Enquanto Campina perde mercado e se desindustrializa, presidente da FIEPB faz turismo e Grupo São Braz investe e cria empregos na Bahia

Publicado em 9 de abril de 2025

O professor Emir Candeia Gurjão, colunista deste portal, alertou hoje Campina Grande para o acelerado processo de desindustrialização que avança para o letal empobrecimento do Município, isto sem que líderes empresariais, notadamente do segmento produtivo, e a classe política, de cofres cheios pelo advento das emendas parlamentares que somente a eles próprios beneficiam, não estão nem aí para o que pode vir a acontecer num futuro bem próximo.

O mestre lembra, não por acaso, do movimento do Quebra Quilos, iniciado aqui em Campina Grande em finais do século 18 e que se espalhou por outros estados e somente parou com o envio de tropas federais para domar os revoltosos.

A obrigatoriedade do uso do quilo resultou em desavença e conflitos. O quilo, o metro, o litro, medidas sem as quais muita gente hoje não saberia como viver, foram implantadas à custa de muita desavença e conflitos por todo o mundo.

Depois de determinadas por comissões científicas naquela época, as unidades demoraram décadas para serem estabelecidas e ainda hoje ingleses custam a render-se às unidades francesas. Aderir a uma unidade alheia significava deixar a própria cultura de lado – e, quando a mudança se tornou obrigatória, queixas eram quase inevitáveis.

Foi assim em todo o planeta – e pouca gente sabe que no Brasil também. Em 1874, a obrigatoriedade do uso do quilo foi a gota d’água para a “revolta do quebra-quilos”, movimento que começou na Rainha da Borborema, se espalhou por mais três estados do Nordeste e só foi contido pelo envio de tropas federais.

Era 31 de outubro em Campina Grande e centenas de pessoas invadiram a feira central protestando contra os novos pesos e medidas. Aos gritos, a massa quebrava os moldes de quilos dos feirantes, que eram fornecidos (vendidos ou alugados) pela administração municipal.

Os revoltosos invadiram os mercados, coletorias e a Câmara Municipal, destruíram os novos padrões e queimaram os arquivos contábeis do governo. Um panfleto intitulado “Manifesto da Sedição do Quebra-Quilos” apregoava: “É preciso um dilúvio de sangue para que desapareçam eternamente desta terra os ladrões”.

Os cordéis ajudaram a convencer a população com suas rimas. Aos poucos, a revolta se alastrou para outras vilas e cidades paraibanas, além dos estados de Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte. Em todos esses lugares, a multidão revoltada tinha a mesma característica: a de buscar nas sedições uma espécie de legitimação para seus costumes, que de repente vinham sendo atacados pelas autoridades.

Uma reação diante da conjuntura da época: para ingressar na via da modernização, o Brasil estava deixando para trás a tradição em que o que vale é o reconhecimento direto e o “apalavrado”. Mas as autoridades não queriam saber.

Quem não utilizasse os novos padrões poderia ser punido com prisão de cinco a dez dias e pagaria multa. Todavia, o clima esquentou por causa do aumento da cobrança de tributos. O país vinha enfrentando uma crise econômica devido à queda das vendas internacionais de açúcar e de algodão.

A crise abrangia principalmente as províncias nordestinas, tradicionalmente açucareiras e cotonicultoras. Para o governo, o aumento de impostos era a solução. Para o povo, porém, os tributos, assim como as novas medidas, ofendiam os costumes e a tradição do país.

Além disso, em tempos de crise, o povo esperava por ajuda, não por cobranças. Como os tributos eram calculados utilizando as novas medidas (quilos, litros e metros), a obrigatoriedade de utilizá-las foi a gota d’água para a revolta.

Agricultores, criadores de gado e comerciantes, os quebra-quilos eram vistos pelas autoridades como um “bando de matutos armados de facas e cacetes”. Como os arruaceiros gritavam frases como “viva a religião e morra a maçonaria”, as acusações de liderança do movimento logo caíram sobre a Igreja Católica, na época às turras com dom Pedro II.

Dois padres chegaram a receber ordem de prisão junto a outros líderes suspeitos. Esses líderes passaram a ser perseguidos no começo de 1875, com o crescimento da revolta. No Rio Grande do Norte, duas pessoas morreram e cinco se feriram depois de um dia de reação das forças imperiais.

As tropas do governo, armadas de baionetas e espingardas, chegaram por mar, a bordo do navio Werneck, vindas do Maranhão para o Rio Grande do Norte. Os cabeças do movimento foram processados e, alguns, obrigados a restabelecer os novos pesos e medidas por eles destruídos nos mercados e feiras, e obrigaram-se a indenizar aos particulares o dano causado nos seus estabelecimentos.

O ato mais ferrenho da repressão foi a aplicação dos chamados “coletes de couro”. Segundo o historiador Armando Souto Maior, “amarrados, os prisioneiros eram em seguida metidos em grosseiros coletes de couro cru; ao ser molhado, o couro encolhia-se, comprimindo o tórax das vítimas, quase asfixiando-as”. O método causou a revolta de muitos comerciantes, mas também medo – à custa do qual a medida do quilo foi finalmente implantada no Nordeste.

O alerta de Emir traduz a necessidade de que o povo de Campina Grande se mova, evitando uma revolta tipo QUEBRA QUILOS, para que as classes empresariais e políticas acordem.

Ele retrata Campina Grande e a China como “dois mundos e duas direções”, mostrando que enquanto a China se consolida como a “fábrica do mundo”, responsável por 33,3% de toda a manufatura global e com Presença constante até no setor de serviços mundo afora, Campina Grande segue um caminho oposto, o da desindustrialização silenciosa e preocupante.

Enquanto a China se consolida como a “fábrica do mundo”, responsável por 33,3% de toda a manufatura global e com presença crescente até no setor de serviços mundo afora, Campina Grande segue um caminho oposto: o da desindustrialização silenciosa e preocupante.

A China, mesmo com baixa proteção social e pouco consumo interno (apenas 13% do total mundial), entende que sua força está em produzir, exportar, ocupar espaços. As empresas chinesas vendem de tudo – do parafuso ao satélite – e já estão controlando ou participando como acionistas de serviços mundo afora, inclusive em setores estratégicos como energia, tecnologia e infraestrutura.

Campina Grande, por sua vez, virou apenas consumidora. Importamos bolacha de Mari, doce de Patos, café de João Pessoa e Caruaru, macarrão de Recife e até carne de frigoríficos do Piauí. Ovos, pregos, tubos de PVC, roupas… tudo vem de fora.

“É como uma casa onde ninguém cozinha, ninguém costura, ninguém martela um prego – tudo é comprado pronto. Isso custa caro e empobrece a cidade”, adverte Emir, cujo artigo na íntegra você pode acessar na nossa grade de colunistas.

Fonte: Da Redação