Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
DEGREDADO
Publicado em 5 de fevereiro de 2024O primeiro político de “visibilidade” a visitar Lula, trancafiado por questão de cortesia da Justiça Federal do Paraná na sede da PF em Curitiba – e não no presídio de Pinhais ao lado de seu mentor Zé Dirceu, condenado como corrupto reincidente – foi o governador da Paraíba Ricardo Coutinho. E não foi só uma vez. Esteve lá em várias outras oportunidades. Conclamou greves, mobilizações das esquerdas… impôs a toda a mídia paraibana – maioria dos formadores de opinião – silêncio ou defesa do condenado.
Lula foi preso no dia 07/04/2018, cerca de 180 dias antes das eleições presidenciais, que elegeu Jair Bolsonaro. Ricardo Coutinho, que desde 2004 vinha num ritmo alucinante de vitórias ininterruptas, destruindo toda a classe política tradicional do Estado após vencer Cássio Cunha Lima em 2014, estava prestes a encerrar a vida pública de José Maranhão com outra derrota, desta feita elegendo seu Secretário de Recursos Hídricos João Azevedo. Para ele, pessoa de sua mais inteira confiança, estimado pelo seu caráter e fidelidade canina. Se o preço para eleger João exigia sua permanência no cargo – evitando debandadas – abdicou de concorrer ao Senado da República ou à Câmara dos Deputados. Seu sacrifício levou João Azevedo a vencer em primeiro turno. Conquista inédita na Paraíba, desde que foi criado o segundo turno.
No início da primeira gestão de João Azevedo (2019) estourou denúncias de desvio de dinheiro da saúde, processo oriundo de uma delação premiada da Cruz Vermelha do Rio de Janeiro, que também geria o sistema de saúde na Paraíba. Na sétima fase da Operação Calvário, o ex-governador Ricardo Coutinho (19/12/2019) foi preso no Aeroporto de Natal (RN), ao desembarcar de uma viagem, vindo da Europa. Após Audiência de Custódia, o enviaram para o presídio de Segurança Média de Mangabeira. Dois meses depois, 18/02/2020, o STJ acatou habeas corpus, e o pôs em liberdade, com uma série de restrições. A mais grave, foi o bloqueio das contas, bens móveis e imóveis.
Não há registro de visitas ao Presídio de Mangabeira de seus “fiéis” liderados, todos já acomodados no governo João Azevedo. A estratégia era afastá-lo, para evitar “contaminação”. Ricardo tornara-se “leproso” dos tempos bíblicos. A mesma mídia que o deificava, aos poucos foi marginalizando-o, e puseram-no no freezer. Após deixar o presídio, Portais de Notícias, Rádio e TV não o procuraram. Como sobreviver com todas as contas bloqueadas? Pagar condomínio, pensão alimentícia, abastecer automóvel, viajar pelo Estado… E por onde andavam seus amigos? Escudeiros que se propunham a protegê-lo com seu próprio corpo, para evitar que uma bala não o atingisse?
Liso, passando por dificuldades financeiras, sem nenhum prestígio junto ao governo que elegeu, Ricardo começou a claudicar. Fazendo das tripas coração, em 2020 foi candidato a prefeito da Capital. Mostrou um completo retrospecto de tudo que havia realizado pela cidade, que o elegeu e reelegeu. Mas, faltou dinheiro para mobilizar as lideranças dos bairros. Não chegou sequer ao segundo turno. Ironicamente, um “Lázaro” (Cícero Lucena) que ele havia sepultado politicamente, ressuscitou e venceu o pleito.
Ricardo perdeu o PSB para o deputado que a duras penas elegeu em 2018 (Gervásio Maia). Tomaram-lhes o PT, mesmo mostrando sua força política nas eleições de 2022, obtendo 21,55% dos votos válidos (431.857) atrás de Pollyanna (22,84%), cerca de 20 mil votos. Na sua declaração de bens, Coutinho apresentou um patrimônio de 3,2 milhões de reais. Mas, bloqueados e indisponíveis.
Pollyanna, sua cria política, voltou-se contra seu criador. Com todo o empenho do governador João Azevedo e o alcance da poderosa “máquina do Estado”, Pollyanna sabia que perderia a eleição. Mas, conseguiria cumprir sua tarefa: derrotar Ricardo. Por que?
Para fechar o ciclo de infortúnio, restava Lula. Até agora não o chamou para agradecer sua visita, no seu pior e mais difícil momento da vida. Ricardo não foi convidado para ocupar nenhum cargo, por mais inexpressivo que seja, no segundo ou terceiro escalão, ou numa diretoria de uma das mais de duzentas Estatais.