COVID-19 leva para o túmulo ícone do mais autêntico jornalismo paraibano
Publicado em 8 de julho de 2022A Paraíba acaba de perder, para a COVID-19, um dos últimos valorosos profissionais de imprensa do Estado, espécime rara realmente em extinção hoje nas redações paraibanas: João Manoel de Carvalho.
Ele morreu no início da tarde desta sexta-feira (08) no Hospital da Unimed, aos 87 anos de idade. Fundador do jornal ‘Contraponto’, sofria do Mal de Alzheimer e contraiu COVID-19, agravando o seu estado clínico. Por causa da infecção pelo novo coronavírus, permaneceu internado por cerca de um mês.
João Manoel de Carvalho nasceu em João Pessoa, estudou no Lyceu Paraibano e depois foi aprovado para o curso de Direito na UFPB, cursando na Faculdade de Direito na Praça João Pessoa. A convite de José Souto, passou a escrever no jornal O Norte em 1957, na editoria geral. Depois, passou à cobertura política da Assembleia Legislativa no tempo de José Fernandes de Lima, Pedro Gondim e Osmar de Aquino.
– “Escrever no jornal é uma forma de realização pessoal. Além de dizer o que quer, isso lhe projeta, afaga muito o ego, apesar de o salário de jornalista ser indigno”, disse ele numa entrevista para Ademilson José na TV Câmara, onde contou que passou de redator a colunista de jornal. João foi, ainda, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba.
Ao ser perguntado como era ser empresário da comunicação, ele respondeu: “Empresário eu nunca fui e jamais seria. Eu não entro em nada para ganhar dinheiro. Eu entro por amor e pelo idealismo. Isso não é autoelogio, mas meu temperamento e minha vida têm sido assim”. Mas, de fato, no fim da década de 70, ele foi sócio do Correio da Paraíba.
Além de jornalista, João Manoel foi durante muitos anos fiscal do Instituto do Açúcar e do Álcool, um órgão federal. Depois que saiu do Instituto, extinto em 1990, advogou para os funcionários numa ação que equiparou os salários dos fiscais do órgão aos de auditor da Receita Federal.
O corpo do jornalista deve ser cremado neste sábado, em João Pessoa.
Ao anunciar o fechamento do seu semanário (Contraponto), anos atrás, ele explicou que a decisão se embasava “em razão da incontida elevação dos custos de manutenção, que terminaram por inviabilizar a sua sobrevivência”.
Na nota de capa divulgada no Semanário, ele argumentou que “foram dezesseis anos de lutas e sacrifícios, em que o seu proprietário foi levado a custear as despesas do jornal de seu próprio bolso”.
E acrescentava: “Tudo foi feito com o propósito de oferecer à sociedade paraibana um instrumento de defesa contra essa onda devastadora que está assolando o País e destroçando os mais caros valores democráticos, políticos, econômicos e sociais da Nação”.
NOTA DE PESAR
Em nota, abaixo transcrita, a Federação Nacional dos Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba, lamentam a partida do associado:
FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS
SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO ESTADO DA PARAÍBA
NOTA DE PESAR
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba expressa sua tristeza e manifesta pesar pela morte de seu ex-dirigente João Manoel de Carvalho, que nos deixou nesta sexta-feira, 8, em decorrência de complicações da Covid-19. João Manoel estava internado fazia mais de um mês em um hospital particular da capital e seu corpo será cremado neste sábado, 9.
Defensor intransigente da democracia e da justiça social, João Manoel de Carvalho foi mais do que um grande e admirado jornalista. Foi voz ativa na defesa dos direitos humanos, da liberdade de expressão e um homem correto, honesto e de conduta exemplar na profissão e na vida particular.
Neste momento de perda, o Sindicato se irmana aos companheiros de batente e também à família, amigos e admiradores do trabalho exemplar de João Manoel de Carvalho. Registramos nossa solidariedade pela partida de um ser humano ímpar e um jornalista que muito orgulhava a toda a categoria.
Fonte: Da Redação