Marcos Marinho
Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.
DORME EM PAZ, FILHA MINHA
Publicado em 17 de março de 2022
Deus me deu 20 sobrinhos, que até dia desses eu tinha todos na conta de FILHOS.
Com Ele hoje já estão três lá em cima…
E desses 17 que Deus ainda presenteia com a vida na Terra alguns “deserdei”, sem rancor nem pra me arrepender. As faltas que cometeram foram de fato gravíssimas e meu amor próprio continua vivo!
Os que passaram na peneira me orgulham, me dão alegria, me enchem de esperança num mundo melhor e com mais solidariedade familiar e humana.
E é com estes que espero viver mais algumas dezenas de anos!
Ano atrás fui chamado por um daqueles que secam na peneira de “coveiro da família”, por estar sepultando entes queridos, esquecendo o pileriante que essa é tarefa obrigatória de quem pontualmente sem querer está – por mérito talvez da idade – investido do mister sublime de enterrar os seus com a dignidade que em vida se fizeram por merecer, o que não exclui poder vir a botar na tumba também aqueles que passaram a me repudiar…
Mas isso é assunto pessoal demais para dividir com meus amigos leitores… O travo na alma é dever somente meu amagar!
Preferia eu, de verdade, ser sepultado do que sepultar. Mas os desígnios de Deus são outros assim como os nossos destinos – e vidas – não nos pertencem.
E hoje choro por antecipação pela dor que dilacera as entranhas e o coração bondoso e sempre fraterno da sobrinha-filha Ismênia, uma das que sempre esteve na parte mais alta da pirâmide da minha História.
Assim como aconteceu com o pai Ismael, Menia vem amargando um câncer perverso que principiou nos pulmões e há alguns dias se espraiou pelo corpo todo como urtiga voraz, deixando-a hoje fisicamente um trapo, plantada em leito do HU de Campina Grande conscientemente aguardando o minuto final.
Jovem, bonita, inteligente, viveu plena e intensamente todos os dias que Deus lhe deu – e ainda está lhe dando -, nunca evitando distribuir sorrisos para alegrar quem quer que fosse.
Da vida nada a vi reclamar. Se no Brasil não lhe davam oportunidades, foi para a Europa singrar mares como ‘chef’ de cozinha em transatlântico; depois adotou os Estados Unidos como novo Lar e por penúltimo aportou em Porto Seguro mantendo lá uma pousada regionalíssima que era o xodó de nativos e visitantes.
Mas o amor pelo berço falando sempre mais alto e como certamente já marcado na linha do seu tempo, a trouxe de regresso à Borborema da sua infância e adolescência.
Me pediu a mão para essa volta e aqui chegou cheia de entusiasmo e planos para um futuro mais apegado aos seus.
Optou pela vida campestre em sítio que um primo médico lá do Rio de Janeiro cedeu pra ela morar nas cercanias de Puxinanã, seu último paraíso terrestre! Ano passado doeu-lhe demais a morte da mãe Hosana Régis, com quem agora está bem pertinho de voltar a abraçar.
Nós, os seus amigos e familiares, aqui somente rogamos ao Pai que suavize seu sofrer, onde nem mais o último grau da morfina tem lhe amenizado os dolorosos tormentos.
Dorme em Paz, filha minha!