

Posso dizer que tem tudo a ver mesmo com tudo isso…

O histórico do Alzheimer na minha família é cruel, os defuntos amigos continuam a embelezar meus poucos sonhos e a dúvida sobre os que chegam – se sinceros ou apenas oportunistas – causa pavor.

Confesso que a minha troupe mais que amiga que Deus levou – Raymundo Asfóra, Carlos Noujaim Habib, Robério Maracajá, Ana Luiza Rodrigues, Josusmá Viana, Mica Guimarães, Virgilio Brasileiro, Shaolin, Sevy Nunes, dentre centenas de outros queridos – me faz bastante falta.

Mas me acalenta entender que tudo faz parte da vida…

Os que foram me alimentaram de conhecimento e deram-me farto manto de experiencias. Desses que ainda por aqui estão e dos que chegam – Ida e o mestre Wanderley de Brito, Marcos Alfredo Alves, Vavá da Luz, Cristiano Machado, Wiliam Tejo Filho, Tião Lucena, Raymundo Asfóra Neto, Éder Medeiros, Adriano Galdino, Valberto José, Epaminondas Bianor, Carmen e Mouna Noujaim, Marcelo Marcos, Eneida Agra e outras centenas de verdadeiros amigos, tenho saciado a minha sede de saber e vida sadia com braços indistintamente abertos para todos, incluindo os mais de meia dúzia de inimigos, para servir e ajudar.