Emir Gurjão
Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.
Disparidades na Justiça Brasileira: Zé Dirceu livre , Bolsonaro e os Cidadãos Comuns condenados
Publicado em 10 de novembro de 2024A justiça brasileira, em sua aplicação prática, muitas vezes revela um conjunto de contradições que levantam dúvidas sobre sua imparcialidade e coerência. Alguns dos casos mais emblemáticos dessa complexidade envolvem figuras públicas e cidadãos comuns, que, apesar de condenados em situações específicas, enfrentam consequências bastante contrastantes. Analisando as condenações de José Dirceu, Jair Bolsonaro e de cidadãos comuns, observa-se um cenário de desigualdade judicial que desafia a percepção de justiça igualitária no Brasil.
José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil , foi condenado em múltiplos processos criminais. Envolvido em casos como o Mensalão e a Operação Lava Jato, Dirceu recebeu penas que, somadas, ultrapassaram 30 anos de prisão por crimes como corrupção ativa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. As investigações demonstraram que, mesmo após sua primeira notícia, ele continuou a receber propinas de empreiteiras, ampliando seu envolvimento em esquemas de corrupção que drenaram recursos públicos por anos. Porém, atualmente, Dirceu se encontra em liberdade, com a possibilidade de disputar cargos públicos, um direito assegurado por um ministro do STF.
Em um cenário paralelo, Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, foi recentemente tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por um período de oito anos. A inelegibilidade foi justificada porque ele questionou a segurança das urnas eletrônicas do país diante de diplomatas estrangeiros. Embora não tenha sido condenado por corrupção, lavagem de dinheiro ou formação de quadrilha, a ação foi considerada uma ameaça à democracia.
Outras discrepâncias no tratamento judicial. Um desses casos é o da “cabeleireira de Brasília”, condenada a 18 anos de prisão por ter pichado “FORA STF” em uma estátua. Esse ato de protesto, que muitos poderiam considerar simbólico e sem grandes consequências materiais, realizado em uma sentença que surpreendeu pela dureza. O ato, tratado como vandalismo grave e uma ameaça à ordem pública, suscitou críticas quanto à proporcionalidade da pena em relação ao crime.
Outro caso que gera indignação é o de um pai de seis filhos, cidadão com ficha limpa, sem histórico de infrações ou crimes, que foi condenado a 16 anos de prisão por participação em manifestações políticas em Brasília. Esse indivíduo, sem sequer uma multa de trânsito em seu histórico, teve sua pena determinada sob a justificativa de que sua presença nas manifestações configurava ameaça à ordem. No entanto, não houve evidências de que ele tenha tido envolvimento em atos violentos, o que levanta a questão da justiça de suas especificações.
Esses casos representam um paradoxo inquietante: José Dirceu, condenado por crimes que desviaram recursos do Estado e afetaram diretamente o funcionamento de instituições públicas, está livre e pode disputar cargas políticas. Ao mesmo tempo, Jair Bolsonaro foi impedido de concorrer em novas eleições devido a uma reunião com diplomatas, enquanto cidadãos comuns recebem penas severas por atos de expressão política e protesto.
Essa disparidade sugere uma aplicação seletiva da justiça, que parece punir mais duramente aqueles sem influência política ou poder financeiro, enquanto figuras proeminentes e envolvidas em crimes mais graves permanecem ativas e elegíveis na política brasileira. Esse contraste questiona a igualdade de direitos e deveres perante a lei e desafiar a confiança da população nas instituições judiciais.
Escrito por Emir candeia Gurjão , as 06:29 do dia 10 de novembro de 2024, completando neste dia 4 meses da cirurgia cardíaca.