Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

DESCONTINUIDADE

Publicado em 31 de março de 2023

Recentemente, brincadeiras nos grupos do WhatsApp dos frequentadores do Café Aurora da Praça da Bandeira criticavam – de forma até carinhosa – o amigo Fred e Cícero Freire, representantes do Poder Público na reunião convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores da área Têxtil, que pediam socorro às autoridades, na busca de solução que evitasse o encerramento das atividades da COTEMINAS em Campina Grande. Observamos o fato, reflexivo, desiludido e com tristeza, ao percebermos a que ponto chegou a mais absoluta falta de compromisso da classe política com o “Campinismo”. Cidade que se fez respeitada, e foi referência como modelo de desenvolvimento para toda região Nordeste.

Estão de parabéns Fred e Cícero Freire, que mesmo sem poder de decisão, mostraram sua solidariedade ao movimento que luta contra o desemprego direto e indireto de, no mínimo, duas mil pessoas. A perda salarial desfaz lares, leva os jovens a desistir de seus sonhos – terão que abandonar a escola – e na informalidade buscar meios de sobrevivência familiar; cai o meio circulante, e a cidade empobrece.

Não cabe a justificativa simplista ou desculpa de “logística de mercado”. Ainda lembramos da entrevista do presidente da Volkswagen do Brasil, Wolfgang Sauer, no final dos anos 70 – páginas amarelas da Veja – quando criaram a Autolatina, joint-venture para realocar suas linhas de montagens no Brasil, abandonando a Argentina. Sauer advertiu: “o capital é um animal nômade, porém sensível e exige ser bem tratado”. Los Hermanos iniciaram seu processo de desindustrialização sem retorno. Carga tributária estratosférica, falta de apoio político, redução drástica do crédito, atrofia do setor produtivo, que por extensão reduz o emprego, com queda inevitável no consumo.

Um descaso é insano, intolerável e revoltante, imposto a Campina Grande, que tem a maior representação política do Estado – ora vivendo a “bolha Brasília” – disputando exclusivamente espaços na busca de prestígio pessoal junto ao Palácio do Planalto. Estes deslizes envergonham, humilham e menosprezam os anseios dos seus frustrados eleitores, ao constatarem que seus escolhidos pelo voto se abstêm de assumirem compromissos em defesa dos destinos da Rainha da Borborema.

Ao fazerem “vistas grossas” ou fingirem miopia, levam-nos a enxergar em primeiro lugar o despreparo da Câmara Municipal, que nivela-se à inapetência do prefeito e sua demonstração de desapreço pela causa.  Nossos representantes no Congresso Nacional, políticos que foram votados na cidade e que ocupam posições estratégicas para abordar diretamente o Governo Federal, até o presente estão omissos. Dois senadores da República, um vice-presidente do Senado Federal e outra Relatora do Orçamento Geral da União. Um vice-governador do Estado; um líder da maioria na Câmara dos Deputados; um ex-prefeito de Campina Grande que deixou o abacaxi para seu sucessor descascar; coordenador da bancada paraibana; dez deputados estaduais eleitos na cidade e seu entorno. Conjunto de forças, que unidos, reverterão esta decisão da empresa em abandonar a Paraíba.

Ainda não vimos um único pronunciamento de um deputado estadual, federal ou senador, que desperte o interesse do governo para se debruçar sobre o problema e através de leis resolver a questão. O Polo Calçadista exportador do Rio Grande do Sul – anos 90 – teve seu IPI zerado no governo FHC, por pressão da bancada parlamentar, para evitar sua falência coletiva. Conseguiram até linhas de crédito subsidiadas.

Campina Grande sofre, ao claudicar com a descontinuidade do processo sucessório de suas antigas e insuperáveis lideranças, que com ousadia tornaram a cidade grande. O fato evidencia a mediocridade incontestável de seus herdeiros (hoje), que semeiam um amanhã sem perspectivas de avanços nas mudanças radicais do século XXI, já em curso.