
Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
DISPUTA DOMÉSTICA
Publicado em 2 de agosto de 2023Cresce na oposição o nome de Romero Rodrigues como única alternativa capaz de enfrentar Bruno, aliado com os Regos, no pleito do ano vindouro. Para Romero, mesmo perdendo, mantém seu espaço de líder e pavimenta sua volta à Câmara dos Deputados. Quanto a Bruno, se derrotado, ocupará o lugar deixado por Romero em Brasília. É jogo combinado?
Os Ribeiros não vão se aventurar com chapa própria. Guardarão sua munição para 2026, quando tentarão reeleger Daniella e Aguinaldo (Senado e Câmara), na expectativa de contarem com Lucas à frente do Governo do Estado. O quadro aponta a inevitável desincompatibilização de João Azevedo, obrigado a disputar um mandato sem riscos de derrota. Prerrogativa de foro é imprescindível para “arrastar” as ações judiciais que o envolvem na “Operação Sangria”, que alcançarão prescrição até 2030.
As últimas declarações de Veneziano empurraram Romero para os braços de João Azevedo. Seria desconfortável a presença dos dois, no mesmo palanque. Vené não esquece as duas derrotas consecutivas que Romero lhe impôs, principalmente a segunda que foi humilhante, não alcançando o segundo turno. Por trás dos planos de Romero está seu tio Catão e o genro Tovar, que espreita a vaga de vice, posição que será exigida pelos Ribeiros – mesmo sem nomes – e o Republicanos, que começa a se estruturar na cidade, sob o comando dos irmãos Adriano e Murilo Galdino.
Quanto ao radicalismo nacional (Bolsonaro x Lula), os efeitos são mínimos na disputa municipal de Campina Grande, que vota em nomes, não em legendas. E esta disputa vem desde 1945 com Argemiro x Cabral que dominaram politicamente a cidade até 1970. Neste interregno, foram prefeitos Elpídio de Almeida, Plínio Lemos e Newton Rique. Todos com apoio, ora de Argemiro, ora de Cabral, como foi o caso de Elpídio e Newton Rique. Em 1968 foi o último embate da “velha guarda”, quando Cabral enfrentou Ronaldo e Vital do Rêgo, ambos de origens Argemirista: Vital era sobrinho de Argemiro. O vice de Ronaldo foi Orlando Almeida, genro de Argemiro, filho de Elpídio.
Em 1972 a eleição foi fria. Cabral havia falecido, Argemiro tinha sido derrotado para o Senado (1970) – assento ocupado desde 1947 – Vital e Ronaldo estavam cassados e impedidos de participarem do pleito. Mas, em 1976, voltou o Argemirismo e Cabralismo, representados por Enivaldo – cunhado de Doquinha, filho de Cabral, e Asfora como vice. Em 1968, foi vice de Cabral. Ivandro foi apoiado pelo Argemirismo.
Em 1982, Vital dividiu o Argemirismo e foi apoiado pelo Cabralismo, também dividido. Asfora, que era vice de Enivaldo, apoiou Ronaldo. Venceu Ronaldo com apoio da Casa de Argemiro de Figueiredo, através de Orlando e Mirito. Se não tivesse partido prematuramente, Petrônio teria herdado o comando do Argemirismo.
Campina Grande tem esta característica “conservadora”. Há mais de sete décadas, permanecem na vida pública os herdeiros de Cabral e Argemiro. Entre 1976/2020, estiveram Prefeitos seus legatários: Enivaldo, Ronaldo e Veneziano Vital do Rêgo. Os transitórios foram William Arruda (1965), Evaldo Cruz (1972) , Félix Filho (1992) e Cozete Barbosa, que concluiu o mandato de Cássio (2002). Cai bem uma analogia ao futebol. Treze e Campinense, entre os anos 60/70/80 assumiram a hegemonia do futebol paraibano. A cidade tinha outros times, como o Paulistano e até pouco tempo o Perilima.
Lamir Mota, que à frente do Campinense conquistou diversos títulos, brigou com a diretoria e fundou o Gavião, que foi campeão estadual no seu primeiro ano. Mas, por falta de torcida, fechou suas portas. Tudo voltou a ser “como d’antes no Quartel do Abrantes”: Treze x Campinense. E na política, a paixão permanece dividida entre Cunha Lima, Rego e Ribeiro. Se por ventura Romero sair vencedor (2024), pode começar a quebrar o padrão, mesmo sendo apoiado – como espera – pelos Ribeiros.