Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

“Estou rezando por vocês”

Publicado em 27 de janeiro de 2025

Estou entre aqueles que devem testemunhar ao mundo que “um pequeno grão de mostarda” pode amenizar uma dor filial. Experimentei essa brandura logo nas primeiras horas do gesto extremo praticado pelo filho Glauber quando ouvi de Paulo Roberto Florêncio um “meu Deus!” enternecedor, após comunicar-lhe o ocorrido. Como esta frase me confortou!

A última vez que tinha visto padre Ednaldo foi na celebração de sua primeira missa, na cidade de Umbuzeiro, em 2010, após sua ordenação. Na condição de seminarista, ele acompanhou como Conselheiro Espiritual nossa equipe de base, a Nossa Senhora das Graças, do movimento das Equipes de Nossa Senhora, o que motivava sua vinda à nossa casa, assim como nas dos demais casais, nas reuniões que éramos anfitriões.

Designado logo em seguida pároco de Barra de Santana, padre Ednaldo optou por deixar nossa equipe, que, coincidentemente, com sua ausência, começou a perder casais. Consequentemente, acabou sendo incorporada à outra, formando uma nova, sob a proteção de Nossa Senhora da Guia.

Depois, ele foi transferido para Camalaú, na região do Cariri paraibano, e nem seu tempo recente de vigário na igreja de Esperança contribuiu para que nos reencontrássemos, em que pese a proximidade das cidades e minhas passagens pela cidade “Lírio Verde da Borborema” algumas vezes.

A nomeação de padre Ednaldo Gomes como pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, do bairro do Cruzeiro, foi a oportunidade de nos reencontrarmos e nos aproximarmos. A comunidade que fazemos parte – Santa Clara, em Rosa Cruz – está no território paroquial que lidera. E como padre, como administrador ele tem nos surpreendido positivamente. Fala a linguagem do povo, numa Homilia que cativa a todos.

Antes de ser nosso pároco, tive um encontro ocasional e rápido com padre Ednaldo, desses que só deu tempo de ouvir o que ele falou. Foi durante a Procissão de Nossa Senhora da Conceição, dia da nossa padroeira, às margens do Açude Velho, um mês antes de se completar um ano de nossa dor maior, que neste 29 de janeiro chega a três.

Quando o préstito começou a dobrar a Rua Severino Cruz, larguei a multidão e tomei a calçada do manancial, apressando o passo até ficar lado a lado com o cordão de isolamento da comitiva de sacerdotes e diáconos. Meu caminhar, então, entrou no ritmo dos ordenados.

Em passos mais lentos, procurava ver os padres conhecidos que estavam na procissão. E vi os padres Rodolfo, Aparecido, o ainda nosso Conselheiro Cledson, Marcio, entre tantos. Avistei também padre Ednaldo se destacando nesse pelotão de batinas pelo biotipo adquirido, contrastando-se com biotipo do tempo de seminarista, nos acompanhando nas ENS.

Dispersando a vista como que a medir a distância até o Parque do Povo, onde terminava a procissão e começava a missa, pensando ainda no ganho corporal do padre, e já vencendo o percurso do Açude Velho, uma voz firme, vinda do pelotão sagrado, me desperta, me trazendo conforto. “Estou rezando por vocês”. Era padre Ednaldo, confirmando que não estava alheio ao nosso sofrimento.