Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Diversão nos comícios
Publicado em 8 de setembro de 2022O “gancho da estrada” era a referência na década de 1960 para quem se destinava ao distrito de Catolé de Boa Vista e às comunidades de Salgadinho, Lucas e Estreito ou à zona rural onde hoje é o bairro da Catingueira. “Espero no gancho da estrada, fico no gancho da estrada”, avisava-se ao marcar encontro com alguém ou se fosse descer do carro nas imediações.
Localizado no final da Av. Almirante Barroso, onde hoje é um posto de gasolina, o “gancho da estrada” era o lado menor do triângulo formado pelas ruas Três Irmãs, Francisco Lopes de Almeida e Prof. Luiz Gil. No lugar do posto, a casa de Lourival Lima, avô do saudoso radialista Martim Lutero, denotava uma paisagem rural ao bairro. Grande, parecendo casa de fazenda, a frente descortinava parte da rua sentido centro.
Estratégico, o “gancho da estrada” servia de local para realização de comícios nos anos de minha infância, com o palanque fincado no início da Rua Três Irmãs. Foi nesse cenário suburbano que me despertei para a política, nas eleições municipais de 1968, então com 10 anos, embora tenha remotas lembranças de pleitos anteriores.
Naquele ano, indiferente aos candidatos, estive em todos os ajuntamentos políticos ali realizados, atraído pelas atrações artísticas que os animavam, conforme a permissão da Lei Eleitoral.
Minhas lembranças, no entanto, ficaram restritas às atividades dos três principais concorrentes ao cargo de prefeito de Campina Grande: Severino Bezerra Cabral, Ronaldo Cunha Lima e Vital do Rego.
Não lembro quem animava os comícios de Seu Cabral, tampouco os de Ronaldo, durante a campanha. Elino Julião, um dos nomes da música nordestina dos anos de 1960, foi animador de toda campanha de Vital do Rego, acompanhado do conjunto Zé Lagoa, com Chicó na sanfona.
Na reta final, Ronaldo contou com a participação de Teixeirinha, famoso na época pelos grandes sucessos da música regional gaúcha. Vital reforçou seu time com outra atração nordestina, Coronel Ludgero, além de Filomena e Otrope, trio que fazia a junção do humor matuto e o forró.
– Quem é que vai ganhar? Cantava perguntando Elino Julião. É Vital”, respondia a plateia, em coro. Terminada a animação, o cantor potiguar descia do caminhão improvisado de palanque, e ficava atrás conversando com quem dele se aproximava; eu, no meio, apenas ouvindo.
Justamente no ano da decretação do Ato Institucional Número 5 (AI-5) eu comecei a despertar para a política. Não tinha noção de nada do que estava acontecendo no Brasil de então. Mais de 50 anos depois, vejo como eu fui uma criança feliz. Que nem um dos AI’s desses impediu minha diversão pueril naqueles comícios.