

Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
ESTAGNAÇÃO DA ECONOMIA
Publicado em 24 de maio de 2024Recentes declarações do artista Léo Santana diagnosticaram numa linguagem simples – sem o uso do “economês” – o empobrecimento do Brasil em ritmo acelerado. Comentando o cancelamento da agenda de shows da intérprete Ivete Sangalo e o fracasso das apresentações de Ludmila – ausência de público – Léo Santana alertou sobre as “prioridades” da população. Alimentação, aluguel, luz, água, transportes… despesas fixas, para cobrir com baixos salários. Somadas, falta o dinheiro da festa.
A análise pragmática e sincericida constatada por Léo Santana confere com a percepção do cotidiano. O brasileiro financeiramente depauperado é forçado a abdicar do lazer e das diversões. Falta-lhes o dinheiro, e o seu cartão de crédito está permanentemente “estourado”. Os shows passaram a ser gastos extra orçamentários (supérfluos) que comprometem diretamente o orçamento doméstico.
Entre 1985 e 2004 – período da hiperinflação – o Brasil viveu algo semelhante com a hiperinflação. Foi o fim de carreira para centenas de bons artistas, que sem shows, vendas irrisórias de LP (depois CD), tiveram que abandonar a arte e procurar emprego. Renomados astros da época como Moacir Franco, Sidney Magal, duplas sertanejas famosas, dentre outros, tornaram-se atração circense, de rodeios e vaquejadas.
As grandes Casas de Shows, concentradas no eixo Rio/São Paulo, fecharam suas portas para sempre, surpreendidas pelo avanço da tecnologia, com a chegada do DVD. Como sempre, perdemos mais uma vez o “bonde da história”. O DVD que salvou alguns, por pouco tempo, teve vida curta, foi suplantado e extinto pelos aplicativos, disponíveis nos celulares. A mídia promotora do entretenimento da TV aberta colapsou.
Em entrevista exclusiva concedida a William Waack (30.04.2024) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não conseguiu esconder sua preocupação com a política econômica do atual governo, e nosso atraso frente às demais economias emergentes. Todo o setor industrial do País – exceto o automotivo – está vinculado ao Agronegócio e às commodities. Única tábua de salvação, para atravessarmos a *pororoca – analogia que fazemos sobre a guerra comercial entre China e Estados Unidos – caminhos sem volta, que nos levará a uma nova ordem econômica mundial ou uma crise financeira semelhante a 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de New York.
Neste quadro de incertezas, Lula ocupa a mídia para discutir a dispensa da cobrança de imposto da “blusinha”, produzida na China, e não dispensa carga tributária dos produtores brasileiros. O discurso do “entreguismo” das esquerdas, contra os governos militares, quem está levando a cabo hoje é o Brasil do Lula petismo.
Ao se referir sobre as taxas de juros, e o controle da inflação, Campos Neto enfatizou que o maior programa social de um governo é inflação sob controle – próximo a zero – dívida pública em curva descendente, na busca de alcançar um patamar de 50% do seu PIB. Este foi o quadro vivido pelos Estados Unidos, desde 1945 até o início deste século (XXI). Ninguém falava, nem sabia o que era déficit fiscal na América do Norte, que hoje estima-se ter alcançado 130% do seu PIB. Só não se tornou insolvente, pela longevidade da dívida, crescimento permanente de sua economia, valorização de sua moeda universalizada (dólar), e a previsibilidade de estabilidade fiscal.
A irresponsabilidade dos governantes brasileiros, a partir de Sarney, dando uma sequência de calotes na dívida interna (roubando os poupadores), desmonetizando nossa moeda, culminando até numa trágica declaração de “moratória”, posicionando nosso País entre os maiores caloteiros do mundo. Os investidores que ainda chegam por estas plagas são especuladores oportunistas atraídos pelo “capital motel”. Vão à Bolsa de Valores às segundas-feiras, compram na baixa, e vendem na alta, antes dos boatos das quintas-feiras à noite. O Brasil, contrariando as regras universais da jogatina, conseguiu ser o único cassino no mundo que perde para apostadores.
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*Pororoca – encontro do Rio Amazonas com o oceano, provocando choques, com redemoinho e ondas com 10 metros de largura e cinco de altura numa extensão de 35km, que não permitem navegação neste trecho.