Marcos Marinho
Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.
DO MEU BAÚ (I) – Agostinho Velloso e a defesa em prol de Stela
Publicado em 17 de abril de 2024Corria o ano de 1992 e o jornal A PALAVRA, de circulação semanal àquela época, fazia história na Paraíba em defesa intransigente das causas campinenses, razão primordial da sua existência.
Nenhum assunto que dissesse respeito a Campina Grande ficava de fora das suas briosas páginas, passando o nosso impresso a ser o mais autêntico porta-voz da Rainha da Borborema, motivo assim de gratificante orgulho para toda a equipe, formada por abnegados e valorosos jornalistas bebedores das salobras águas do Açude Velho…
O mundo social e político, a economia, a cultura e a religião, os esportes e os valores da terra amada desfilavam em pautas abrangentes, de modo a conservar com resistência canina e insistência franciscana tudo aquilo que pudesse altear – mantendo em permanente relevo – a ímpar eloquência dos amados filhos, seus inventos notáveis e sua coragem desmedida, tudo com o foco altivo de manter no mais alto pódio o bravo sentimento do campinismo, que ainda hoje aflora e lateja no coração da maioria daqueles que – filhos próprios ou adotivos – ardentemente amam e protegem este abençoado rincão.
Semana passada, reorganizando meu baú, encontrei pérolas que nem mais delas lembrava, documentos de um tempo que se mantém presente e, por isso mesmo, precisam ser ofertados aos jovens que estão a nos suceder.
Vou trazê-los, um a um neste espaço, a cada semana.
Hoje abro a série com uma correspondência que me endereçou o homem que construiu o majestoso edifício-sede da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEPB), Agostinho Velloso da Silveira, primeiro presidente da entidade dos industriais paraibanos.
Eu assinava a “Coluna do Meio (e de todos os lados)”, espaço democrático de como a liberdade de expressão atendia e conduzia os meus passos na profissão (ainda hoje é desse mesmo jeito!) e fiz críticas pontuais sobre a gestão do empresário, naquele tempo vivendo mais no Rio de Janeiro do que na Paraíba, deixando a FIEPB entregue literalmente à secretaria, conhecida como DOUTORA STELA, famosa dentro e fora da entidade pelo forte temperamento tipo “não levo desaforo pra casa”, totalmente diferente do estilo sóbrio e cordato de Agostinho.
Captei reclamações de diversos diretores da FIEPB contra Stela e seu avassalador poder de mando, ela própria uma muralha, fechada a qualquer pleito do colegiado, mesmo sugestões ou algo que o valha e que pudesse tornar o ambiente mais ‘palatável’.
Colegas da imprensa, em sua maioria, eram arredios a Agostinho, mesmo porque só o viam em finais de ano, quando ele a contragosto da DOUTORA STELA convidava todos para uma confraternização, tradição que o seu sucessor Buega Gadelha manteve até dois anos atrás.
A antipatia para com Agostinho era geral, até porque corria solta a informação, passada para todas as redações, de que ele não gostava de dar satisfações a jornalista nenhum, tendo se espalhado a notícia junto aos colegas industriais que jornalista de Campina ele tinha todos “na mão”, sendo bastante mandar “matar um boi e comprar meia dúzia de grades de cerveja e tava tudo resolvido…”, o que não deixava de ser uma grande verdade naquela época.
Eu estive com Agostinho acho que umas cinco ou, se muito for, seis ocasiões. E não por mérito meu, mas por conta da grande amizade que Sevy Nunes, minha saudosa e dileta amiga colunista social do jornal, mantinha com ele, e sempre insistia para que eu a acompanhasse em alguns encontros na FIEPB, resultando daí não digo que uma amizade, mas uma relação respeitosa entre nós dois. E até Stela mudou seu modo de me tratar, algo impensável para o tamanho do orgulho dela.
A crítica d’APALAVRA às ausências de Agostinho na Paraíba – vim saber depois – doeram bastante nele, que jamais imaginaria que um simples, franzino e pobre repórter campinense tivesse a petulância de emparedá-lo no que ele tinha de mais sagrado na vida: a sua gestão à frente da FIEPB.
Sevy chegou a me avisar para ‘ter cuidado’ com Stela, que estava uma ARARA comigo e com o jornal. Afinal, todo mundo sabia disso: que Stela tinha mais poder do que Agostinho e era capaz até de proibir a minha entrada no prédio do Açude Velho, como já fizera com outros confrades, um deles o ínclito Júnior Gurgel, que um dia desses me recordou o infausto acontecimento.
Ao meu ainda recorrente estilo, fiquei na minha!
E recebi a correspondência que agora reproduzo abaixo, que Stela mandou entrergar-me em mãos e onde Agostinho elegantemente pediu para que eu corrigisse o “equívoco” de tê-lo taxado de ausente.
Segue a carta, relíquia hoje no meu pequeno baú, lembrando que desse dia por diante o poderoso presidente da FIEPB nunca mais deixou de me dar o primeiro abraço quando por acaso nos encontrássemos em alguma solenidade.
Em tempo: “doutora” Stela, idem!!!
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