Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

CRISE ENTRE CÂMARA E SENADO É FACTÓIDE

Publicado em 29 de março de 2023

A mídia nacional dedicou todo seu espaço nos últimos cinco dias à tarefa de “oxigenar” as chamas de uma “crise” no Congresso, sobre demarcação de direitos, poderes e deveres das duas Casas. Mais um factoide. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco “fingem” brigar pelo controle – através da proporcionalidade – na formação das comissões mistas.

A Constituição não impõe. Admite a criação de Comissões Mistas como medida para acelerar projetos prioritários, facilitando a tramitação até o Plenário, onde podem ser totalmente modificados, através de emendas e destaques, e obstruída de votação.

A dúvida reinante é se a “historíola” é invencionice da própria mídia, ou do Palácio do Planalto, para aliviar a pressão sobre o presidente Lula, acuado pelos tropeços nos cem primeiros dias de gestão. O imbróglio paralisou as atividades do Congresso. Um fôlego para Lira e Pacheco, na esperança que o “fato novo” leve o povo a esquecer temporariamente a temerosa CPMI dos Atos do dia 08.01.2023.

Só está garantida a CPI do MST, imposição que Lira não pode fugir e deu sinal verde ontem (20.03.2023), para instalação imediata, com objetivo de barrar o movimento “Abril Vermelho”. Investida do MST, com invasões de terras em todo o país, no dia 01.04.2023. Exigência da bancada Agropecuária, com 300 deputados federais.

Ideologias já são temas superados, e quem as defender não sobreviverá no mundo político de Brasília. O parlamento, ao fortalecer-se, se transformou numa savana, habitada por ferozes “animais políticos” – semelhantes a felinos – diuturnamente em caça. O que os une e os separa, é o modus operandi alicerçado na “palavra”, cuja exigência é ser honrada, e seus compromissos cumpridos. Malandragem não cola mais.

O presidente Lula – Doutor Honoris Causa – com aprendizado no manhoso meio sindicalista, tentou aplicar golpe de esperteza, engendrando “artifício” após ter negociado a PEC do “Fura Teto” com o Congresso, que acreditou na sua palavra e cumpriu o prometido. Por trás – com um soco abaixo da linha de cintura – usou seus aliados para “Judicializar” no STF a Constitucionalidade da Emenda do Relator.

A intenção era fazer todos de “trouxa”, e “abocanhar” 230 bilhões de reais, engordando seu Orçamento. Lira e Pacheco foram “nocauteados”. Todavia, sinalizaram revanche. Criaram a crise, e a exigência é o acerto do “racha” não cumprido.

São 28 MP (Medidas Provisórias) que terão prazo de validade até o final de Abril. Arthur Lira esteve ontem (28/03/2023) com Lula pela manhã no Palácio da Alvorada. Almoçou na residência oficial do presidente do Senado com Rodrigo Pacheco, que à noite permaneceu reunido com Lula e seus ministros palacianos, durante três horas no Planalto. Tudo que prometem ao presidente, é trazê-lo de volta aos holofotes, como figura mediadora da crise “fabricada”, para recuperar os efeitos negativos do seu destempero emocional, no episódio que envolveu o Senador Sérgio Moro.

A corda está esticada. Mas, não será partida ou torada. O Congresso quer – e vai arrebatar – os 230 bilhões do “Fura Teto”. No final da noite (ontem), Lira admitiu encaminhar apenas três MPs para as comissões analisarem e votarem em Plenária: a do Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, e a que cria os 15 novos Ministérios. As demais, serão apreciadas após resolverem o problema (?) das Comissões Mistas.

O grave é que as 25 restantes são promessas de campanha, para alavancar a imagem de Lula. Como já reconheceu o presidente, quanto mais tempo passar, custará mais caro. Em meio a toda balbúrdia, ainda tem a chegada de Bolsonaro amanhã (30/03/2023) fato que mobilizará a nação. Mais um prego no sapato de Lula.