Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

EDUCAÇÃO BRASILEIRA: QUATRO DÉCADAS PERDIDAS

Publicado em 19 de novembro de 2024

O saudoso economista Amaury Pinto, campinense, presidiu a estatal municipal de eletricidade CELB, esteve Secretário de Planejamento do Governo Burity I, por apenas seis meses, após pedir exoneração foi convidado por seu amigo e colega de turma, Mário Henrique Simonsen, para compor sua equipe no Ministério da Fazenda do governo Geisel. Poucos na cidade lembram dele. No Estado, foi completamente esquecido.

Amaury Pinto foi assessor especial – braço direito – de Mário Henrique Simonsen, entre 1978 e até o final do governo 15/03/79. Todo final de ano vinha a Campina Grande, sua terra natal. Era filho de Dr. Pinto, irmão do oftalmologista Roberto Pinto. Reservado, com poucos amigos – passou a juventude sendo educado no Rio de Janeiro – convidava sempre seu amigo de infância, médico patologista Ayrton Queiroga, formado nos Estados Unidos, para conversar. Acompanhávamos o papo, e aprendemos muito sobre o mundo, futuro da geopolítica, puxado pela dinâmica da macroeconomia.

Recordamos Amaury e Ayrton, recentemente, quando foi divulgado o tema da redação do ENEM 2024: “Desafio para valorização da herança africana no Brasil” (?) Se ambos não tivessem partido, com certeza teriam infartado.

Amaury Pinto compôs a equipe do governo mais austero do período dos militares. Mesmo assim comentava: “o que falta no Brasil é um gerente”. Queixava-se dos excessos – criação e estatização de empresas. O erro do país, não ter cumprido o acordo MEC/USAID, e da irresponsável expansão universitária, aos poucos sendo ocupada pelas esquerdas (modelo francês), valorizando a área de humanas, desprezando as engenharias e investimentos em laboratórios, para dar suporte às pesquisas das mais diversas áreas. O MEC desconsiderou as recomendações do USAID*. Não destinou recursos significativos para o ensino técnico especializado.

O “gerente” que faltava, na visão de Amaury, estava na omissão do governo, por não fazer uma reforma trabalhista, tornar o Brasil atrativo aos olhos dos grandes investidores internacionais. Todos esbarravam na temível Justiça do Trabalho, da era Vargas. Procuraram o Oriente e a Ásia. O primeiro a ser privilegiado foi o Japão, arquipélago de ilhas rochosas, sem petróleo e recursos minerais, se tornou um país rico na época, após ter sido destruído e alvo de duas bombas atômicas. Em seguida, Taiwan, Coreia do Sul… O último foi a China. Já estão a caminho da Índia, e o imenso Brasil, puxando a América do sul, claudicando, ficou para trás.

Não consegue mais acompanhar os passos da expansão industrial dos tigres asiáticos, dos europeus, nem dos nossos irmãos do norte (Estados Unidos). Falta legislação, segurança jurídica e mão-de-obra qualificada. As universidades não pesquisam. Formam “Doutores”, quando o mercado de trabalho oferece empregos para técnicos – quer venha do ensino médio – ou do terceiro grau maior (Universidades). O tema da redação do ENEM, a cada ano, revela o nível de mediocridade das “autoridades” responsáveis pelo sistema de ensino público do país.
Para aferir o grau de conhecimento do aluno, elencam abordagens sobre conflitos e demandas mesquinhas, desagregadoras, criadas pelas minorias, com cobranças revanchistas de reparações históricas, legados deixados por nossos ancestrais, práticas comuns em todo o mundo. Só o Brasil terá que reparar os danos?

Na busca por um futuro promissor, a juventude olha para frente. Temas como Inteligência Artificial; transformações ocorridas na era digital; importância geopolítica para o Brasil concretizar sua posição como líder regional da América Latina; desenvolvimento sustentável… Matemática, Física, Química e Biologia são ignorados.

Infelizmente, os temas do ENEM – nos últimos quarenta anos – são inspirados em doutrinas políticas/ideológicas comportamentais “divisionistas”, como gênero, racismo, LGBTQIA+; povos originários; a insanável questão da desigualdade social, fonte perene de emprego e corrupção das ONG; ecologia/meio ambiente, numa visão separatista, tirando o homem da natureza e o segregando nos guetos urbanos. O que agrega na formação do futuro estudante universitário, conhecer “o desafio da valorização da herança Africana no Brasil?” As profissões de seus sonhos dependerão do conhecimento em profundidade deste tipo de conceito? O MEC sabota o nosso futuro.

*USAID – United States Agency International for Development. Agência independente do governo dos Estados Unidos, criada pelo presidente John Kennedy, para distribuir ajuda externa aos países com potencial emergente, investindo nas áreas de economia, educação, agricultura, saúde e políticas de Assistência Humanitária.